Especial de Halloween mostra que não é só a última vítima dos filmes de terror que se dão bem no cinema.

Cinema sem Y – Top 10 Filmes Dirigidos por Mulheres


“São as mulheres que amam o horror. Tripudiam sobre ele. Alimentam-se dele. São nutridas por ele. Estremecem, encolhem-se e gritam – e voltam para mais” – Bela Lugosi

[dropcap]N[/dropcap]o cinema de gênero, o sexismo da indústria encontra-se presente de forma ainda mais forte. Se há homens que ainda consideram ficção científica, fantasia e terror como não sendo “coisa de menina”, imagine o quanto é difícil para cineastas se estabelecerem nesses gêneros.

Para diversificar a lista de filmes ideais para o Halloween, portanto, a Cinema com Y traz dez filmes de terror – seja psicológico, com criaturas sobrenaturais, vampiros, canibais ou cheios de sangue – que mostram o talento feminino dentro do gênero.

São títulos marcantes, muito diferentes entre si, demonstrando todos os diferentes tipos de narrativa que o horror pode proporcionar – e o que as mulheres podem fazer com essas histórias. Como personagens de filmes de horror, as mulheres também batalharam bastante para conseguir personagens complexas. A ideia da final girl, a sobrevivente final que conta a história, é uma ferramenta clássica do gênero, mas as mulheres que conseguiam sair com vida costumavam ser aquelas que correspondiam aos ideais da feminilidade e da modéstia: as mais virginais, as mais boazinhas, as que menos incomodavam. Aos poucos, as personagens foram se tornando mais diversificadas, mais humanas – e a presença de mulheres atrás das câmeras, contando suas histórias, é essencial para isso.

Os filmes estão listados por ano de lançamento, começando das obras mais antigas para as mais recentes. Então, bom terror!

O Mundo Odeia-me (Estados Unidos, 1953)
Escrito por Ida Lupino e Collier Young, dirigido por Ida Lupino

Top 10 Filmes de Terror Dirigidos por Mulheres

Inglesa naturalizada norte-americana, Ida Lupino foi uma pioneira entre as mulheres cineastas, e dirigiu e co-escreveu este que é o primeiro filme noir realizado por uma mulher. Em O Mundo Odeia-me de um assassino que fugiu da prisão e pega carona com dois homens, colocando-os sob a mira de seu revólver e prometendo matá-los quando chegar a seu destino. Horror psicológico e ansiedade permeiam a obra.

Produzido pelo pequeno estúdio The Filmakers, este filme é um dos sete filmes noir produzidos fora dos grandes estúdios que foi escolhido pelo National Film Registry, órgão do United States National Film Preservation Board, para ser preservado na Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.

Quando Chega a Escuridão (Estados Unidos, 1987)
Escrito por Kathryn Bigelow e Eric Red, dirigido por Kathryn Bigelow

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Dirigido por Kathryn Bigelow, única mulher a vencer o Oscar de Melhor Direção até hoje e que também assina o roteiro ao lado de Eric Red, Quando Chega a Escuridão . Lançado durante o revival dos filmes de vampiros no final dos anos 80, o longa acompanha o filho de um fazendeiro do Meio-Oeste dos Estados Unidos e seu encontro com um grupo de vampiros nômades.

A maior parte do público conheceu Bigelow com o aclamado Guerra ao Terror, que lhe rendeu a já mencionada estatueta em 2009, mas Quando Chega a Escuridão conquistou um pequeno grupo de fãs, tornando-o cult. O longa nasceu do desejo de Bigelow de fazer um faroeste fugindo dos padrões convencionais do gênero. Macabro e cru, a obra apresenta uma visão mais realista das criaturas da noite, retratando-os mais como viciados em busca de mais uma dose do que como seres sobrenaturais.

O Cemitério Maldito (Estados Unidos, 1989)
Dirigido por Mary Lambert, escrito por Stephen King

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Com roteiro do próprio Stephen King, “O Cemitério Maldito” pode não ser nenhum O Iluminado (de Stanley Kubrick) ou Carrie (de Brian De Palma), mas ainda é uma das melhores adaptações para o cinema do autor. A história de uma família que descobre a maldição de um antigo cemitério para animais após a morte de seu gato de estimação continua tensa e assustadora, e Lambert captura com excelência o tom do livro original.

Organ (Japão, 1996)
Escrito e dirigido por Kei Fujiwara

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Conhecida por seus filmes surreais, experimentais e violentos, a japonesa Kei Fujiwara também estrela em Organ como uma das integrantes de uma dupla de ladrões de órgãos que removem as “peças necessárias” de suas vítimas enquanto elas ainda estão vivas.

Este é mais um título do horror que discute até que ponto o corpo humano pode chegar ou o que somos capazes de aguentar. Um festival de violência, o filme pode ser de difícil digestão, ou atrair os fãs mais ardorosos de sangue e gore.

Psicopata Americano (Estados Unidos, 2000)
Escrito por Mary Harron e Guinevere Turner, dirigido por Mary Harron

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O livro de Bret Easton Ellis acompanha um homem privilegiado que mata mulheres, lidando com temas como a hiper-masculinidade – e quem melhor para falar disso do que mulheres? A adaptação de Mary Harron (que também dirige o longa) e Guinereve Turner é uma desconstrução do filme de serial killer, e o roteiro das duas foi o escolhido para ser filmado entre três opções – incluindo um escrito pelo próprio autor do livro.

