Por alguns dias, fiquei refletindo que exatamente me incomodou em Evereste. Porque ele me pareceu desconexo, narrativamente falho, com um desenvolvimento que não agrega a emoção que se esperaria de uma história que tem ares épicos. No fundo, o problema do filme Evereste é o mesmo que montanha em si enfrenta: gente demais.
Evereste conta a história de um grupo de pessoas cujo objetivo é escalar a montanha mais alta do mundo. Guiados pela consultoria de Rob Hall (Jason Clarke), estes montanhistas – que não são novatos, mas tampouco profissionais – passam por uma preparação árdua para a escalada. Mas, como um texto no início do filme deixa claro, essa atividade de guiar fanáticos por escaladas tornou-se popular. Não é apenas Hall que tem seu grupo. Nos campos de treinamento, outros guias, Scott Fisher (Jake Gyllenhaal) e Anatoli Boukreev (Ingvar Eggert Sigurðsson) também levam seus montanhistas. Isso causa uma multidão na montanha, o que pode deixar a escalada ainda mais perigosa.
Inspirado em uma história real, ocorrida em 1996, Evereste tem personagens demais – os citados acima não são nem um terço dos que aparecem em cena -, o que prejudica o desenvolvimento de todos eles e causa confusão: afinal, quem é i protagonista aqui? São quase quinze personagens que dividem o tempo da projeção e, apesar de Hall ser encarado como protagonista, o filme tem uma urgência de dar atenção a todos os montanhistas. O resultado é um protagonista fraco e mal desenvolvido, cujo holofote é roubado o tempo todo por três ou quatro outros personagens mais carismáticos – ou que apenas ganharam tempo de mais na tela.
A confusão de personagens influencia, também, na narrativa do filme, que perde em história. Como há gente demais, cada um com uma história de fundo, a trama do filme em si fica em segundo plano. Não há um desenvolvimento, não há um crescer, não há uma construção que leva até o ápice. A impressão que fica é que as coisas simplesmente aconteceram e, como não houve construção da narrativa, a emoção dos momentos tensos é cortada pela metade. É, realmente, uma pena, pois ficamos com gosto de quero mais tanto da história quanto dos personagens.
É interessante, porém, como a escalada da montanha é tratada: não é uma conquista, mas um caminho que leva a um sofrimento cada vez mais profundo, quase uma automutilação. Mas os personagens estão cientes disso, fizeram esta escolha sabendo de seu significado. E isso deixa toda a projeção com um clima mais triste e agoniante, o que é interessante numa trama que poderia ser tratada facilmente como uma aventura cheia de adrenalina. Não é.
Ainda assim, Evereste não consegue mostrar a que veio. Apesar de trazer acontecimentos trágicos, não é dramaticamente envolvente. E o 3D também não é lá grande coisa.
“Everest” (EUA/RU/Isl, 2015), escrito por William Nicholson e Simon Beaufoy, dirigido por Baltasar Kormakur, com Jason Clarke, Thomas M. Wright, Martin Henderson, Sam Worthington, Eira Knightley, Josh Brolin, Jake Gyllenhaal, Robin Wright, John Hawkes e Michael Kelly.