*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
[dropcap]E[/dropcap]cos pode ser muito chato para algumas pessoas e fascinante para outras. É um filme feito de pequeníssimos momentos que não significam nada sozinhos, mas que pela sua soma geram uma sensação de existência. E é bom existir.
A proposta do diretor Rúnar Rúnarsson é capturar cenas de sua terra natal, a Islândia, nas semanas de Natal e Ano Novo. E quando digo capturar, tanto pode a vida real sendo filmada ou uma dramatização de momentos possíveis. São cenas belíssimas, amplas e que capturam aquele momento chave de cada lugar, que varia entre temas natalinos, locais de trabalho, o lar das pessoas ou lugares públicos. Um filme de observação dos seres humanos na metade do século 21.
Mas como os diálogos e as situações são montadas, é claro que existe o viés do seu idealizador, que usa o filme para capturar o que ele acredita ser a síntese de nossa era, como a incessante luta de classes, discussões políticas e sociais, a frieza nas relações, a diversidade da formação de famílias e até o sufoco percebido por nós do impacto que geramos aos “pets” com fogos de artifício, um dos muitos exemplos de contradições construídas pela humanidade.
Este é um filme curto onde o ponto de partida são os preparativos de Natal e seu final é o início de um novo ano. Para muitas pessoas essa é uma época significativa e um dos objetivos do filme é buscar esse significado através da observação de como os humanos da Islândia vivem, e de certa forma como as pessoas da Europa. E se França, Alemanha e até Portugal podem se nomear primeiro mundo, a Islândia é o primeiríssimo mundo, onde uma placa de acidentes de trânsito indicam 15 mortes ao total em um ano. Enquanto para eles é uma análise do presente, para brasileiros pode ser visto como ficção científica, em um futuro distante.
“Bergmál” (Isl, 2019), escrito e dirigido por Rúnar Rúnarsson, com Sigurmar Albertsson, Bent Kingo Andersen e Sif Arnarsdóttir.