É difícil entender o que é verdade em Coisas Verdadeiras. Quase como um labirinto de sensações e vontades que deturpam aquilo que pode ou não ser essa verdade. Um real que não quer ser desvendado, mas sim sentido.
O filme é baseado na obra de Deborah Kay Davies e é uma experiência pela mente dessa mulher, Kate, no filme, vivida por Ruth Wilson. É lógico que ela está no mundo real, com outras pessoas, trabalho, família e uma vontade enorme de entender porque ela não se encaixa nesse lugar, mas ela também está em um outro lugar. Um lugar dela.
A direção de Harry Wootliff busca esse mistério, se coloca grudada na protagonista enquanto ela vê em um novo amor a possibilidade de se livrar de tudo aquilo. Um “novo amor” ou paixão, aventura ou até apenas prazer. A figura misteriosa que surge em sua vida é “Blond” (Tom Burke), aparentemente um cara qualquer que saiu da cadeia e segue pela vida como se ela não tivesse limite de velocidade.
Kate entra nessa aventura como um vício. Vê sua vida desmoronar ao seu redor enquanto ela volta a sentir. Quase como uma incapacidade de ter as duas coisas ao mesmo tempo: ou ela é feliz, ou é sã.
Wootliff está em busca dessa experiência, não de entender a sua personagem, mas sim de caminhar com ela sem preconceitos ou julgamentos. Kate é quem ela quer ser enquanto a diretora aponta sua câmera para ela. Uma procura pelo prazer no imperfeito e no misterioso, naquilo que não é o que todos esperam que seja. Para ela, a ansiedade de estar fazendo algo proibido e excitante é a droga que a move, e isso se torna um vício.
Coisas Verdadeiras é então uma grande história de amor, e como todas elas, existe sempre algum detalhe que vai destruir tudo. Nesse caso, é justamente essa verdade. Não existe preocupação do filme de provar o quanto isso tudo é real ou não, o quanto o produto desse amor é ou não uma fantasia. Não importa se Blond é a projeção daquilo que ela precisa para encontrar a felicidade. Muito menos ela pode se tornar a fantasia de alguém.
Nada disso interessa. O importante é seguir com a personagem enquanto ela toma suas decisões e tenta encontrar a si mesma. A delicadeza de Coisas Verdadeiras é permanecer firme com Kate até ela estar sozinha na sua pista de dança. Suficiente. Ela mesma.
Ruth Wilson se entrega completamente à personagem e Wootliff tira dela cada sensação, cada dúvida e cada dor. Tudo isso para o espectador conseguir sentir com ela a felicidade de cada momento de alegria e possibilidade de um final feliz em uma história de amor com ela mesma.
Pode ser complicado entender o que é verdade em Coisas Verdadeiras, mas é fácil sentir tudo do filme junto com a mais pura verdade.
“True Things” (UK, 2021); escrito por Molly Davies e Harry Wootliff, a partir do livro de Deborah Kay Davies; dirigido por Harry Wootliff; com Ruth Wilson, Tom Burke, Hayley Squires, Elizaberth Rider e Frank McCuster