Um herói encontra outro. Por mais que ambos sejam bonzinhos, não param nem um segundo para conversar, não se conhecem, consequentemente, saem na porrada. Mais para frente o vilão de um deles surge para atazanar, os dois se juntam e descem o cacete no vilão. Desde que o mundo é mundo (pelo menos nas HQs) os crossovers são um deleite para os fãs, mesmo sem, necessariamente, fazerem muito sentido. Godzila vs. Kong entra exatamente nesse lugar.
A ideia nasceu em algum momento pós o primeiro Godzilla, de 2014. Um grande universo de continuações onde os monstrões reinariam sobre a Terra, destruiriam tudo, e se enfrentariam. Colocar tudo isso dentro de uma mitologia mais concisa ajudaria, mas nunca seria um problema, os monstrões fariam o necessário para isso dar certo. Kong: A Ilha da Caveira, consagrou isso e ligou tudo em 2017.
O segundo Godzilla, Rei dos Monstros, de 2019, colocou todo mundo para enfrentar o lagartão japonês e prometeu que o próximo degrau seria mesmo King Kong. Agora é hora.
Os dois então se encontram. Quebram o pau. Depois se juntam para quebrar um vilão em comum e terminam felizes para sempre. Tudo bem que nesse caso eles não teriam como conversar, mas com um pouco de esforço de um dos cinco roteiristas envolvidos (nunca um bom sinal!), talvez o resultado não fosse tão preguiço assim.
Godzilla é um macho alpha, meio babaca, fica por aí destruindo tudo aquilo que ele acha que vai tirar ele desse trono. Do outro lado, escondido na Ilha da Caveira, Kong está por lá, curtindo a natureza e fazendo suas caminhas matinais sem incomodar ninguém. No meio deles, a Monarca cria um esquema ainda mais gigantesco para deixar os dois longes um do outro enquanto pesquisa os monstrões… ou algo do tipo… não importa muito.
Surge então Walter Simmons (Demián Bichir), um megaempresário com intenções pouco democráticas. Você não vai entender como realmente ele faz, mas ele consegue convencer o cientista vivido por Alexander Skarsgard a levar o Kong por uma viagem até a Terra Oca em busca de uma fonte de energia misteriosa. Mas como o Godzilla é um chato, ele resolve acabar com tudo isso para provar que o Kong não é rei de nada. Pronto, tudo isso para servir de desculpas para o encontro dos dois.
Ah… os ótimos Millie Bobby Brown, Brian Tyree Henry e Julian Dennison formam um trio incrível e cheio de dinâmica, mas ficam vagando pelo filme sem uma razão real de existirem. O que é um desperdício. Mas ninguém se importa, o que todo mundo quer é Godzilla e Kong trocando sopapos.
Nessa hora, o trabalho do diretor Adam Wingard (do terceiro Bruxa de Blair e de uns segmentos nas antologias V/H/S), em parceria com a equipe de efeitos especiais, faz com que todo resto seja esquecido. Visualmente, o filme não deixará ninguém reclamar de nada, Godzilla e King Kong continuam incríveis, tanto em seus tamanhos, quanto no estrago que provocam e, principalmente, na dinâmica da porradaria. As “coreografias” são ótimas, duras, dolorosas e sempre mantém aquela impressão de que aquilo é real, o que ajuda para a diversão ser completa.
A responsabilidade de Wingard é fazer com que isso seja visível e empolgante, e isso ele consegue. As cenas são claras, valorizam os golpes e toda destruição. É fácil enxergar cada golpe e o quanto aquilo vai crescendo exponencialmente. A primeira luta é menor que a segunda e ambas são menores que a final, e é exatamente isso que todos querem de um filme com esse título.
E é só isso mesmo. Godzilla vs. Kong pode se equilibrar em uma história completamente sem sentido, preguiçosa e burra, mas ninguém está muito preocupado com isso, quem quer só ver os dois monstrões saindo na porrada vai receber absolutamente tudo aquilo que quer. Muito Godzilla. Muito King Kong. Muita porrada. Uma “meca surpresa” e mais porrada ainda.
“Godzilla vs. Kong” (EUA, 2021); escrito por Max Borenstein, Eric Pearson, Zach Shields, Michael Dougherty e Terry Rossio; dirigido por Adam Wingard; com Alexander Skarsgard, Millie Bobby Brown, Rebecca Hall, Brian Tyree Henry, Shun Oguri, Eiza González, Julian Dennison, Kyle Chandler, Kaylee Hottle, Demián Bichir e Kyle Chandler.