Wes Anderson tem um estilo específico, isso é inegável. É impossível ver um filme do diretor e não conseguir identificar que é obra sua. Um estilo muito definido, porém, acarreta algumas consequências – se por um lado, traz identidade, por outro, pode deixar a obra repetitiva. Isso acontece com Wes Anderson: se você viu mais de dois ou três filmes dele, a impressão de estar vendo o mesmo de novo e de novo é quase inevitável. Considerando isso, O Grande Hotel Budapeste é, sem dúvida, um de seus melhores filmes, mas passa longe de ser uma grande obra do cinema.
O Grande Hotel Budapeste é focado em seu protagonista, M. Gustave (Ralph Fiennes), concierge do hotel que dá nome ao filme. Um homem refinado e de gosto impecável, Gustave faz de tudo, sempre, para que seus hóspedes tenham tudo o que precisam – mesmo que isso envolva uma intimidade especial. Quando uma hóspede regular do hotel (Tilda Swinton) morre e deixa um quadro valioso para M. Gustave no testamento, ele, junto ao lobby boy Zero (Tony Revolri), se engaja numa fuga para ficar com a obra e se proteger dos filhos da falecida.
A trama é narrada em três linhas de tempo, atualidade, 1968 e 1932, e cada temporalidade tem sua própria estética, por assim dizer: cada linha de tempo tem o seu tamanho de tela, o que deixa as transições bem definidas e confere uma certa autenticidade – os tamanhos correspondem aos usados em cada época. As linhas de tempo conferem à narrativa uma dinamicidade interessante, e a apresentação de diferentes perspectivas acerca de uma mesma história leva uma nova dimensão à cena.
O filme traz, mais uma vez, os atores mimetizando os maneirismos de todos os filmes de Wes Anderson. O destaque, porém, fica com Ralph Fiennes, que consegue entregar a performance “andersoniana”, mas também conferir ao personagem algo que constantemente falta aos filmes do diretor: humanidade. Descontando Viagem a Darjeeling, que trata de temas mais sombrios e traz um contraste interessante entre o drama e o estilo, poucos filmes do diretor conseguem encontrar esse meio termo. O Grande Hotel Budapeste é vitorioso nesse aspecto.
Outra diferença em relação ao resto da obra de Anderson é a violência. Uma violência caricaturada e quase cômica, é verdade, mas, sim, há sangue, e sim, há tiros, cortes, facadas e, consequentemente, corpos. É um elemento novo, e a abordagem dada à violência faz com que ela se misture à estética do diretor, além de fazer sentido para o desenvolvimento da história.
Dito isso, a produção não foge do normal. A “rede de concierges” é uma ideia boa e muito engraçada, mas O Grande Hotel Budapeste é assim: tem boas ideias, bons momentos e ponto. Não é o melhor filme de do diretor, mas também está longe de ser o pior. É divertido, é meio fantasioso, é estranho, enfim é Wes Anderson.
“Great Budapest Hotel” (EUA, 2014), escrito por Wes Anderson, Stefan Zweig e Hugo Guinness, dirigido por Wes Anderson, com Ralph Fiennes, F. Murray Abraham, Mathieu Amalric, Adrien Brody, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Harvey Keitel, Jude Law, Edawrd Norton, Saoirse Ronan e Tony Revolori.