Eami ganhou diversos prêmios mundo lá fora e é o representante do Paraguai para o Oscar desse ano. Então deve ser muito bom, né? Você sabe que não é assim que a banda toca.
Uma mescla de imagens enigmáticas e paradas com uma narração simbólica, quase hermenêutica, sobre eventos passados, o filme prefere assumir a narrativa do oprimido indígena, o que se torna para o espectador não-indígena e não-engajado nesse assunto, ou seja, qualquer desavisado que entrar na sala de cinema, uma história sobre coisa alguma. E pior: que dá vontade de dormir.
Pelo menos nisso o filme acerta, já que os delírios são sobre um passado longínquo, 30 anos atrás, sobre ou um massacre, ou uma invasão, ou a queima da floresta, habitat natural do povo retratado. Porém, diferente de trabalhos instigantes, este não te provoca para buscar conhecimento após a sessão.
O idioma e os costumes deste povo são extremamente primitivos. Indígenas do novo mundo são o último elo entre a civilização e o homem pré-histórico. Talvez por isso este mundo nos pareça tão estranho. Para alguns fascinante. Para o resto, nós, completamente estranho. Alienígena.
Entre este elo e o homem moderno infinitas disputas de terra e muito derramamento de sangue existiu e continua existindo até a configuração geográfica e política atual dos países. Assassinatos, escravidão, tortura, estupros, sabotagens e muitas outras ações pela sobrevivência dos povos existiu na história. Mas, por algum motivo, os indígenas ocupam uma posição especial quando se fala de algo que sofreram.
E não é o surgimento do cinema, este mecanismo de pausterização de dramas. Há várias outras histórias de opressão de outros povos onde entendemos a língua que está sendo falada. O drama consegue ser transmitido, mesmo que pelo próprio povo que massacrou o derrotado.
Talvez seja esse mito do bom selvagem misturado com políticas sociais e uma pitada de narcisismo geopolítico. Nós gostamos de nos sentir importantes ao falar sobre algo no sentido de denúncia, pois nos posicionamos como salvadores, ou parte da salvação. Nem que seja assistindo, dialogando sobre o filme ou expressando nossa opinião muito original e independente a respeito de concordarmos com tudo que a cineasta mostra. Este é o verdadeiro debate do século: só há um lado e é sempre o lado certo.
As imagens de Eima não fazem sentido. Suas trucagens com filtro de cor, luz e transições entre cenas , além de bregas, são o combustível que dá mais sono ainda. Nada do que você ver neste filme te salvará do eterno. Estamos fadados a acompanhar o drama indígena em nossos sonhos. Nosso único consolo é que o tormento acaba logo.
“EAMI” (Par/EUA/Ale/Hol/Arg/Fra/Mex, 2022), escrito e dirigido por Paz Encina, com Anel Picanerai, Curia Chiquejno Etacoro e Ducubaide Chiquenoi.
SINOPSE – Quando as terras de uma indígena paraguaia é invadida por colonizadores ela precisa fugir pela floresta e se despedir dela antes de deixá-la para sempre