por Vinicius Carlos Vieira em 26 de Janeiro de 2011
Ainda que todo anos seja a mesma coisa, os filmes são indicados ao Oscar e no minuto seguinte todos caem de pau em cima deles, é difícil olhar para essa enorme lista e continuar achando que nada continua errado. Duas semanas atrás (na verdade um pouco antes, quando saíram as indicações), o Globo de Ouro sofreu a mesma coisa, ainda que, de certa maneira à seu modo deturpado de ser, tenha no final das contas, feito mais justiças que os (famosos) “velhinhos da Academia” até o momento fizeram.
Não que ela seja formada de velhinhos, nem o é, mas sim por mais de seis mil profissionais do cinema espalhados pelo mundo. Quem são e como eles se tornam votantes não vem ao caso (talvez uma outra hora), o que vem, é que essas escolhas não são o resultado de uma meia dúzia de pessoas, mas sim de um montante enorme. É por isso mesmo que é impossível não contar com um monte de besteiras por ano, já que é mais difícil ainda acreditar que nenhuma dessas seis mil pessoas está sendo levada por algum tipo de hype (ou lobby, ou gosto pessoal, ou rusga etc.).
Um outro ponto, é que são essas mesmas pessoas que votam em suas Associações (de atores, diretores, produtores e por ai vai) o que diminui mais ainda (a não ser em casos extremos onde essas associações premiam um monte de filmes diferentes, coisa que quase nunca acontece) toda expectativa em volta da premiação do dia 27 de Fevereiro. Ainda que ela continue sendo a mais celebrada, mais charmosa e a mais desejada.
Mas não se enganem, nada está escrito, e o melhor antes de preencher seu bolão é esperar mais um par de semanas e ver o quanto o nome desses mesmos filmes vai ser citado por ai. Seria muito monótono ficar aqui citando os anos em que essas Associações (Guilds) cantaram a bola antes do Oscar, mas, a título de curiosidade, desde 2000 a Associação de Produtores da América (Producers Guild of America) não “concordou” com a Academia apenas três vezes (na categoria de melhor filme, que é justamente o produtor que ganha a estatueta), sem esquecer que a partir desse ano, ela também indica uma dezena de nomes, que, surpreendentemente, são os mesmo que foram anunciados hoje. Portanto, não esperem por surpresas por que, decididamente, o Oscar não é um dia para se ter surpresas. E quando digo surpresas, não é “O Discurso do Rei” não ganhar o maior prêmio da noite, já que, sem perder muita força “A Rede Social” vem logo atrás.
Talvez o fiel da balança acabe ficando justamente na briga entre esses dois diretores (já que, no quesito roteiro, cada filme pode levar um para casa): David Fincher e Tom Hooper. A dupla se enfrentará no próximo domingo justamente na premiação da Associação de Diretores da América (Directors Guild of America), que, essa sim quase sem exceções (nos últimos vinte anos “concordou” com praticamente todos prêmios da Academia), pode ser quem vá ditar para que filme o careca dourado vai no final da noite. Por que? Simples, por que a Academia odeia premiar os diretores que não acabaram de ganhar o premio de sua Associação e odeia mais ainda separar Melhor Filme e Melhor Diretor do cartaz dos Filmes ganhadores.
Surpresa seria, se esse domingo a refilmagem do faroeste de 1969, “Bravura Indômita” (que deu o Oscar a John Wayne), ou melhor, os irmãos Cohen, levassem para casa o prêmio da Associação, o que não pode acontecer já que eles nem estão indicados, mas que seria a única abertura para uma reviravolta nas bolsas de apostas do Oscar, já que chega à premiação com dez indicações.
Mas talvez a pergunta que não quer calar seja: onde diabos foi parar o Christopher Nolan? Não que desde já se discuta seu merecimento, ou não, de levar a estatueta (na minha opinião não o teria, e não por falta de qualidades, mas sim pela concorrência), entretanto, não ver seu nome entre os cinco é algo para ser pensado. Na verdade, não só o dele como também o de seu montador Lee Smith.
