[dropcap]D[/dropcap]ias Vazios repousa convenientemente no marasmo narrativo da metalinguagem e na filosofia barata de Nietzsche. Não barata no sentido de ordinária, mas no sentido de leitura adolescente sobre o vazio da vida. Aliás, é por isso que Nietzsche é pop: graças ao Super-Homem, e não aquela baboseira de que Deus está morto.
Estreante nas telonas, o diretor e roteirista Robney Bruno Almeida passa dez anos arrecadando fundos para adaptar o livro de André de Leones, Hoje Está Um Dia Morto. O livro é sobre a adolescência e seus sonhos sabotados, vivendo em um fim de mundo sem perspectiva alguma. Leones fez sucesso com seu livro e saiu da cidadezinha onde morava. Agora o filme adaptado realiza a mesma manobra ficcional ao usar Daniel como seu porta-voz.
Daniel (Arthur Avila), assim como os quatro personagens principais deste longa, é um garoto isolado. No recreio ele se mantém escrevendo seu livro na sala de aula. Ele tem asma, mas você só vai ver ele usando sua bombinha de ar uma vez, no início do filme. Até porque, depois a realidade que vive é a ficção por trás do destino de dois outros alunos, Jean (Vinícius Queiroz) e Fabiana (Nayara Tavares). Jean se matou, e Fabiana, que era sua namorada, é o mistério que Daniel deseja desvendar para finalizar seu livro.
Este é um filme pesado, que bate sempre na mesma tecla depressiva em todos os momentos. Os jovens que vemos são extremamente apáticos e aparentemente só se divertem fazendo sexo, um sexo deprimente como eles. Eles estudam em um colégio católico, o que quer dizer que além de viverem em uma cidadezinha do interior de Goiás estão cercados de figuras religiosas, vivas ou não. Isso inclui a Irmã Corina (Carla Ribas), que faz o papel da adulta malvada porque faz entrevistas com os alunos tentando se livrar da culpa de seus destinos (já que os pais, mais safos, já fugiram há muito tempo).
Todos fumam muito nesse filme, e boa parte da história gira em torno do final que Daniel dará para seu livro. Sua namorada, Alanis (Natália Dantas), está inquieta a respeito disso, sugerindo caminhos que Daniel apaticamente descarta. Ela não gosta muito da ideia de que todos morram, pois isso tiraria o significado que Daniel quer trazer para o leitor. Eu concordo com Alanis, pois matar todos os personagens é tão clichê quanto adolescentes depressivos que fumam como uma chaminé. Minha sugestão para Daniel seria de que todos poderiam morrer, mas de câncer no pulmão. Realista e irônico ao mesmo tempo.
Mas não há sequer espaço para ironia com esses personagens, que passam o tempo elucubrando o destino da tal Fabiana. Nós, espectadores, vamos acompanhando a mistura das duas histórias, Daniel/Alanis e Jean/Fabiana. Não é uma mistura em que eles se encontram, mas uma mistura desses personagens: o que gostam, suas falas, seus desejos e suas personalidades. Não há personalidade o suficiente para um Daniel e uma Alanis sobreviverem, mas ainda assim o filme decide compartilhar com Jean e Fabiana.
O resultado de Dias Vazios não é coerente, pois é mais imaginativo, mas entretém, como todo jogo de metalinguagem. O diretor Bruno Almeida captura com certa competência o marasmo da “Província de Silvana, no Centro-Oeste do Brasil” (assim Daniel nos introduz ao local da ação em seu livro). Se entendermos que estes são os delírios adolescentes de um jovem escritor fica mais palatável de assistir, mesmo que esteja claro que de tantas referências essa história não irá conseguir extrair algo além da experiência da escrita de um livro sobre a própria vida. O que esperar de adolescentes depressivos?
“Dias Vazios” (Bra, 2018), escrito e dirigido por Robney Bruno Almeida, com Arthur Avila, Natália Dantas, Vinícius Queiroz, Carla Ribas, Nayara Tavares.