A escassez de sangue ressalta a violência em momentos-chave, dando espaço também para as discussões da obra brilharem – como a vaidade dos homens que tem tudo, aqui filmadas em uma reversão do tradicional male gaze. Além de tudo, o longa ainda traz uma performance fenomenal de Christian Bale.

Trouble Every Day (França/Alemanha/Japão, 2001)
Escrito por Claire Denis e Jean-Pol Fargeau, dirigido por Claire Denis

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Uma das diretoras mais importantes da atualidade, a francesa Claire Denis apresenta, em Trouble Every Day, uma dupla de canibais (Béatrice Dalle e Vincent Gallo). Repleta de sangue, a obra discute temas como desejo e obsessão, além dos mais profundos e selvagens instintos presentes no ser humano – aos quais seus personagens se entregam completamente.

Trouble Every Day faz parte do Novo Extremismo Francês, termo utilizado pelo crítico James Quandt para se referir a filmes transgressivos realizados por diretores franceses na virada do século XXI – obras a que o crítico Tim Palmer se refere como sendo “o cinema do corpo”.

In My Skin (Dans ma Peau) (França, 2002)
Escrito e dirigido por Marina de Van

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A francesa Marina de Van estrela neste perturbador longa escrito e dirigido por ela. Ela vive Esther, uma profissional de relações públicas que tem uma vida perfeita: o relacionamento com o namorado está cada vez mais sério e um cliente em potencial garantirá uma promoção no trabalho. Até que, em uma festa, ela fere gravemente sua perna e, então, toma a decisão de não tomar providência nenhuma para que a ferida sare de forma adequada. Enquanto sua perna e, logo, outras partes de seu corpo começam a desenvolver cicatrizes e outras deformações, Esther torna-se cada vez mais facinada pelo próprio corpo.

Em um cinema que trata a perfeição física como sendo representativa do caráter de seus personagens (note a verruga típica das bruxas malvadas), de Van desconstrói essa noção ao mergulhar a fundo na imperfeição crescente do corpo da protagonista, fazendo um estudo também do corpo como prisão, e da separação entre corpo e mente.

Garota Infernal (Estados Unidos, 2009)
Escrito por Diablo Cody, escrito por Karyn Kusama

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De um lado, uma diretora interessada em demonstrar a força e a coragem de suas protagonistas através da força física; do outro, uma roteirista buscando criar personagens femininas diversificadas, complexas e complicadas. Karyn Kusama e Diablo Cody trabalharam juntas em Garota Infernal para desconstruir o arquétipo da “mulher amedrontada” dos filmes de terror, assustada e dominada pelos próprios poderes. Cody declarou: “Eu quero escrever papéis que sirvam às mulheres. Eu quero contar histórias de uma perspectiva feminina. Eu quero criar bons papéis para atrizes em que elas não sejam apenas acessórios para os homens”.

Além disso, o longa ainda coloca os homens no papel de vítima – eles tornam-se presa fácil para a demoníaca Megan Fox que, quando confrontada pela melhor amiga, que anuncia, chocada: “Você está matando pessoas!”, responde: “Não – eu estou matando garotos”. As realizadoras acertam, também, ao colocar o relacionamento entre as duas protagonistas no centro da trama, tornando este um filme sobre uma profunda amizade entre duas garotas – com sangue e matança em volta.

American Mary (Canadá, 2012)
Escrito e dirigido por Jen Soska e Sylvia Soska

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Este é o segundo longa-metragem das gêmeas canadenses Jen e Sylvia Soska, que chamaram a atenção da cena independente de horror com Dead Hooker in a Trunk, de 2009. Em American Mary, um dos filmes mais cultuados do gênero nos últimos anos, Katharine Isabelle (estrela do também cult Ginger Snaps, de 2000) vive uma estudante de medicina que tem potencial para se tornar uma ótima cirurgiã – não fosse sua conta bancária praticamente zerada. Para pagar as dívidas, Mary se envolve com cirurgias de modificação corporal cada vez mais bizarras.

A introversão e os sorrisos falsos e calculados de Mary, que conforme vai se especializando em sua “nova área” vai mergulhando também na escuridão de sua própria mente, fazem da protagonista uma das melhores personagens femininas do horror recente, uma anti-heroína que ainda assim consegue conquistar a simpatia do espectador. Para Isabelle, “é muito raro ver uma personagem feminina na telona que não é um dos principais arquétipos da mulher no cinema. Ela é tão inteligente, interessante, bizarra, cruel e amável”.

Carrie (Estados Unidos, 2013)
Dirigido por Kimberly Peirce, escrito por Lawrence D. Cohen e Roberto Aguirre-Sacasa

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Mais conhecida pelo belo Meninos Não Choram, Kimberly Peirce deixa seu talento para lidar de forma sensível com situações assustadoras que falam mais alto nesta nova adaptação do clássico livro de Stephen King, eternizado no cinema com a versão de Brian De Palma protagonizada por Sissy Spacek.

Lidando com temas típicos da vida de qualquer adolescente como o amadurecimento sexual e o descobrimento da sexualidade, é interesse ver Carrie sob o comando de uma mulher. Há pouco sangue e a tensão é leve nesta adaptação, mas as boas performances de Chloë Grace Moretz – que, mesmo assim, jamais consegue transmitir a estranheza e a alienação de Spacek – e de Julianne Moore fazem deste um filme que vale a pena ser visto.

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