[dropcap]C[/dropcap]inebiografia redondinha, Divaldo, O Mensageiro da Paz é o mais recente exemplar da safra firme de filmes nacionais com temática espírita – pelo menos cinco filmes ao ano são lançados dentro dessa linha – procura se equilibrar entre divulgar sua doutrina e atrair, ou pelo menos, criar curiosidade para quem não são adepto.
Nesse particular, pode-se até dizer que foi bem sucedida, apesar de alguns deslizes, por apostar em uma narrativa esquemática e sem grandes inovações, mas também por ter a preferência por enfatizar um lado mais cômico das peripécias do biografado.
Divaldo é uma biografia de um dos expoentes do espiritismo, o médium baiano Divaldo Franco, que, ao lado de Chico Xavier, se tornou o maior divulgador dessa doutrina tanto no Brasil quanto no exterior.
Acompanhamos toda a vida do protagonista, desde a infância (vivido por João Bravo como criança, Guilherme Lobo como jovem e Bruno Garcia como adulto) até os dias atuais. A trama por como ele descobriu sua capacidade de contato com os espíritos, seu desenvolvimento com a orientação de Joanna de Angelis (Regiane Alves) e a criação da obra de caridade Mansão do Caminho, entre outras realizações.
Desde o início da trama, as aparições dos espíritos e as reações do protagonista e de quem o cerca a estas tem um tom de leveza e galhofa que encaixa bem, principalmente no segundo ato, onde o médium é interpretado por Guilherme Lobo. Outro destaque é a atuação segura de Bruno Garcia como o Divaldo mais velho, onde se consolidou como um missionário do espiritismo e filantropo, sem esquecer o humor, que remete a, por exemplo, O Auto da Compadecida, onde Garcia também atuou.
Mais um arco bastante interessante é o vivido pelo espírito, nunca identificado, interpretado, de forma até surpreendente, pelo comediante Marcos Veras. O personagem é mostrado como uma força maligna, aos poucos foge do maniqueísmo rasteiro e serve como demonstração da filosofia e doutrina espíritas de maneira melhor do que uma mera “pregação”, se tornando até um dos pontos mais emocionantes tanto para iniciados quanto para o público comum.
Voltando aos deslizes citados acima: principalmente no primeiro ato e começo do segundo, atrapalha demais um didatismo excessivo na apresentação dos conceitos da doutrina, que quebram o ritmo leve imprimido desde a primeira cena, além disso, as interações com a mentora Joanna, vivido com pouca inspiração por Regiane Alves, se estendem um pouco além do que seria necessário, se tornando cansativo.
Em suma, uma boa introdução ao espiritismo que também deve agradar aos não iniciados.
“Divaldo, O Mensageiro da Paz” (Bra, 2019), escrito e dirigido por Clovis Mello, com Regiane Alves, João Bravo, Guilherme Lobo, Bruno Garcia, Marcos Veras e Laila Garcia.