Entre amor de uns e ódio de outros, “A Origem” foi sem sombra de dúvida um dos filmes que marcaram 2010 (e para tanto até vê seu nome entre os dez indicados), justamente por apostar em uma estrutura dinâmica e surpreendente, o que já faria o nome de Smith ser lembrado. Assim como fica mais esquisito ainda ver o filme sair com oito indicações, seis técnicas, e não ver o nome de Nolan, que foi quem comandou isso e fez tudo ter sentido (mais ainda quando o próprio roteiro é dele). Indo um pouco mais longe (até com uma pontinha de conspiração), Christopher Nolan, mesmo sendo um dos diretores mais prolíficos de sua geração, talvez seja a bola da vez a ser ignorada pelos “velhinhos da Academia”, ou só eu acho que “Amnésia”, “O Grande Truque” e “Batman – Cavaleiro das Trevas” já tivessem merecido colocar seu nome seguido de, pelo menos, um “Indicado ao Oscar de Melhor Direção”, nos pôsteres de seus filmes.
Na verdade, surpresa mesmo vai ser se Nolan ganhar o prêmio da Associação de Diretores da América e pegar a Academia de calças curta.
E ao olhar para esses dez indicados à melhor filme, não se enganem, a maioria está lá, muito mais para receber essa homenagem de “ser indicado” (que ficarão devendo para Nolan e Smith), do que, propriamente para concorrerem. A grande maioria se contentará com a indicação na capa do DVD/Blu-ray (assim como nos pôsteres das estréias internacionais… aqui, uma salva de palmas para nossas distribuidoras que, pelo menos em seus cronogramas, conseguirão lançar, ou terem lançado, todos dez filmes, antes da cerimônia) e os milhões que essa indicação trará para os próximos projetos dos envolvidos.
Sem um diretor indicado, “A Origem”, “Minhas Mães e Meu Pai”, “127 Horas”, “Toy Story 3” (esse mais feliz que os outros, já que brigou publicamente por esse espaço merecido) e “O Inverno da Alma” farão às vezes de homenageados, enquanto os outros cinco ficarão na briga. “Cisne Negro” permitiria que Darren Aronofsky usasse o Oscar como trampolim para seus “filmes cabeça”, coisa que os “velhinhos” odiariam (por mais que seu próximo filme seja a continuação de “Wolverine”, que também não deve agradar muito aos mesmos), “O Vencedor” é o filme independente da vez (alguém falou em “Pequena Miss Sunshine”?) aquele que todos torcem, parece ter chances, mas vai embora com uma ou duas estatuetas embaixo do braço (alguém lembra do Alan Arkin levando a sua de Coadjuvante, assim como Christian Bale deve levar a dele esse ano?). Por isso tudo que não adianta, cinco, dez, vinte ou duzentos, toda essa “corrida do Oscar” fica sempre na mão de um trio de produções (uma para surpreender e duas barbadas) que farão seus nomes.
A diferença esse ano, para os Brasileiros, é ter para quem torcer, já que a produção conjunta, entre Reino Unido e Brasil, “Lixo Extraordinário” concorrerá ao Oscar de Melhor Documentário. Do resto, pelo menos até o dia da premiação, é mais um pouco da mesma lengalenga (principalmente com a internet sendo terreno livre para toda e qualquer opinião), de gritos de injustiça desse ou daquele filme, de um monte de gente confundindo gosto pessoal com toda tecnicidade da premiação e no final da contas, todo mundo tendo certeza de quem vai ganhar o que, e mesmo assim todos esperando afoitos pela abertura do envelope.
Da minha parte, prefiro esperar mais um pouco antes de fazer minhas apostas, reclamar dos meus injustiçados e confundir meu gosto pessoal com toda tecnicidade da premiação. Até lá vou esperar todas Associações, o Bafta, e o escarcéu pré-Oscar dar uma baixada para chutar um ou outro nome (se é que eu já não fiz!).