É impossível não ser pego pelo documentário De Tirar o Fôlego. Emocionante, delicado, cheio de imagens lindíssimas e momentos de aflição extremos. Mas para aproveitar todos esses momentos é preciso desviar um pouco da sensação de ser manipulado e também, no final das contas, não ligar muito de ser enganado.
Olhando assim parece mesmo que o “mas” pode estragar a experiência, não vai, pelo contrário até, vai surpreender e levar muita gente às lágrimas. Talvez isso seja suficiente para corroborar com todo “hype” que o filme fez por onde passou e ainda deve voltar a ser falado, tanto na Netflix, quanto na temporada de premiações do ano que vem.
O documentário escrito e dirigido por Laura McGann parte de uma premissa simples: acompanhar a vida de Alessia Zacchini e Stephen Keenan. Ela, uma atleta de Mergulho Livre, ele, um jovem que perambulou pelo mundo antes de descobrir sua real vocação como espécie de “segurança” desse esporte, profissionais que ficam de prontidão para qualquer tipo de problema dos atletas.
A história dos dois começa longe, mas seus destinos se cruzam enquanto a atleta tenta bater o recorde mundial da categoria. Nos primeiros minutos de filme o espectador já vai ter certeza do encontro dos dois, assim como de seu amor. O que torna tudo ainda mais trágico, já que o documentário não esconde também que é sobre algo que deu errado. Mas é nesse lugar que está a manipulação cansada e quase desonesta.
É lógico que os fãs, atletas e curiosos pelo esporte não serão enganados, esses, com certeza sentirão mais facilmente o quanto a diretora não desperdiça a oportunidade de criar um verdadeiro truque de mágico. Enquanto mostra detalhes e possibilidades de entendimento para o espectador, na verdade está rumando a história para uma solução contrária àquela que aponta para seus espectadores. Mas qualquer detalhe além disso será com certeza um spoiler e deverá contar mais detalhes do final do que a diretora gostaria.
Uma intenção que é clara, principalmente, pois a cineasta coloca na tela uma maioria esmagadora de imagens de arquivo diante das entrevistas dos personagens envolvidos no esporte e na vida do casal principal, que por razões de spoiler, não dão seus relatos antes da reviravolta final. Portanto, cada imagem colocada naquele lugar, sob a resposta de um personagem é uma tentativa mais que objetiva de rumar as impressões para o que parece ser óbvio. Talvez seja. Talvez não seja. Só vendo e entrando no clima do esforço de Laura McGann.
Mas enquanto não está se deixando ser melodramática, McGann ainda faz um filme lindo e incrivelmente educativo. A imensidão do oceano deixa seus personagens minúsculos em um cenário lindo de infinito azul. Os lugares são ainda mais bonitos e fica fácil se perder nesses verdadeiros cartões-postais do Planeta Terra. Com toda essa beleza o filme ainda consegue explicar com inteligência e tensão todo o esporte ligado à apneia, com seus perigos e maravilhas. Tudo isso cria um filme que tem cara de programa descartável de canal de esportes radicais, mas com um drama que eleva sua experiência.
Portanto, enquanto o espectador vai sendo inserido nesse clima educacional e de conhecimento, do lado de cá da tela é fácil ficar entediado. Mas cada vez que a aula é interrompida para mostrar que algo deu errado com alguém, ou alguém até morreu, é como um choque de realidade que traz o espectador de volta para o fio de trama que o filme tanto quer acompanhar. E diante de um século 21 onde absolutamente tudo é gravado e transmitido, o que não faltam são imagens para mostrar tudo isso.
É nesse lugar que De Tirar o Fôlego mais pegará o espectador. Quando o coloca ali na água, perto dessas pessoas descendo dezenas e mais dezenas de metros abaixo d´água por minutos e mais minutos sem respirar. Na beleza do esporte. No desespero das situações. No drama trágico do destino desses dois personagens. Mas que tudo é manipulado e os espectadores vão “cair quenem patinhos”, isso vão.