Vamos recapitular como funciona o roteiro de Confissões de uma Garota Excluída para entender o que há de errado com o mundo: ele começa com o drama particular de uma garota normal que quer se sentir especial e desejada por garotos mais lindos do que ela; então ela chega na sala de aula com a autoestima lá embaixo e carente de amizades; logo ela encontra os outros excluídos, que se juntam para fazer uma crítica social disruptiva sobre o papel dos jovens nesse milênio que se encaixam fora da caixa do que era considerado esteticamente aceitável no século passado, e por fim decidem que basta existir para ter direito à felicidade. Fofo, não?
Questões nunca vistas no cinema estão neste trabalho inovador que discute sobre bullying, pelos em mulheres, festas de aniversário com tema anos 60 (com música do ano passado) e a vovó zoando a neta a cada oportunidade. Um festival de humor misturado com cartilha social. Eu nem sei o que deve ser drama e o que é comédia. Não tenho sensibilidade suficiente para entender essa molecada que nasceu ontem. São espertos, simpáticos e possuem o super-poder da juventude, onde todo mundo é lindo e sarado (ou quase), mas as mentes estão zumbificadas, petrificadas, e quem tem conhecimentos básicos de biologia aos 16 anos que seria considerados um gênio.
No entanto, o filme pode ser chamado de bacana. A atriz que faz a protagonista, Klara Castanho, é muito carismática e dá uma volta no elenco morno e automático formado por jovenzinhos metidos a galã ou romântico clássico, patricinhas genéricas da escola metidas a populares, entre outros tipos vistos em cada espécime de comédia adolescente americana. Com o detalhe que aqui se passa em bairro nobre da cidade do Rio de Janeiro, ou seja, uma classe média que gostaria de ser americana, mas com sotaque carioca.
Klara Castanho é uma linda garota e colocam óculos e despenteiam seu cabelo porque ela não liga para isso. Paradoxalmente aceitação é o que ela mais liga no mundo, não conseguindo relacionar que aparência é a primeira coisa que as pessoas irão usar para te julgar antes de te conhecer melhor. Até um animê que assisti recentemente, para crianças, conclui este óbvio ululante. É escandaloso como as obras audiovisuais forçam a barra a todo momento no Ocidente querendo ignorar a realidade por motivos escusos.
Mas, enfim. Confissões… não é um filme ruim se você quer apenas passar uma horinha e meia paralisado no sofá, seu cérebro congelado, se distraindo com piadinhas inofensivas e historietas previsíveis. Pois é, o parágrafo sobre “questões nunca vistas no cinema” e “trabalho inovador que discute sobre bullying” obviamente é uma observação sarcástica sobre um conteúdo requentado. Se você não percebeu isso, tenho boas notícias para você: vai adorar este filme. Melhor ainda ele deve figurar entre os melhores infanto-juvenis do ano para você. Sorte de quem tiver essa oportunidade.
O diretor Bruno Garotti continua tropeçando em conteúdo “semi-ótimo”, embora sua estreia em longas, Eu Fico Loko, tenha sido um trabalho notável. Porém, são “novos tempos”, e para piorar ele está munido de um trio de roteiristas engajadas: Flávia Lins, Christiana Oliveira e Thalita Rebouças, que unem diferentes temas como quem faz colagem escolar para trabalhos do primário. Funciona para espectadores de TV. Querer cobrar por um ingresso no cinema é forçar a Barra da Tijuca demais.
“Confissões de uma Garota Excluída” (Bra, 2021), escrito por Christiana Oliveira e Thalita Rebouças e Flávia Lins e Silva; dirigido por Bruno Garotti; com Marcus Bessa, Caio Cabral e Klara Castanho.