[dropcap]E[/dropcap]scape Room começa com um jovem caindo em uma sala onde tem que desvendar um enigma para abrir uma porta. Às suas costas, uma parede começa a empurrar tudo em sua direção. O tempo urge e ele logo será esmagado. O corte para o começo do filme deixa a cena em suspenso, mas ao mesmo tempo te fala que aquele personagem não irá morrer tão cedo.
Exatamente, escrito por Braig F. Schut e Maria Melnik, Escape Room é previsível, não porque mostra logo de cara o final de um de seus atos, mas porque não tem nada de muito novo para apresentar.
No filme, seis pessoas recebem um misterioso convite para um novo e mais misterioso ainda Escape Room, uma daquelas atrações que estão na moda, onde um grupo precisa encontrar a saída de uma sala através de dicas e quebra-cabeças. O problema, que eles logo percebem, é a “brincadeira” ser de vida ou morte.
Portanto, o que vem depois é uma série de salas onde eles precisam desvendar esses enigmas ou morrerão. E como são seis pessoas, talvez você consiga até imaginar de quantas salas estejamos falando (e pior, quem irá chegar ao final). Mas tudo bem, se a surpresa não é o objetivo de Scape Room, talvez o objetivo seja mesmo a tensão do relógio em contagem regressiva enquanto os personagens esperam pela morte.
Dirigido pelo mesmo Adam Robitel de Sobrenatural: A Última Chave, Escape Room tem essa tensão, som alto, gritaria e gente escapando no último segundo, mas como na próxima sala nada de diferente acontece, até isso deixa de ser interessante. Não existe construção, apenas um empilhamento de salas.
Se por um lado isso funciona no já clássico cult canadense Cubo, de 1997, aqui isso soa como equívoco. Cubo não dizia muita coisa, era misterioso, nem seus personagens eram claros, muitos menos as salas. Tudo era envolto na incerteza, contar demais tiraria a tensão e deixaria apenas a impressão da pretensão de que explicar aquilo fosse interessante o suficiente. Escape Room explica demais e não percebe seu próprio erro.
Todos os passados dos personagens, mesmo sendo importantes para a história, são genéricos e pouco inspiradores. E quando apenas três personagens são realmente apresentados, fica mais fácil ainda desconfiar quem irá se dar bem. Escape Room se sabota a todo instante e nem parece acreditar no tamanho das bobagens que constrói para tentar fazer essa história funcionar.
Falando em “história”, assim como Cubo, é bom também tirar da referência o igualmente clássico cult Jogos Mortais, de 2000, que apostava nas surpresas e em uma história complexa para estruturar uma “escape room” muito mais violenta, muito embora, extremamente simples e objetiva. Que era, talvez, a maior qualidade do filme.
Por outro lado, Escape Room talvez deixe todos esses defeitos de lado para encher os olhos com uma produção onde se é possível ver todos os dólares gastos. As salas empolgam visualmente e são bem diferentes entre si, o que faz o tempo passar sem importunar muito a suspensão de descrença do espectador. Em outras palavras, mesmo capenga em sua história, o desafio das salas faz todo mundo acreditar naquilo.
Infelizmente, tudo isso culmina em um esforço um pouco grande demais de criar uma mitologia com um vilão surpresa e, quem sabe, até uma continuação, mas nada disso interessante o suficiente para valer o filme. Portanto, mesmo com todo cuidado visual, a última impressão é a que fica, e ele é tremendamente anticlimática e até meio bobinha, mais parecendo saída de um roteiro preguiçoso do James Bond.
Escape Room tem uma ideia boa e uma produção que entrega um filme bonito, tem até um pouco de tensão necessária para fazer o filme se lembrado, mas ao não encontrar a chave certa para sair desse quebra-cabeça, se deixa se previsível e deverá ser esquecido.
“Scape Room” (EUA, 2019), escrito por Braig F. Schut e Maria Melnik, dirigido por Adam Robitel, com Taylor Russel, Logan Miller, Jay Ellis, Tyler Labine, Deboran Ann Woll, Nik Dodani.