*o filme faz parte da cobertura da 43° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
[dropcap]F[/dropcap]ilhos da Dinamarca junta o tema óbvio do momento político atual de extremos com uma pesada dose de drama shakespeariano, e para isso nada como estar na Dinamarca. E há algo de podre nesse reino.
Um tanto fora do cenário europeu de refugiados, onde Alemanha, França e Suécia são os países mais noticiados, o diretor e roteirista Ulaa Salim abraça a causa com uma história, assim como o brasileiro Bacurau, em um “futuro próximo” (mas nesse caso não tão distópico), quando partidos nacionalistas estão próximos de chegar ao poder. Já tendo fechadas as fronteiras, o próximo passo é expulsar os imigrantes recentes. Junto disso o país vira uma panela de pressão cozinhando extremistas de ambos os lados.
Delineando sua história primeiro do lado de extremistas muçulmanos que se unem em um movimento político da maneira que podem, e isso inclui planejar assassinar o líder político do partido que representa uma versão neonazista no cenário dinamarquês. O filme muda sua visão de maneira inteligente a partir da metade e de uma reviravolta esperada pela duração do filme, chegando a alterar o protagonista de maneira orgânica.
O roteiro força algumas situações inusitadas, mas nada que fuja das possibilidades dos seus personagens. A direção é coesa e consegue contar uma história com vários detalhes em pouco tempo. Possui a vantagem de um afiado elenco, com destaque para Zaki Youssef como Ali, que comunica muito com os olhos.
Sem conseguir uma produção mais cara, Filhos da Dinamarca evita cenas externas e confia mais no uso da sua luz, em uma fotografia límpida que exibe pelo tom as diferenças entre bairros dinamarqueses e de imigrantes, além de evocar com sua música uma dramaticidade que nos deixaria extasiados se o que vemos estivesse à altura. Infelizmente a obviedade do filme em escolher lados da questão impede que o tema se aprofunde, e não merece maiores reflexões.
“Danmarks Sønner” (Din, 2019), escrito e dirigido por Ulaa Salim, com Zaki Youssef, Mohammed Ismail Mohammed e Imad Abul-Foul.