Evocando Espíritos Filme

Evocando Espíritos

Poucas vezes tive tanto medo com um livro como enquanto lia Terror em Amityville, lógico que me decepcionei em gênero, número e grau com sua adaptação, e fiz de tudo para fugir de sua refilmagem, ambos escorregando nas próprias obrigações do cinema como produto, cada uma retratando sua época (ou melhor, os erros de sua época). Mas trocando em miúdos, ambos dão com a cara na parede quando tentam ser reais em um plano que não quer ser real, tentam extrapolar o desconhecido e sentem uma necessidade de dar cara a tudo. Deixam a sutileza de lado para apostar no choque, no susto.

Evocando Espíritos vai na mesma esteira, assim como todos filmes sobre casa mal-assombradas que se seguiram (todos talvez não, posso estar exagerando), e acaba tendo o mesmo resultado pífio. Tudo fica pior ainda quando o roteiro parece fazer o máximo para ser igual a maioria que se vê por aí, um verdadeiro teste à paciência alheia.

É como se uma força motriz indicasse o caminho mais imbecil e cheio de conveniência que a família que se muda para uma casa e descobre não estarem sozinhos, poderia percorrer. Convenientemente o filho mais velho, com algum tipo de câncer terminal (que eu em minha humilde ignorância médica, não consegui descobrir qual seria), é o primeiro a perceber essa presença, e nessa hora, onde todos iriam começar a duvidar de sua sanidade, o próprio roteiro esquece de colocar isso em pauta e arrasta todo resto para o mesmo buraco: o do esquecimento.

Nesse interim, entre uma e outra aparição de relance correndo na frente da câmera e se refletindo nos espelhos, o rapaz ainda, por pura “casualidade”, encontra um reverendo meio caça-fantasmas, sendo tratado no mesmo hospital, e que o ajudará a exorcizar sua nova casa e acabar com o sofrimento da família. É bom lembrar ainda, que o passado alcoolatra do pai parece errar de filme, não fazendo a menor diferença para a história a não ser que quebrar uma guitarra e meia dúzia de lampadas seja essa diferença. Melhor ainda, o próprio pai, se não existisse, não mudaria nada, tamanho seu peso dramático.

Ainda nessa linha, talvez, se ninguém existisse o filme se salvasse, ou se pelo menos todos não compartilhassem de um total desleixo (doença constante das famílias assombradas) e pelo menos dessem uma checada na casa inteira antes de comprá-la, para não se perderem nela e terem surpresas desagradáveis em suas fugas. Nesse mesmo embalo, uma limpadinha no porão e no sótão viria também a calhar e, pelo amor de Deus, quem em sã consciência, conseguiria se mudar para uma casa e conviver com uma droga de uma porta fechada e não arrombá-la, ainda mais sendo ela de vidro. Salva de palmas para o roteiro!

Não sou contra a estupidez dos filmes de terror, sem ela o gênero não existiria, mas fico completamente incomodado com a falta de coerência que os roteiros apresentam enquanto se escoram nesse lugar comum. A família assombrada deve fugir ao primeiro sinal de fantasma e nunca mais olhar para trás, fazendo o filme durar cinco minutos, ou permanecer na casa por alguma razão, no mínimo criativa e que valha a pena, por mais, pelo menos, 80 minutos de filme?

No fundo, bem no fundo mesmo, talvez Evocando Espíritos tenha sua única qualidade em uma um reviravolta final que vai carregar bem o filme até seu término, mas até aí, não consegue ser quem realmente parece procurar ser, se impedindo de ser perturbador para ser um terror normalzinho, com uma criança fantasma, um passado que volta para assombrar os vivos, um punhado de personagens idiotas para serem assombrados, e um monte de espectadores desprevenidos que pularão em suas cadeiras a cada sombra que passar na frente da câmera.Triste. 


The Haunting in Connecticut (EUA, 2009) escrito por Adam Cornwell e Tim Metcalfe, dirigido por Peter Cornwell, com Virgina Madsen, Kyle Gallner, Elias Koteas


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