*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
[dropcap]T[/dropcap]empos difíceis geram pessoas fortes; pessoas fortes geram tempos fáceis; tempos fáceis geram pessoas molengas; pessoas molengas geram tempos difíceis. Dinamarca é uma história que se passa em nossos tempos difíceis e com um de seus homens molengas, um que não fará nada a respeito de sua própria vida exceto tentar se manter sendo servido por alguém.
Contado como uma comédia que vai se tornando dramática, o roteiro por Jeff Murphy começa contando a história de Herb (Rafe Spall), um homem que perdeu seu benefício de saúde por não estar mais doente. Com inteligência limitada, Herb não se lembra qual foi a última vez que tinha um emprego. Não por acaso, ele tem um filho que não mora com ele e o ignora. A única coisa boa que aprendemos deste homem é que aparentemente ele conserta qualquer eletrodoméstico, quase como que por mágica.
A atuação de Jeff Murphy é uma melodia de uma nota só chamada melancolia; ele olha para a câmera em dois ou três momentos do filme porque seu diretor, Adrian Shergold, não tem a menor noção de como conduzir esta trama. Já o texto de Murphy vai nos levando conforme a correnteza nos diz onde deve ir. Depois de uma série de acontecimentos que não movem em nada o filme, Herb vê uma propaganda paradisíaca sobre os presídios na Dinamarca e resolve ir para lá ser preso. Devemos ficar tristes por ele? Esperançosos? Refletir sobre a incompetência de toda uma geração representada em figuras como Herb?
É aí que a comédia vai aos poucos e sem muito aviso se transformando em um drama, mas nunca nos entrega um herói. Herb é apenas como um bebê chorão e perdido, que ninguém lhe dá oportunidade porque ele próprio não se dá, além dele se esquecer do princípio básico da vida que oportunidades não são dadas, mas conquistadas. Este filme pode ser visto como a ode do sistema contra o homem comum, sendo que o triste de tudo isso é que Herb é o exemplo que temos hoje de homem comum.
Sem conseguir se desvencilhar do fato de não ter alguém por quem devamos torcer, Dinamarca permanece eternamente como um filme morno, onde as coisas vão acontecendo porque sim, e em seu terceiro ato coincidência irão acontecer porque o filme precisa acabar. É sobre aprender uma lição, mas a história se arrasta demais para aprendermos algo. Exceto que Herb é de fato bem incompetente na vida.
“Denmark” (UK, 2019), escrito por Jeff Murphy, dirigido por Adrian Shergold, com Rafe Spall, Joel Fry e Steve Speirs.