Promessa é para ser esquecida na outra esquina, quebrada como xícara escapando da mão, jogada fora no lixo da memória. O ano termina e repito a de ver os indicados ao Oscar. Meses depois, tenho medo da conta chegar cara, a dívida com a consciência é grande.
O ritual se repete a cada 12 meses. Começam a pipocar os favoritos e vou anotando em papeis espalhados pela sala, colados na escrivaninha, perdidos pelo escritório. Quero ter opinião própria e discordar dos especialistas com conhecimento de causa. Não vou me conformar com um ¿não sou capaz de opinar¿ de quem se diz especialista na TV.
Nem ligo muito para essas categorias mais técnicas, como edição [nota do editor – “é montagem viu!”], som, maquiagem e todas as outras que dão início à sonolenta cerimônia da tal Academia. Quero poder afirmar com veemência sobre quem mereceu as premiações de melhor atriz, ator, direção, filme e coadjuvantes.
– Olha, assista que não vai se arrepender. A fulana teve uma atuação de arrepiar e mereceu mesmo o prêmio. As concorrentes até que eram boas, mas não chegaram aos pés dela.
– Mas, você viu todos os indicados?
– Vi sim. Sei bem do que estou falando.
– Hmm…
É para ter meus momentos de crítico para uma plateia imaginária que prometo e não cumpro. A rotina de trabalho, estudos e vida social joga a lista de filmes para assistir antes do Oscar para o fim da lista de coisas para fazer durante a semana.
Então, aumento a dependência por os críticos, às vezes tão chatos e pedantes, falando de aspectos que nem sempre entendo, cinéfilo leigo que sou. Mas os ouço e levo em consideração antes de gastar meus solitários trocados com pipoca murcha em poltronas surradas.
Chega a semana do tapete vermelho pisado pelas celebridades e noto que não vi uns dez ou quinze indicados à premiação. Nem se eu me dedicasse exclusivamente a isso teria tempo ¿ e paciência ¿ para cumprir a promessa uma única vez na vida.
Fico um pouco chateado comigo, nunca faço nada direito, sequer sou capaz de passar a madrugada vendo toda a premiação sem poder me livrar dos comentários dos especialistas na transmissão da TV, mesmo que eles não sejam tão especialistas ou capazes de comentar quanto o anúncio nos intervalos comerciais apregoam.
Entre uma cochilada aqui e uma zapeada ali, surpresas, emoção ¿ vez ou outra fingida, desconfio ¿ e as análises pormenorizadas, bem como os comentários ¿ esses quase nunca especializados ¿ nas redes sociais.
Fico curioso e vou atrás de assistir aos vencedores, já contaminado pelos sorrisos e discursos. Todos os comentários ecoam na minha mente na hora da exibição de cada um dos filmes. Ano que vem vou assistir a todos os filmes antes do Oscar. Sem falta. Eu prometo.