Cozinhar F*der Matar | Sem sentido, só ruim mesmo


É divertido pensar no limite que o cinema traça para não ser entendido. Buñuel cortou um olho, Godard está décadas tentando quebrar a própria linguagem, Lynch vai até o limite, mas sempre volta com um pouquinho de racionalidade. Cozinhar F*der Matar não está nesse grupo, é só ruim mesmo.

Talvez o novo filme da diretora Mira Fornay tenha até algo a dizer por baixo de toda vontade de ser hermético e chocar com imagens poderosas e situações incômodas, mas talvez também você não entenda nada, portanto, é como se nada existisse.

No filme, um motorista de ambulância tenta entrar na casa da avó de seus filhos, troca uma arma por um copo de leite e descobre que só poderá fazer isso se entregar a escritura da casa da própria mãe para sua esposa, nem que para isso seu pai tenha que lhes fazer um almoço, ou apenas matá-la com manteiga de amendoim.

Tem um cachorro morto em algum lugar, assim como um grupo de mulheres que perseguem o protagonista, mas que na verdade celebram seu renascimento como mulher. Enfim, melhor não tentar entender.

Cozinhar F*der Matar tem mais perguntas do que respostas. Obviamente tem pretensões de explorar uma crítica pouco sutil à misoginia em seu lado mais violento, mas talvez essa vontade acabe se perdendo no estético, já que não atinge o espectador em termos de narrativa. Lógico que o sufoca enquanto não desvia o olhar de certos momentos, mas isso parece tão perdido dentro da falta de explicação que é difícil entender onde se quer chegar com isso.

Esse impacto visual talvez chegue longe demais e se torne até mal gosto ao envolver uma menina com um sapo em um misto de lembrança perversa e possibilidade de mudar seu caminho vivida pelo protagonista, mas nada disso tem o impacto esperado dentro da mensagem, apenas no visual.

A cena musical curtinha não se encaixa no resto das intenções, a alegria do pai em ver a filha menos ainda, tudo se encaixando em um ciclo que passa pelas segundas oportunidades de se fazer o certo, mas nunca tentando entender as próprias necessidades de se desvendar. Quando esse ciclo é quebrado o que sobra é uma experimentação narrativa vazia, já que não finge ter a necessidade de puxar o visual e navega por símbolos que pouco fazem sentido.

Cozinhar F*der Matar dá uma volta enorme e não chega em lugar nenhum. Tem uma direção precisa e que mostra muito bem tudo que está acontecendo, mas nada está acontecendo. Quase um egoísmo, já que essa bagunça toda devia estar fazendo sentido dentro da cabeça da cineasta, mas ela parece, simplesmente, não te dar dica nenhuma e guardar o filme só para ela.

Talvez Cozinha F*der Matar seja um pesadelo do protagonista, caminhando por essas camadas de subconsciente, mas a dor de cabeça que isso dá fica apenas a cargo do espectador que tentar desvendar essa bobagem toda.


“Zaby Bez Jazyka” (CHK, 2020); escrito e dirigido por Mira Fornay; com Jazmína Cigánková, Petra Fornoyová, Jaroslav Plesl e Regina Rázlová


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