Talvez exista uma boa vontade em Fim da Estrada, novo filme produzido pela Netflix, misto de suspense… com nada, pensando bem, de boas vontades o inferno está cheio e essa nova produção não consegue nem ao menos ficar em pé só com suas próprias pernas.
Existe sim ali uma vontade de ser algo além de um suspense, mas não existe qualquer sucesso nessa tentativa. Tem ali algo de um drama familiar e a perda do marido/pai, até da falta de capacidade do irmão da protagonista, vivido por Ludacris, na vida. Já a crítica social é enfiada goela abaixo de jeito desastrado e vexatório.
Mas provavelmente há quem durma em alguns pedaços de Fim da Estrada e acompanha o filme só em sua espinha dorsal, o que ajudaria muita gente a gostar dele (por mais que eu não acredite nisso). Essa trama central acompanha Brenda (Queen Latifah), uma mãe (e viúva recente) que precisa sair da casa que sempre viveu com a família para voltar a morar com a mão em Houston. Para isso, ela, seu irmão e os dois filhos partem nessa viagem de carro de três dias que corta os Estados Unidos pela sua parte mais desértica e racista.
Porém é cedo demais para se empolgar com uma temática minimamente moderna ou crítica social, o filme realmente é sobre eles testemunharem o assassinato de um bandido e se tornarem alvo de um bandido ainda mais maldoso, perigoso e misterioso. Essa é a parte do suspense propriamente dito.
A direção de Milicent Shelton até salva certos momentos do roteiro estapafúrdio de Christopher J. Moore e David Loughery, mas no geral também não chega em lugar nenhum. Principalmente, pois parece não conseguir identificar as óbvias falhas da trama. Os “rednecks” sendo racistas (ou simplesmente sendo só “rednecks” mesmo) não tem de onde sair e nem para onde ir. Mais tarde Brenda dá de cara com um acampamento de neo-nazistas com tatuagens de suásticas e “SSs” na cara. Falta sutileza.
Na verdade, a sutileza estava lá nas conversas entres os irmãos e no clima de serem uma família de negros no meio do lugar mais racista do Estados Unidos, não seria preciso, ainda por cima, terem esses inimigos que quase não cabem na história. Mas Fim da Estrada não é sutil.
A diretora apela para uma porção enorme de flashbacks bregas, diálogos expositivos que são expositivos demais e ainda fica o tempo inteiro tentando emplacar algumas frases de efeito dignas de uma paródia. Pensando bem, talvez Fim da Estrada se desse muito melhor se aceitasse esse humor de si próprio.
Em certos momentos ele até o faz, principalmente em pouco de gore no final e nos vilões principais completamente descabidos e amalucados. A qualidade da direção de Milicente Shelton ajuda a fazer disso uma experiência até divertida, mas ainda assim é pouco diante de todo o resto.
Mas existe sim uma boa vontade de Fim da Estrada, o cuidado com seus espectadores, já que o filme tem pouco mais de apenas 90 minutos, passando rápido e deixando bastante tempo para você ir ver algum filme melhor.
“End of the Road” (EUA, 2022); escrito por Christopher J. Moore e David Loughery; dirigido por Milicent Shelton; com Queen Latifah, Ludacros, Mychala Lee, Shaun Dixon e Beau Bridges