Não é à toa que o cinema sempre produziu quilos e quilos de filmes baseados na mitologia grega e praticamente nada a respeito da egípcia. Geralmente os ¿pais das pirâmides¿ tem histórias esquisitas, antropomórficas e exageradas demais para o espectador comum, como se na hora do vamos-ver o visual dos heróis e Deuses fosse extravagante demais. Deuses do Egito não percebe isso, e nem o quanto é estapafúrdio.
Nele, baseado na própria mitologia egípcia, ainda nos dias em que os Deuses e homens caminhavam juntos pela Terra (plana, obviamente!), Horus está prestes a ser coroado Rei do Egito, mas acaba tendo seu poder arrancado pelo tio Set, que o derrota e arranca seus olhos. Horus é polpado, mas se exila, até que um humano, Bek, rouba de volta seu olho e vai até ele pedir ajuda para destronar Set e tomar de volta o trono que lhe é de direito.
Nesse meio tempo, o espectador ainda vai trombar com um monte de Deuses, como Ra, Osíris, Isis e Toth, que por alguma razão esquisita é o único negro do filme. Isso mesmo, se não bastasse toda lambança do resto da história, ¿Deuses do Egito¿ ainda erra feio no elenco. E isso não é ¿papo chato politicamente correto¿, é simplesmente impossível não voar para fora da história enquanto vê aquele monte de gente loira passeado pelo filme.
Horus (Nicolaj Costas-Waldau, de Game of Thrones) é dinamarquês e se sairia muito melhor como algum Deus Nórdico, Set (Gerard Butler) vem das highlands da Escócia, enquanto Ra (Geoffrey Rush) é Australiano, mesmo país do herói Bek (Brenton Thwaites), que ainda esfrega na cara do espectador seus cachos loiros.
E talvez essa lambança nem seja o pior de Deuses do Egito, já que no resto do tempo, nada é muito empolgante, sua trama é muito linear, suas motivações são obvias e suas reviravoltas são anunciadas cedo demais dentro da trama. Como se do segundo em que o primeiro ato termina e Horus seja indicado a ¿começar sua jornada¿ você pudesse prever tudo aquilo que vem a seguir.
Alex Proyas, pelo menos, volta à cadeira de diretor depois de Presságio (em 2009) e encontra dinheiro suficiente para criar um Egito antigo bonitão e de encher os olhos, assim como dá conta das cenas de luta e de ação, o que pelo menos faz certos momentos do filme passarem rápido. Mas o que liga tudo isso é tão frágil que fica difícil não ter sono enquanto Horus e Bek passeiam pelo Egito procurando ajuda para acabar com Set. Principalmente graças a um roteiro episódico e morno escrito pela dupla Matt Sazama e Burk Sharpless.
É lógico que o visual bacana ajuda Deuses do Egito em certos momentos, como no reino de Anubis ou acompanhando Ra carregando o Sol ao redor da Terra Plana enquanto luta para que o dia nasça mais uma vez no Egito. Mas isso é pouco demais perto da quantidade de informação e situação que não interessa a mais ninguém.
A única impressão que fica é que Deuses do Egito é um mecanismo para emplacar um monte de lutas entre Horus e Set, Horus e umas cobras gigantes, Set e Ra e enfim Horus e Set mais uma vez. E 127 minutos de filme para só isso é um exagero maior que as pirâmides do Egito.
“Gods of Egypt” (EUA/Aus, 2016), escrito por Matt Sazama e Burk Sharpless, dirigido por Alex Proyas, com Brenton Thwaites, Nikolaj Coster-Waldau, Elodie Yung, Courtney Eaton, Gerard Butler, Chadwick Boseman e Geoffrey Rush.