É impossível ver Com Amor, Van Gogh e não ficar impressionado. E quando no começo dele é apontada a participação de 100 artistas ¿envolvidos¿ ainda nem de perto isso mostra o ¿tamanho da encrenca¿.
E a definição única deve ser essa mesmo, ¿encrenca¿, já que a animação meio britânica, meio polonesa parte de uma ideia que dá dor de cabeça só de pensar. Com Amor, Van Gogh é inteiro pintado em óleo. Pior ainda (ou melhor), com todos 65 mil frames feitos em telas usando as técnicas de Van Gogh , tudo isso ¿animado¿ (na verdade foram 835 ¿quadros¿ pintados).
Para entender melhor o cenário geral, o filme escrito e dirigido por Dorota Kobiela e Hugh Welchman conta a história do filho de um carteiro que parte em uma viagem em busca da família do pintor holandês para lhes entregar a última carta do artista antes de sua morte. Em meio a isso, ele acaba descobrindo um pequeno mistério que envolve o aparente suicídio de Van Gogh.
Na verdade, Kobiel e Welchman criam um emaranhado de referências que passeiam pelos principais quadros e personagens que foram eternizados pelo prolífico pintor que trabalha em sua arte de modo quase obsessivo e parecia recriar o mundo ao seu redor através de suas obras.
É lógico que a trama, nem um pouco inventiva ou minimamente surpreendente, parece se importar muito com o real. Portanto, se apegar a ¿o que aconteceu ou não¿ é uma perca de tempo. Com Amor, Van Gogh está preocupado apenas com uma lição final e no resto do tempo com o visual. E com certeza os dois funcionam bem o suficiente para o filme valer a pena ser conferido.
Talvez a parte do visual acabe não sendo aproveitada pelo ¿público médio¿, já que os mais especialistas no pintor irão perceber não só os quadros reproduzidos na tela, como ainda ficarão maravilhados com a sensibilidade estética de cada técnica diferente que dominas as sequências. São várias pinceladas diferentes que representam todas fases do pintor, sempre nascendo de suas obras e ganhando vida diante da animação.
Mas isso é feito de modo sutil e com personalidade, o que é praticamente um retrato da carreira de Van Gogh, que provavelmente é um dos artistas mais reconhecíveis da história.
Já a lição é simples, aquela que parece ter movido Van Gogh por toda sua vida enquanto produzia sua arte mesmo diante da insegurança da falta de reconhecimento.
E assim como o próprio, Com Amor, Van Gogh talvez não seja tão ¿reconhecido¿ nesse primeiro momento, mas com certeza será para sempre lembrado quando alguém pensar em fazer qualquer tipo de animação, até porque, muito provavelmente ninguém mais irá tentar se meter em uma ¿encrenca¿ tão complexa quanto esses 100 artistas se meteram.
¿Loving Vincent¿ (RU, Pol, 2017), escrito e dirigido por Dorota Kobiela e Hugh Welchman, com Douglas Booth, Josh Burdutt, Holly Earl, Chris O´Dowd, John Sessions, Aidan Turner, Saoirse Ronan, Bill Thomas e Jerome Flynn.