Não se surpreenda se descobrir que Freaky – No Corpo de um Assassino, além do subtítulo brasileiro horroroso, se torne um dos seus filmes preferidos do gênero. Não por ser uma produção cabeça assinada e produzida pela A24, mas sim por ser um dos filmes de terror mais divertidos dos últimos tempos.
Também não é surpresa que esse raio caia novamente no mesmo lugar, já que o diretor Christopher Landon vem se especializando em realizar esse tipo de filme “mais legal dos últimos anos”. Depois do interessante e um dos que poucos que foge da mesmice da franquia, Atividade Paranormal: Marcados pelo Mal, ele emplacou os incríveis Como Sobreviver a Um Ataque Zumbi e o já novo clássico A Morte te dá Parabéns. Freaky talvez seja agora o momento de se estabelecer como um dos cineastas mais interessante dentro do terror.
Em poucos segundo do filme você já descobre o quanto ele é uma homenagem certeira e inteligente ao slasher, desde o formato, até as brincadeiras visuais, sustos e clima. E quando o assassino fica de frente para sua vítima pendurada e tomba a cabeça para o lado como um certo outro maluco fugido de um outro hospício, o fã de terror vai ter certeza que está no lugar certo.
Mas a história escrita pelo próprio Landon em parceria com Michael Kennedy, começa mesmo depois disso, quando esse assassino (Vince Vaughn), em posse de uma adaga mágica, acaba tentando matar a adolescente Millie (Kathryn Newton), mas descobre que a tal adaga é um instrumento Maia que permite que os envolvidos no “sacrifício” troquem de corpo. O que faz com que Millie, agora no corpo do assassino, precise desfazer o encantamento até a meia-noite do mesmo dia.
Sim, Freaky, como o título já dá uma dica, é uma espécie de Sexta-Feira Muita Louca e Se Eu Fosse Minha Mãe (mais conhecidos no original como “Freaky Friday”) misturados com Sexta-feira 13, Halloween, Eu sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, Pânico, Candyman, O Iluminado e mais qualquer outro filme que você encontrar uma referência.
A troca de corpos vem da comédia da Disney, mas a vontade enorme de Landon de criar um filme de terror repleto de homenagens, mortes cheias de gore e um bom humor impecável, vem claramente de um amante do gênero. Portanto, um filme feito por um óbvio apaixonado pelo terror para seu público. Um verdadeiro presente. E uma salva de palmas para a morte da garrafa e a da serra circular!
O diretor faz então esse filme que não tem medo de referenciar nada, ao mesmo tempo que aposta em um bom humor sutil e afiado. Não aposta em “punch lines”, ou piadas físicas, mas sim naquele exagero ou até quebra de expectativa. Seus movimentos de câmera buscam o espaço para o susto e encontram o nada, o que é uma piada ótima para os fãs, suas mortes são, na sua maioria inspiradas por outras mortes famosas e composições de câmera famosas no gênero, além de, é claro a presença de Vaughn.
É lógico que o trabalho da atriz interpretando esse psicopata assassino é interessante, já que ela claramente se esforça para distanciar esse lado de outro, mas, com certeza, Vaughn no papel de uma menina de 17 anos meio perdida é uma escolha de elenco perfeita e acaba sendo o melhor do filme.
Além de muito alto, bronco e rústico no visual, o ator consegue criar esse jeito delicado e hilário. Landon ainda faz isso ficar mais interessante quando entre em cena um interesse amoroso da protagonista (Misha Osherovich) que acaba tendo dois momentos super-românticos, justamente com Vaughn. Acrescente a esses acertos um emocionante momento onde a personagem, no corpo do assassino, tem uma conversa sincera com a mãe e acrescente uma profundidade gigantesca à relação das duas. Um daqueles momentos que você não imagina que estariam dentro de um filme de terror escrachado e cheio de gore e risadas.
Freaky é então essa grande homenagem ao gênero, cheio de tudo que o fã gosta, mas em um formato completamente inesperado e com uma vontade enorme de te emocionar e te fazer dar algumas boas risadas enquanto o sangue jorra. Tudo que uma produção desse tipo precisa para ser seu “filme preferido” por um tempo, pelo menos até que Christopher Landon assine outra obra.
“Freaky” (EUA, 2020); escrito por Christopher Landon e Michael Kennedy; dirigido por Christopher Landon; com Vince Vaughn, Kathryn Newton, Celeste O´Connor, Misha Osherovich, Emily Holder, Nicholas Stargel, Kelly Lamor Wilson e Katie Finneran