Pouco menos de um ano antes do meu nascimento morria Alfred Hitchcock. Porém hoje, no dia 13 de agosto o mestre do suspense faria aniversário. Mas para mim nenhuma dessas duas datas importam realmente, na verdade a que conta é uma perdida, muito provavelmente, entre o final do anos 80 e o começo dos 90: quando eu descobri quem era esse tal de Hitchcock.
Antes desse momento me lembro de ter esbarrado na TV com alguns clássicos do diretor, o suficiente para saber que o Norman Bates era a própria mãe e que nunca é bom ficar bisbilhotando a vizinhança pela sua janela. Mas foi só durante uma madrugada qualquer de um sábado (é sério, eu lembro de verdade) que dei de cara com Festim Diabólico.
Uma experiência que mudou a vida desse garotinho de menos de uma década de vida (e que, pior ainda, o fez acreditar que podia até se tornar um crítico de cinema…humf). Meu primeiro choque era ser obrigado a ver o filme inteiro pela ótica dos dois vilões (primeira lição), depois foi ter um arrepio cada vez que alguém chegava perto daquele baú (segunda), na sequência, lembro-me do ódio que comecei a ter pelo personagem de John Dall, cada vez que ele se divertia com a aquela situação (terceira). Nunca vou esquecer ainda da aflição de ver o personagem de Farley Granger se esfacelar a cada momento que passava (quarta)… raios (!), eu estava quase com pena dele enquanto torcia por James Stewart (quinta).
Lições demais para um simples comedor de pipocas quem nem pensava em entender o que estava acontecendo. Pior ainda foi, depois da metade do filme, perceber que ele não “mudava de cena” (não acredito que eu pudesse pensar, naquela época, na palavra “montagem”). É lógico que aquilo me fez sair correndo atrás do filme pelas locadoras e ainda vê-lo mais algumas (dezenas) vezes. Curiosamente, ouso dizer que até hoje, cada vez que me vejo diante de Festim Diabólico” eu acabo encontrando uma nova lição (que eu já perdi a conta).
E bem longe desse filme de 1948 ser o melhor de Hitchcock, talvez nem acabe figurando entre seu TOP 10, pior ainda, talvez seja o maior retrato da personalidade inquieta do diretor, que depois disso deixou sempre bem claro que achava um erro tentar fazer o filme inteiro em um único take (coisa que só não fez pela impossibilidade da época de ter rolos longos o suficiente). Uma decisão que, segundo ele, o afastava da linguagem que ele propunha em suas obras. Curiosamente, mais uma lição, já que até fazendo algo “errado” a seus olhos, ainda é hoje exemplo de como “esconder” cortes.
Mas enfim… certo ou errado, foi Festim Diabólico que me mostrou que um filme não era “apenas um filme” quando caia nas mãos algum “mestre do cinema”. Norman Bates não é “simplesmente” sua mãe, nem James Stewart estava “simplesmente” bisbilhotando o vizinho assassino. Muito menos Um Corpo que Cai (que acabou de ser eleito Melhor Filme de Todos os Tempos) é “simplesmente” sobre medo de altura e aqueles pássaros todos não “simplesmente” resolveram atacar Bodega Bay… opa, talvez esses últimos sim.
De lá para cá, Hitchcock ainda me mostrou milhões de coisas em cada filme que vejo ou revejo, mas, mais do que isso, vem me ensinando que o cinema está ai para ser preenchido com histórias que emocionem, façam você gelar em sua poltrona, se apaixonar e odiar aquelas pessoas na tela. Que o cinema é feito para que você tenha certeza do que aquelas pessoas estão falando por trás daquele vidro (mesmo sem escutá-las), feito para que você fuja de um avião no meio do deserto e que descubra que não existe tensão maior do que conhecer o assassino e vê-lo chegar cada vez mais perto de sua família.
Parabéns Alfred Joseph Hitchcock por seus 113 anos e muito obrigado por tudo.