Como Se Tornar o Pior Aluno do Mundo tinha tudo para se tornar um desastre. Desde a necessidade por polêmica com que Danilo Gentili vem sempre agregado, seja pela falta de experiência do diretor Fabrício Bittar ou por qualquer outra coisa que te afaste do cinema. Mas como eu estava dizendo, podia ser um desastre, mas não é.
Por outro lado, ele não ser um desastre também não quer dizer que ele seja um acerto. Ele fica ali em algum lugar no meio disso tudo. Deixa a desejar em certos pontos, erra feio em outros, mas pelo menos consegue ser simpático em alguns outros.
Escrito por Gentili e pelo diretor Bittar à partir de um livro do comediante, a pouca trama que tem mostra um garoto (Daniel Pimentel) que sempre foi um daqueles alunos exemplares na escola, até que a morte do pai (e não ida para a Disney… o que quer que seja o mais importante) desperta nele uma falta de interesse nos estudos, o que o leva a encontrar um livro velho no banheiro que apresenta diversas técnicas de como se tornar o pior aluno da escola.
Entre essas técnicas está a de colar, o que o leva a procurar o autor do livro, já que ele precisa tirar nota dez em uma prova, mas pretende não estudar para isso. Seu caminho e o de seu melhor amigo (Bruno Munhoz) cruzam então com o personagem de Danilo Gentili, ex-aluno da escola e que resolve ensinar a dupla a se tornarem os tais piores alunos do título.
A história simples e direta logo de cara ainda combina com um clima ágil e uma direção que consegue usar toda e qualquer possibilidade para criar uma estética moderna e interessante. Slow Motion, planos sem corte e acelerados, intervenções visuais que rabiscam e zoam a tela, tudo convida o espectador a um começo interessante. Mas só isso mesmo.
Em pouco tempo o filme se torna um desfile de atuações ruins e piadas pouco inspiradas (e grotescas). Joana Fomm, mesmo em toda sua experiência parece amadora e despreparada para estar em frente àquela câmera. A falta de interesse continua com a dupla de garotos protagonistas, esses sim dando toda pinta de serem amadores na mão de um diretor que não consegue extrair nada deles.
Curiosamente, no papel do diretor do colégio que quer acabar com o bullying, Carlos “Kiko” Villagrán se esforça no papel, mas como ninguém entende o que fala, pouco importa o trabalho que está fazendo.
Por outro lado, Gentili consegue entender seu personagem e funciona como o “playboy” que cresce através do título de pior aluno do mundo, mas o destaque do elenco fica mesmo com o desbocado e pouco (ou nada) politicamente correto zelado vivido por Moacyr Franco, que rouba a cena cada vez que surge xingando ou resmugando.
Mas o grande problema do filme está em não conseguir entender onde tem que chegar e acabar pegando uma série muito grande de atalhos preguiçosos. Suas piadas acabam indo quase para o mau gosto, se repetem enquanto tentam humilhar o personagem gordinho e esquecem de pegar o caminho mais complicado e corajoso, que seria o bullying com o protagonista.
É lógico que todo mundo vai dar risada com o cachorro todo vomitado e algumas outras poucas tentativas de sketch pontual, mas no resto do tempo tudo se distancia tanto da linha centrar que quando volta você não está mais interessado em nada daquilo.
Mas todas essas piadas e situações ainda assim podem trazer saudades para muita gente que passou ou provocou isso em seus anos de colégio, o que deve servir para que o espectador se identifique com aquilo e se deixe levar pelo clima. Mas se parar para tentar analisar aquilo que está consumindo, com certeza vai perceber que tudo que eu estou falando não é simplesmente bullying.
Ainda mais que nesse caso, com o bullying servindo para fortalecer o caráter, e escutar umas boas verdades talvez ajude a dupla de realizadores a crescer com mais personalidade e, quem sabe um dia, isso resulte em um filme melhor.
“Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola” (Bra, 2017), escrito por Danilo Gentili e Fabrício Bittar, dirigido por Fabrício Bittar, com Daniel Pimentel, Bruno Munhoz, Carlos Villagrán, Danilo Gentili, Moacyr Franco, Raul Gazola, Joana Fomm e Fábio Porchat.