Em um mundo perfeito, entre outras coisas, não haveria fome, os povos não entrariam em conflito, todas doenças teriam suas curas e, por fim, mas não menos importante, Hollywood pararia de refilmar produções orientais, em especial as de terror. Como eu sei que as primeiras coisas não irão acontecer, é mais óbvio ainda que a última continue firme e forte. Espelho do Medo está ai para me garantir isso.
Não que esses remakes sejam algo de tão criminoso assim, mas a verdade, é que desde O Chamado, que eles vem perdendo qualidade, e não só as versões yankees, uma olhada nos originais mostra o mesmo desgaste narrativo. Ocidentalizar um produto bacana para levar essa história para um novo público é até legal. Pecar em uma repetição de temas e situações deixa de ser “bonitinho”.
Por mais que Espelhos do Medo não caia nisso, apresentando um lado sobrenatural muito mais concreto, e com isso muito menos sutil nas poucas situações de terror, no final cai na mesma procura do passado para resolver um problema do presente, como se todos problemas do presente se revelassem como um pecado do passado, coisa que funciona muito bem em uma sociedade oriental, mas acaba sem força do lado de cá do mundo. E o pior, esse remake de um terror sul-coreano, peca pelo pior: apostar nos clichês para criar o tal do terror.
Não que o diretor francês Alexandre Aja não seja criativo, na verdade vem se mostrando muito mais um criador de climas tensos (vide seu Alta Tensão) do que um assustador, com isso só sobra para ele um terror desleal que irrita muito mais. Como as cenas impressionantes não são algo em grande número, o que sobra é a obrigatoriedade de fazer os espectadores pularem de suas cadeiras o máximo de vezes possível, para isso Aja é apelativo ao seu máximo, com pombinhas voando, reflexos se mexendo e uma ou outra corridinha em segundo plano. Tudo, é claro, temperado com uma musiquinha intermitente que aumenta cada vez que aparece um espelho e quase estoura as caixas do cinema vez por outra para dar um susto.
O grande problema desses sustos fáceis são que acabam se transformando em algo obrigatório para o filme conseguir sobreviver (se é que isso acontece), já que além de demorar demais para deixar o terror em si esquentar o filme, acaba teimando em explorar um vai e vem entre sustos e explicações, tornando o filme quadrado demais, equilibrado demais. Um meio termo apático entre algo psicológico (a aparente loucura do personagem) e uma enxurrada de terror (coisa que Aja vem fazendo muito bem em seus filme, mas falha aqui). Aja já demonstrou que não precisa de pombas e volume no talo para fazer um filme de terror, e se vender para isso, condenando o filme.
E o que falar de Kiefer Shutherland, que devia sair correndo para um psicologo o mais rápido possível, já que não consegue sair de dentro de seu personagem de 24 Horas. Aqui, é como se Jack Bauer tivesse perdido o emprego e começado uma nova vida, agora como segurança de um loja de departamentos que sofreu um incêndio, mas que acaba guardando segredos terríveis por trás de seus espelhos… e Jack só tem 24 horas para salvar o país (esse última frase foi um deslize, me desculpem). Na verdade, Sutherland só não prejudica o filme (e mata o espectador de vergonha) graças a vexatória atuação de Paula Patton como sua esposa.
No fim das contas, Espelhos do Medo não é só mais um exemplo de uma refilmagem desnecessária de algum terror oriental, é muito mais: é um filme que não empolga, não assusta, não convence, não prende a atenção e dá aquela impressão de que você quebrou algum espelho e já começou a ter azar.
“Mirrors” (EUA, 2008) escrito por Alexandre Aja e Gregory Levansseun (Adaptado do roteiro original de Sung-ho Kim “Into the Mirros” Kor, 2003), dirigido por Alexandre Aja, com Kiefer Sutherland, Paula Patton e Amy Smart.