Depois de 13 filmes, oito anos de Marvel Studios e um esforço enorme para criar um universo cinematográfico conciso e cheio de easter eggs, não é uma surpresa que uma hora a ¿Casa das Ideias¿ escorregasse¿ infelizmente para os Distintos Concorrente que estão esperando por esse momento, ainda não foi dessa vez e Doutor Estranho é tudo aquilo que você espera da Marvel. E até um pouco mais.
O ¿pouco mais¿ vem de um visual incrível e diferente de tudo que a Marvel tinha feito até agora, um personagem arrogantemente divertido, bem humorado e inteligente em uma trama que se permite ser tudo aquilo que ela promete. Não que isso queira dizer um ¿filmão¿, mas sim a impressão de que entre os medianos, Doutor Estranho está lá no topo da lista.
Nele, logo de cara, antes mesmo de ser apresentado ao neurocirurgião Stephen Strange (Cumberbatch), você conhece o vilão Kaecillius (Mads Milkensen), em busca de um feitiço proibido. A introdução leva o espectador diretamente para uma sequência incrível, onde a realidade é modelada ao bel prazer dos envolvidos nessa luta, que transformam as ruas de Londres em uma mistura de Matrix, com A Origem e aquelas famosas escadas pintadas pelo holandês Maurits Cornelis Escher, que parecem não terem começo nem fim e se entrelaçam sem gravidade.
Fora dessa realidade dobrada está Strange, um mega bem sucedido cirurgião, irritante e com um empáfia que faz Tony Stark ser simpático. Mas bem diferente do ¿gênio, milionário, filantropo¿, a trajetória de Strange é muito mais violentamente dramática, já que depois de um acidente de carro, sobrevive por pouco, mas vê suas mãos serem destroçadas e seu futuro profissional interrompido.
Strange então parte para o Himalaia em busca de uma tentativa desesperada de se curar, mas o que encontra lá é a oportunidade de descobrir um novo mundo. Na verdade, vários, o famoso Multiverso, onde várias realidades se encontram, assim como uma ordem de magos que têm a responsabilidade de resguardar todos esses conhecimentos e suas barreiras. Lógico que em pouco tempo Strange vai precisar usar tudo que aprendeu para salvar a realidade.
E se tudo parece corrido visto assim nesses três parágrafos, pode acreditar, o filme toma o mesmo rumo, já que o roteiro escrito pelo diretor Scott Derrickson em parceria com John Spaihts e C. Robert Cargill, tem a capacidade de engatar uma quinta marcha em certo momento do segundo ato e ir acelerado até um último e inesperado, divertido e inteligente embate do herói com o verdadeiro vilão, Dormammu, uma criatura de outra dimensão que (como é de se esperar) quer dominar tudo.
Mas tudo isso muito bem grudadinho por um personagem que evolui, cresce, aprende com seus erros e acertos, que não se mostra infalível e que até agora só não é o personagem mais complexo da Marvel ¿nos cinemas¿ (e na TV), porque a bem mais traumatizada Jessica Jones está lá na Netflix. Um personagem dramático, melancólico, tridimensional, trágico e sofrido, mas que se torna um herói que deixa todo egoísmo de lado aos poucos. Um personagem que o espectador vê crescendo diante de seus olhos.
É lógico que a presença de Benedict Cumberbatch sob o manto de levitação e o Olho de Agamoto ajudam demais na hora dessa credibilidade, já que o ator inglês (como sempre) parece ser a única possível opção para o personagem. Cada palavra e olhar surgem com a mesma força que o ator sempre carrega em seus trabalhos, o que facilita ainda mais na hora do diretor deixar a câmera ligada olhando para o Doutor Estranho. Mikkelnsen e Tilda Swynton também estão lá, mas não tenha dúvida, o filme é de Cumberbatch que, com certeza, é uma das principais razões para o filme se destacar entre as obras medianas da Marvel.
Talvez esse destaque ainda venha em parceria de um visual divertido e psicodélico que foge completamente da ¿paleta¿ da Marvel, se deixando ir bem mais longe em termos de conceitos e soluções que ainda devem ser muito revisitadas a partir de agora em seus filmes.
E esse lado rebuscado só não vai mais longe, pois, obviamente Doutor Estranho ainda nada em território desconhecido, o que não permite que o filme seja maior do que é, ainda que tenha bastante território para ir. A impressão que fica é de seguir um caminho de segurança (como em Capitão América: O Primeiro Vingador) antes de mergulhar de cabeça em um filme de gênero. Um bom terror cósmico lovecraftiano, por exemplo, coisa que talvez fique para alguma sequência.
Mas o mais importante talvez seja ter em mente aquele primeiro ensinamento que o personagem tem, ¿esquecer tudo que achava que sabia¿, já que Doutor Estranho mostra que até agora os fãs da Marvel estava enxergando todo aquele mundo através de uma fechadura, já que as possibilidades parecem ser infinitas. E se isso significar estarmos escravos da Marvel por mais alguns anos, duvido que alguém vá reclamar.
“Doctor Strange” (EUA, 2016), escrito por Scott Derrickson, Jon Spaihts e C. Robert Cargill, dirigido por Scott Derrickson, com Benedict Cumberbach, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Benedict Wong, Mads Mikkelsen, Tilda Swinton
Trailer – Doutor Estranho
o crítico foi à pré-estreia a convite do Cine Roxy