por Vinicius Carlos Vieira em 05 de Novembro de 2010

Em um momento do “Federal” de Erik de Castro, dois policiais “interrogam” um possível X-9 com um saco plástico, do mesmo jeito que o grupo do digníssimo Capitão Nascimento faz no primeiro “Tropa de Elite”, apenas com uma diferença, lá, no Rio de Janeiro infestado de traficantes, eles faziam isso por ideologia (quer você concorde ou não), aqui você quase não entende a razão de tal atrocidade.

E esse é o maior retrato desse desastre vestido de filme de ação sobre um grupo da Policia Federal (PF) que precisa desbancar um traficante do Distrito Federal. Tudo na produção beira um desleixo tanto narrativo quanto visual, talvez por falta de dinheiro, talvez por falta de capricho, talvez pelos dois, sendo que o que importa em linhas gerais, é que “Federal” não empolga em um segundo sequer e faz todos saírem do cinema chateados.

Mas a comparação com o filme de José Padilha não vem de graça, já que ambos tem um mesmo objetivo de mostrar uma certa força policial em seu âmago, doa a quem doer, sendo que aqui essa dor sobra para o espectador. “Tropa de Elite” se esforça o tempo todo para heroificar seus personagens e discutir um problema, com as mesmas ferramentas “Federal” parece fazer questão de ser totalmente o oposto disso, é impossível se identificar com qualquer pessoa que aparece na tela e é mais impossível ainda torcer por elas.

Isso, infelizmente, não acontece só em razão de um elenco medonho, que começa encabeçado por um Carlos Alberto Riccelli, como o policial experiente, duro e sem ritmo, e termina em um Eduardo Dusek caricato e sem a menor vergonha de achar que é algum gangster de filme americano. Há ainda a presença ilustre de Hollywood representada pelo canastrão Michael Madsen (que cortou a orelha do policial em “Cães de Aluguel” e depois resolveu afundar o resto de sua carreira) como um policial corrupto do DEA dos Estados Unidos, que, por sorte, não compartilha a tela com os outros dois (Dusek e Riccelli) ao mesmo tempo, senão tudo poderia ser pior.

Perdido nesse caos, um Selton Mello que pouco pode fazer por seu personagem, já que não se sabe se é protagonista ou coadjuvante e nem tem muito material em mãos para desenvolver nada, já que, aparentemente, a definição de “desenvolvimento de personagem” de “Federal” se resume a um punhado de cenas de sexo, uma discussão (que até mostra um pouco de um deles, no exato momento anterior a um tiro na testa), uma conversa regada a um café que o personagem de Riccelli “adorou” e mais um pouco de sexo. Diante disso, fica difícil entender atitude alguma de qualquer personagem.

Como se o diretor Erik de Castro procurasse sabotar seu próprio filme e seus personagem por sadismo, levando-os a espancar o coitado do “futuro X-9” além de, praticamente, agredir a mãe dele e completar tudo com a imagem dela, jogada ao chão, com o carro da policia rodeando-a. E se esse tipo de atrocidade não bastasse, cria personagens que metralham um carro sem a menor piedade, sem fazer a mínima idéia de quem está dentro, para logo depois apontar um dos passageiros dele como testemunha chave e “imprescindível de permanecer vivo”, emburrecendo não só seus personagens, mas toda PF.

O desastre narrativo é acompanhado de perto ainda por um técnico, com uma câmera burocrática cheia de planos médios e sem graça, já que parece sentir a necessidade de sempre colocar seus protagonistas enquadrados na cena, que só some quando dá lugar ao famoso e usual “plano e contra-plano”, que funcionaria e passaria despercebido se, fora dos diálogos, a câmera tivesse, pelo menos, vontade de surpreender. Tudo ainda é embalado por uma fotografia escura demais e uma direção de arte desleixada (talvez a razão da fotografia, para esconder isso), impessoal e pobre, fazendo com que todos cenários pareçam repetidos e sem detalhes.

“Federal” acaba sendo um resultado amador, que não consegue nem ao menos se espelhar nos policiais enlatados de Hollywood, acéfalos mas cheios de tiros e explosões, acabando então por cair em um buraco de socos e lutas mal coreografadas (além do som horrível que pouco parece aquele clássico soco) que demonstra que nem sua lição de casa conseguiu fazer. Um desleixo (estou repetitivo, pois essa talvez seja a palavra que mais caracteriza o filme) que faz muito mal ao cinema nacional, que só nesse momento parece estar descobrindo esse cinema de gênero, mas que fará o espectador pensar duas vezes na próxima vez que der de cara com uma produção policial brasileira.

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Idem (Bra, 2010) escrito por Erico Beducshi, Erick de castro e Heber Moura,  dirigido por Erik de castro, com Carlos Alberto Riccelli, Selton Mello, Michael Madsen, Eduardo Dusek, Christovam Netto e Cesário Augusto

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