por Vinicius Carlos Vieira em 06 de Maio de 2011
Talvez seja difícil para um público desacostumado com a idéia de entender, ao invés de ver, uma piada, sair do cinema empolgado com Como Você Sabe, ainda que, sem sombra de dúvidas, ele, por definição, pareça muito mais preocupado com a qualidade de seus espectadores do que com a quantidade.
Escrito e dirigido por James L. Brooks, o filme, só a partir disso já mostra um viés muito mais interessado em risos do que gargalhadas, já que em seu currículo (além de produtor e roteirista da série Os Simpsons, desde o início) ele carrega um Oscar por Laços de ternura, um sucesso descomunal por Melhor é Impossível e, sempre, essa impressão de nunca subestimar quem pagou pelo ingresso de um de seus filmes, que podem parecer comédias, mas, na maioria das vezes são declarações de amor a seus personagens.
Brooks e sua câmera deixam sempre a impressão dessa paixão, dessa paciência, dessa vontade de observar essas pessoas, de descobrir com elas o caminho que suas vidas tomam naquele período. Como Você Sabe não foge disso (assim como seus outros filmes), e se esconde por trás de um gênero (uma comédia sutil e deliciosa que aposta em diálogos precisos e inteligentes) para contar uma deliciosa história de amor.
Nela, Reese Whiterspoon (que também está em Água para Elefantes) é uma jogadora da seleção americana de Softball (um baseball feminino) que, ao chegar à casa dos trinta anos, acaba descobrindo que não faz mais parte do time, enquanto Paul Rudd (de Um Jantar para Idiotas) é um executivo que descobre que seu nome está sendo investigado pela Receita Federal por alguma falcatrua de sua empresa (que não faz a mínima idéia qual seja).
A grande sacada do roteiro de Brooks é olhar para essa história e não criar uma comédia romântica qualquer, onde os dois se apaixonam, brigam e, no final, correm atrás do outro para dizer “eu te amo”, mas sim, justamente, desconstruir essas certezas. Brooks dá à sua protagonista um namoro sério, com um jogador de baseball vivido por Owen Wilson (de Passe Livre), galã, simpático, engraçado e apaixonado, que faz de tudo por ela e que, simplesmente, em nenhum momento da trama faz nada a não ser tentar acertar, e esse é o cara a ser largado (se estivéssemos em uma comédia romântica comum).
Do outro lado, Rudd, é um perdedor nato, verborrágico e cheio de problemas, que, logicamente, ganha a simpatia do espectador, mas, mais que isso, parece ter todas ferramentas para ser aquele rapaz romântico, que não desiste de seu amor, mas, em momento algum, parece ter a mínima intenção de roubar aquela garota.
Tremendamente à vontade com sua história, Brooks resolve toda e qualquer possibilidade de se discutir esse ou aquele relacionamento, simplesmente, encurtando toda noção de tempo de seu espectador. Como Você Sabe tem um ritmo na medida e, em nenhum momento, deixa o público do cinema colocar em prova a duração no namoro de sua protagonista, ao mesmo tempo em que, também, tem a coragem de criar poucas razões para que o final rume para o esperado. Mesmo isso sendo inevitável.
Tal decisão não cria uma vítima inocente (já que um dos dois vai ficar sem ela), mas sim, mais alguém que faz parte dessa história, já que o mais importante é contá-la por completo, do problema dele com a justiça (e o relacionamento com seu pai, vivido extraordinariamente bem por Jack Nicholson), de sua amizade com a ex-secretária grávida, do modo como os dois (Rudd e Whiterspoon) procuram dar esse próximo passo depois de verem suas vidas desmoronarem e, no meio disso tudo, esse triângulo amoroso.
E tal unidade ficaria comprometida sem um elenco na medida, que aqui poderia até parecer não acontecer, já que Wilson nunca é a melhor das opções (de uns tempos para cá pelo menos), Rudd, cada vez mais, se deixar levar pelo estereótipo “cara certinho” e Whiterspoon não vem fazendo nada de muito interessante depois de seu Oscar, mas, mesmo assim, Brooks parece saber lidar com o potencial dos três, que acabam se mostrando esforçados e até dão razão à suas escolhas.
No final das contas, Como Você Sabe não é um filme perfeito, justamente, por não ter uma grandiosidade para onde seguir (por ser, natural e confortavelmente menor) e que, ainda assim, percebe o material que tem em mãos e aposta em ser nada senão um romance honesto e verdadeiro, feliz por ser o que é e deixando esse sentimento transbordar para quem for ao seu encontro.
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How do You Know (EUA, 2010), escrito e dirigido por James L. Brooks, com Reese Whitherspoon, Owen Wilson, Paul Rudd e Jack Nicholson
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1 Comentário. Deixe novo
O filme poderia ter seguido vários caminhos. Poderia ter investido no crime financeiro, executado por um pai que, simplesmente, coloca a culpa toda nas costas do filho. Não seguiu… (Leia o meu comentário, na íntegra, no blog pedacosdeu )