Exorcismos e Demônios Filme

Exorcismos e Demônios | Ninguém aguenta mais exorcismos “baseados em casos reais”


Exorcismos e Demônios é um filme que adota o estilo clássico de mistério que vai sendo desvendado, mas se esquece que para o espectador ficar interessado no mistério é necessário que ele de fato exista.

O filme se trata de acompanhar a investigação da jornalista-mirim Nicole Rawlins (Sophie Cookson). Ou pelo menos ela se parece uma jornalista-mirim, com seu rosto infantil e um pai editor de jornal. Fica muito claro desde o começo que esta é uma apelação para o público jovem, geralmente o alvo de terrores de qualidade questionável.

Também fica muito claro para onde toda a história caminha. Se trata de um caso não-resolvido de exorcismo em 2004 na Romênia, que é anunciado no começo do filme como “baseado em fatos reais”. Provavelmente a única coisa real no filme todo é este evento que de fato ocorreu na Romênia, onde um padre não-autorizado pela igreja católica realizou um ritual de exorcismo mesmo assim. para o azar dele, a exorcizada, uma garota de 23 anos, morreu ao ser socorrida no caminho para o hospital. Ele foi preso e o filme começaria nesse ponto, mas você já viu o final do exorcismo e entende que o sobrenatural aqui existe. Ponto.

Um fato curioso (do filme) é que a única jornalista aparentemente interessada no caso não é da Romênia, mas das longínquas terras do Tio Sam. E ela sai visitando todos os envolvidos conforme eles vão aparecendo e todos eles dão respostas prontas e satisfatórias para seu caso. Eu até poderia nesse momento comparar o processo que a jovem Nicole Rawlins executa no vilarejo com um jogo de video-game, mas isso seria injusto, já que jogos costumam ser mais difíceis que isso.

Escrito pelos gêmeos Hayes (Invocação do Mal 1 e 2), esta história carece de qualquer emoção e possui um arco insatisfatório envolvendo a falecida mãe de Sophie e, claro, Deus. Sophie tem raiva da mãe por acreditar em Deus e como consequência terá que participar desse filme para receber alguma espécie de redenção por ser tão irredutível a respeito do sobrenatural. Para acompanhá-la nessa jornada a igreja dispõe de um belo e jovem padre local (Corneliu Ulici) que está visivelmente animado em ajudá-la e vira assunto nos sonhos eróticos noturnos da moça, o que torna sua alma cética ainda mais fraca e suscetível à possessão demoníaca que ainda ronda o local.

Ambientado em uma versão sanitizada de um fim do mundo em um país do ex-Segundo Mundo, o detalhe mais importante da arte é observar as paredes medievais e decadentes das igrejas, que parece referenciar aquela fé antiga e rústica antes de nossos tempos de smartphone e internet. Apesar dos prédios católicos exibirem as marcas do passado miserável do povo romeno que sofreu com o comunismo, há uma certa elegância na organização dos santuários, que parecem não possuir aquele pó característico de monumentos abandonados por séculos.

Exorcismos e Demônios Crítica

Parte desse detalhe é devido à construção cinematográfica do local, que contém, por exemplo, um hotel cujos quartos possuem portas e janelas (e banheiras) que parecem ter sido feitas para um parque temático de assombração, prontos para ranger e bater. Além disso, apesar de nunca ter saído da vila e ter usado o carro durante chuvas torrenciais, ele permanece intacto em uma noite enluarada onde a bela Sophie, ao sofrer uma possível alucinação, decide correr de medo para dentro de uma plantação, algo não muito sensato por pessoas que já assistiram alguns filmes de terror que já existiam em 2004.

Ao mesmo tempo que a direção de arte é belíssima sem servir ao propósito de ser realista, os sustos preparados pelo diretor Xavier Gens caem sempre no convencional, o que nos mostra mais uma vez como é uma grande desvantagem seres humanos terem retaguarda de onde surgem as criaturas mais inesperadas do nada e como os barulhos mais inusitados ocorrem até em eventos comuns como uma simples queda de energia. Preparado especialmente para este filme, essa cidade não passa de um cenário onírico para onde vão nossas mentes quando imaginamos algo como… uma cidadela perdida na Romênia do século dos vampiros e lobisomens. Isso sem qualquer conhecimento histórico. Apenas sentimos que um lugar desses deveria ser assim.

O que infelizmente não nos traz nenhuma surpresa, assim como esse filme. O que acontece então é que apenas acompanhamos Sophie em sua investigação sem muito interesse e apenas aguardando os momentos que já sabemos que irão ocorrer e as reviravoltas já marcadas no mapa. Resta saborear a pipoca e comentar como aquele padre induz ao pecado. A própria Sophie usa isso a seu favor, mesmo que já estivesse claro que o padre a ajudaria.

Por isso, Exorcismos e Demônios acaba sendo pior que um jogo, pelo menos no jogo você participa de alguns desafios. Aqui o único desafio para Sophie parece ser manter o espectador da cabine de imprensa animado com a possibilidade do funcionário de um jornal jovem que consegue viajar a lugares exóticos e investigar casos já resolvidos.

A propósito, voltando ao caso real, foi descoberto que a causa da morte da menina exorcizada foi uma overdose de adrenalina dada na ambulância. Mas é claro que este spoiler da vida real não apareceria nos créditos finais. Estragaria toda a graça do filme.


“The Crucifixion” (EUA/RU/Rom, 2017), escrito por Chad Hayes, Carey W. Hayes, dirigido por Xavier Gens, com Sophie Cookson, Corneliu Ulici, Ada Lupu.


Trailer – Exorcismos e Demônios

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