Férias Frustradas Filme

Férias Frustradas

Férias Frustradas é, ao mesmo tempo, um reboot, uma refilmagem e uma sequência direta do filme homônimo protagonizado por Chevy Chase em 1983. Portanto,fãs da “saga” da família Griswold podem enxergar este novo longa de forma diferente da minha, que pouco guardei a produção original na memória após a única vez em que a assisti. A boa notícia é que este filme se sustenta bem por si só e, enquanto o conhecimento do original permite aproveitar as diversas referências, a comédia mira no público-geral e não apenas nos fãs da franquia. Por outro lado, investe em um humor nojento e óbvio que acaba prejudicando seus poucos elementos eficientes.

Rusty Griswold (Ed Helms), uma das crianças da história original, é agora um piloto de avião frustrado, que enfrenta um período de tédio em seu casamento com Debbie (Christina Applegate), enquanto lidam também com a inadequação de seu filho mais velho, James (Skyler Gisondo), e com o péssimo comporto do caçula, Kevin (Steele Stebbins). Rusty, então, decide que a solução é levar a família ao parque “Walley World”, repetindo a viagem que tanto marcou sua infância. Assim, os Griswold atravessam o país de carro, de Chicago até a Califórnia, e, no caminho, visitam alguns parentes e encontram alguns personagens excêntricos.

A família Griswold também tem suas esquisitices, claro: em sua positividade e entusiasmo, Rusty se revela completamente sem noção quanto a assuntos como sexualidade, e Debbie “esconde” um passado rebelde. Mas os diretores e roteiristas John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein, ao invés de aproveitar as personalidades de seus personagens, que poderiam ser um diferencial, preferem investir no humor mais básico, mais batido e mais cansativo: piadas envolvendo fezes, vômitos, flatulências, etc.

Reconhecendo ao menos que o filho caçula é um mini-psicopata, o longa diverte quando James se recusa a se vingar do irmão – e o roteiro também é esperto quando James consegue conquistar o interesse de uma garota apenas para, logo em seguida, anunciar em seu Facebook que está em um “relacionamento sério” – encerrando de forma criativa o que seria, de outra forma, uma típica trama de “garoto desajustado finalmente encontra garota que o entende”.

Ed Helms consegue transmitir bem o misto de boas intenções e estupidez de seu personagem, mas é prejudicado por um roteiro que o força a se entregar a embaraçosos diálogos sobre, por exemplo, transexualidade e pedofilia: o longa é claro ao encarar a visão do protagonista como ignorante mas, mesmo que não exatamente ofensivas, essas piadas simplesmente não funcionam, principalmente por se estenderem muito mais do que o necessário – o desfecho da gag envolvendo um ameaçador caminhoneiro só é moderadamente engraçada devido ao ator que o interpreta.

Leia a crítica de Férias Frustradas.

Da mesma forma, as demais pontas do elenco dependem exclusivamente das personas de seus atores para funcionar: o personagem de Chris Hemsworth (também conhecido como Thor), por exemplo, não é engraçado, mas é divertido vê-lo naquela situação. Charlie Day (de Quero Matar meu Chefe) é o mais prejudicado entre essas presenças especiais, participando de uma vergonhosa sequência envolvendo um instrutor de rafting suicida. Finalmente, o roteiro tenta dar a Christina Applegate tantas oportunidades de “brilhar” quanto a Helms, mas o texto, mais uma vez, falha neste aspecto – sua principal gag, em que ela retorna aos dias de loucura da faculdade, é estúpida (e nojenta). Tanto esta sequência quanto uma envolvendo uma fonte de águas termais não alcançam nada além de embrulhar o estômago do espectador.

A dinâmica entre a família, ao menos, é orgânica e natural: enquanto James e Kevin não se tornam, milagrosamente, melhores amigos durante a viagem, Rusty e Debbie obviamente se amam e são parceiros mesmo enfrentando problemas no casamento. Assim, é interessante ver como ele fica chateado ao descobrir sobre a juventude da esposa não por causa do que ela costumava fazer, mas por ela ter escondido dele uma parte marcante de sua vida – e um dos melhores momentos do roteiro é quando, ao perceber que Debbie havia transado com vários homens antes de conhecê-lo, Rusty não sente ciúmes (o que seria óbvio e machista), mas sim que ele não seria cool o bastante para a esposa, por não ter “aproveitado a juventude” como ela. Debbie rapidamente declara que suas loucuras juvenis ou quantidade de parceiros sexuais não tem tanta importância – assim como a falta de experiências semelhantes de Rusty não é motivo de vergonha.

É uma pena, portanto, que momentos inspirados como esses percam-se em meio ao clima besta da maior parte da projeção, a que investe em excrementos e nojeiras para tentar arrancar algumas risadas. O reboot/refilmagem/sequência, ao menos, consegue se sustentar sozinho enquanto reconhece sua dependência do sucesso do longa original ao trazer participações de Chevy Chase e Beverly D’Angelo e um divertido diálogo auto-referencial entre Rusty e Debbie, discutindo o perigo de tentar recriar o que eles chamam de “a viagem original” (em inglês, “the original vacation” – “Vacation” é o título original do longa).

Portanto, mesmo bem intencionado, Férias Frustradas é uma produção com alguns bons momentos espalhados em meio a diversos momentos ruins ou, pelo menos, não divertidos, fazendo deste um filme que, apesar de não ser desastroso, dificilmente inspirará um revival da franquia.


Vacation” (EUA, 2015), escrito e dirigido por Janatha M. Goldstein, com Ed Helms. Christina Applegate. Skyler Gisodo, Steele Stebbins, Chris Hemsworth, Leslie Mann, Chevy Chase e Beverly D´Angelo


Trailer – Férias Frustradas

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  • “Confira o novo artigo do Filmindica: Férias Frustradas – artigo especial de feriado e férias. Esse é para os que gostam de viajar, para os que não gostam, para os que trabalham com isso, mas principalmente para qualquer um que tenha alguma historia cômica para contar sobre alguma viagem. Grande filme e série. Clássico dos cinemas!

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