Escrito e dirigido pelo mexicano Fernando Eimbcke, Club Sandwich é uma produção minimalista que gira em torno da relação mãe/filho de Héctor (Lucio Giménez Cacho) e Paloma (María Renée Prudencio) durante sua estadia em um hotel em baixa temporada. Usando um tempo extraordinariamente longo para estabelecer essa relação, a terceira personagem relevante da história, a jovem Jazmín (Danae Reynaud), só aparece quase lá pela metade da projeção.
No entanto, todo esse tempo é muito bem gasto em uma mensagem visual que não tem pressa de se estabelecer, mas que vai se tornando cada vez mais presente e intensa. Como que escalando o complexo de Édipo um passo de cada vez, aos poucos percebemos como Héctor é um garoto não simplesmente mimado, mas emoldurado de acordo com regras simples e sensatas de sua mãe que revelam sutilmente o controle que esta exerce sobre ele. Héctor se comporta como um deus disciplinado, mas ainda assim, um deus. Seu peso um pouco acima, seus movimentos lentos e sua feição sempre despreocupada com a vida ajuda a determinar sua posição hierárquica naquela família de duas pessoas, e ainda que ambos estejam de fato aproveitando o descanso diário, isso só acontece com Paloma – como descobrimos depois – porque o hotel está praticamente vazio. Com a chegada de Jazmín nesse cenário a posição privilegiada da mãe controladora de um ambiente sem “influências” muda completamente.
É curioso lembrar que Jazmín, assim como Héctor, possui os mesmos trejeitos. Em determinados momentos de reflexão há um exagero que pode-se traduzir como uma forma de criticar o paternalismo super-protetor que inverte posições e destrói pais e mães tão dedicados a dar uma vida para seus filhos que acabam perdendo a sua própria. Viram reflexo dos seus atos. Isso pode-se notar em uma das primeiras cenas dos dois juntos à beira da piscina, onde o diretor de forma esquemática coloca seus perfis dispostos de forma a representar gerações unidas no mesmo “projeto”: isolatrar o ser humano que foi concebido através do seu ventre.
Tudo isso vai sendo mostrado em Club Sandwich de maneira muito contemplativa, mas o mais fascinante são os momentos onde o que não é visto se torna ambíguo e acaba sugerindo o que nossas mentes tentam completar. É dessa forma que o pesadelo da mãe de Héctor até antes dele se virar para ela parecia um reflexo do próprio ato masturbatório do filho (ou um incentivo). E a masturbação aqui desempenha um papel não apenas narrativo, como simbólico. É através do significativo movimento das mãos de Jazmín para baixo que nos surpreendemos pelo mesmo movimento feito em determinado momento por Paloma. Isso só para exemplificar as inúmeras vezes que o filme constrói nossa imaginação pelo não visto se beneficiando de quadros que demoram a mudar.
Porém, não apenas detalhes sutis formam o mosaico de sentimentos e simbolismos nesse ritual de amadurecimento dessas duas pessoas. Se formos considerar relações mais óbvias como a dualidade entre o ventilador e o ar condicionado (Jazmín não pode usar o último, e isso vira a primeira informação que Paloma tem dela) ou a piscina e a praia, veremos que os diálogos é o que menos importa na maioria da história. É no visual que está o segredo para entender a linguagem do filme. Exceto, é claro, no momento impecável em que dois jovens e uma mãe bêbada participam de um jogo nada inocente de cartas. Nesse momento o diálogo é importante, mas continuam sendo as expressões do trio e seus movimentos o principal (tanto que não vemos nenhuma carta sequer).
E é com esse jogo de ritmo definido e aprendido por nós que Club Sandwich consegue impressionar sem precisar se polêmico e fazer refletir sem fórmulas mirabolantes ou ousadas. Basta a construção de um motivo e o emprego correto dos seus personagens que qualquer tema consegue ser levado adiante pela arte do audiovisual.
“Club Sandwich” (Mx, 2013) escrito e dirigido por Fernando Eimbcke, com Lucio Giménez Cacho, Carolina Politi, Maria Penée Prudencio e Danae Reynaud