Nem toda simpatia do mundo salva Ghosted: Sem Resposta, longa produzido pelo streaming da Apple com jeitão de super-produção, mas que não consegue preencher bem nem o espaço da sua televisão. Mas com Chris Evans e Ana de Armas no elenco e na foto que divulga o filme ao invés do cartaz nos cinemas, é difícil que alguém preste atenção em qualquer tipo de crítica.
Não que prestem atenção em qualquer crítica no resto do tempo, talvez não o façam, mas ainda assim Ghosted é ainda mais protegido, afinal, é uma comédia romântica, tem muita ação, os dois personagens são realmente lindos, tem uma ou duas risadas, e está tudo bem. O resto é “resto”. Por que nele resida alguns problemas. Mas ninguém quer saber deles.
O problema, se alguém se interessasse por ele, está na cola que liga tudo isso. Uma história que beira o estapafúrdio quando se leva a sério tentando emplacar algo que não funciona, é chata, óbvia e preguiçosa. Mas que, entretanto, funciona muito bem nas poucas vezes que ultrapassa essa barreira, não se leva a sério e faz bonito.
Ele tem um roteiro extremamente simples, mas que precisa de seis mãos para ser escrito, talvez ambas as respostas estejam nesse lugar. Mas tendo que colocar as fichas em um lugar antes de acabarem as apostas, talvez quatro dessas mãos estejam nesse lado do riso. Rheet Reese e Paul Wernick já assinaram coisas como Zumbilândia e Deadpool, em ambas situações deram risada do gênero, como o fazem aqui em alguns momentos. Já o último par de mãos do roteiro é de Chris Mckenna, dos últimos filmes do Homem-Aranha e que nunca ficaram conhecidos pelas grandes e inteligentes tramas.
O que os três fazem é sair de um lugar interessante e divertido, mas sem conseguirem entender o clima que querem seguir. Nele, Evans é Cole Turner, um fazendeiro que está lá em sua feira da cidade vendendo seus legumes e plantinhas até que cruza o caminho de Sadie Rhodes (de Armas) e passam por um dia e uma noite de paixão. Mas no dia seguinte, enquanto Turner tenta entrar em contato com seu novo amor, fica sem respostas, o “ghosting” do título.
O problema do roteiro é que ele tinha um GPS em sua bombinha de asma que ficou com ela, o que faz ele tomar a pior decisão possível em termos narrativa, descobrir que Rhodes agora está em Londres e o melhor jeito de conquista-la é pegar um avião e ir até lá como se fosse um psicopata qualquer. Mas como estamos falando de um filme de aventura, ele acaba descobrindo que ela é uma agente da CIA e cai no meio de uma missão contra um vilão qualquer que gostaria de estar em algum filme com o James Bond ou com o Ethan Hunt.
O resto você, caro espectador que já viu esse tipo de comédia romântica com aventura envolvida, sabe. É tudo bem óbvio mesmo e só sai disso, por exemplo, quando resolve apresentar alguns “mercenários de vida curta” ou se diverte com a ideia da vida amorosa passada da personagem espiã. No resto do tempo, entre diálogos e pequenas brigas enquanto tentam sobreviver aos perigos da missão, o casal deixa de ser um casal antes de, no final de tudo, descobrir que são um casal perfeito e coisa e tal. Tudo meio chato e previsível.
Surpreendentemente, que ajuda pouco a fazer tudo isso não funcionar como poderia é a direção de Dexter Fletcher, que vem de ótimos trabalhos em Voando Alto e Rocketman, mas que aqui não atinge nem perto o patamar desses outros filmes. Parece só apontar a câmera para onde dá mesmo, sem carinho, capricho ou personalidade. Suas cenas de ação parecem muito mais poderosas que o resto do filme, principalmente por valorizarem as ideias das coreografias e encontrarem o ritmo correto, mas acabando elas, pronto, volta tudo para a chatice de sempre.
Mas a dupla de protagonistas é realmente simpática demais e absolutamente carismática, o que salva o filme de qualquer coisa que qualquer um irá dizer contrário à qualidade do filme. O casal realmente funciona, por mais que seja difícil ainda acreditar completamente na ideia do mesmo cara que um dia foi o Capitão América agora ser um cara caipira bobão e sem qualquer tipo de malícia na vida.
Talvez nem toda simpatia do mundo salve Ghosted, mas em contrapartida, isso faz com que a produção da Apple seja realmente bem simpática e pronta para cair nas graças de quem não conseguir lutar contra todo esse carisma e acabe clicando para dar um play no filme.
“Ghosted” (EUA, 2023); escrito por Rhett Reese, Paul Wernick e Chris McKenna; dirigido por Dexter Fletcher; com Chris Evans, Ana de Armas, Adrien Brody e Mike Moh
SINOPSE – Depois de se apaixonar por uma mulher que conhece em uma feira de produtos naturais, um jovem fazendeiro acaba descobrindo que seu novo amor é uma agente da CIA e acaba indo parar no meio de uma missão internacional.
