Guardiões da Galáxia é um ótimo filme. A produção, a princípio, parece mero oportunismo do sucesso dos tantos outros filmes de super-heróis que têm dominado as telas. Quer dizer, é fácil desconfiar da versão cinematográfica de uma equipe pouco conhecida fora do mundo dos quadrinhos feita por um estúdio que lançou dez filmes baseados em HQs nos últimos dois anos. Mas Guardiões da Galáxia surpreende. Permeado por referências pop divertidíssimas e com um roteiro bem amarrado, o filme justifica sua existência como bom entretenimento e faz valer o ingresso.
Vamos começar pela história: Peter Quill (Chris Pratt) é abduzido do planeta Terra da década de 1980 por um grupo de saqueadores. Flash forward e Peter, agora com cerca de 30 anos, é um ladrão galanteador, sarcástico e… “cheio de auto-estima”, vamos dizer assim. Após ser designado para roubar um artigo misterioso, o Orbe, Peter passa a ser caçado por outros interessados no mesmo artefato. Ronan (Lee Pace), um renegado da raça Kree, quer o Orbe para Thanos, que, em troca, prometeu realizar o que Ronan tanto deseja: destruir o planeta Xandar. Para fugir do vilão, Peter se reúne à assassina Gamora (Zoe Saldana), aos caçadores de recompensas Rocket (Bradley Cooper) e Groot (Vin Diesel), e ao alienígena azul e grandalhão Drax (Dave Bautista). Estão formados os Guardiões da Galáxia ¿ embora sem esse nome, tampouco com o objetivo inicial de ¿guardar a galáxia¿.
A história é complexa, repleta de detalhes, personagens interligados e séries e mais séries de ações de diferentes pessoas (ou aliens, no caso) convergindo. O universo complicado em que a história se estabelece poderia contribuir para criar um roteiro com furos, em que o mais fácil seria fazer muitas cenas de ação e simplesmente esquecer o que ficou não respondido. Há, sim, muitas cenas de ação, ótimas, por sinal. O uso do 3D é impecável e faz toda a diferença. Porém mais do que isso, o filme se mantém fiel às regras criadas de início e, apesar de todas as voltas, consegue chegar a um fim bem amarrado e esclarecedor. O que fica faltando é apenas o necessário para dar margem às sequências. Aliás, já tenho meu palpite para o próximo filme, mas vamos deixar assim, sem spoilers.
Baseado em um roteiro bem feito, Guardiões da Galáxia tem mais algumas qualidades que valem a pena o destaque. Um dos pontos altos do filme são as referências, que estão por toda a parte. Desde o início à la Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida, passando pelos artigos peculiares da sala do Colecionador (Benicio del Toro), pelas músicas setentistas e oitentistas do toca-fitas de Peter Quill, até a grande inspiração em Star Wars, que pulsa na tela o tempo todo. Rocket, por exemplo, é a versão animal de Han Solo, acompanhado de seu Chewbacca, aqui na forma de Groot. Todo o objetivo dos Guardiões após sua formação, também se assemelha demais à franquia de George Lucas.
A trilha sonora recheada de hits dos anos 1970 e 1980 é uma atração a parte, pontuando com humor diversos momentos do filme. O humor, aliás, é o grande trunfo de Guardiões da Galáxia: o clima da projeção inteira é leve, com piadas alçadas pelo sarcasmo de Rocket e Peter, pelas diferenças culturais entre os personagens e pela incapacidade de Drax de entender sarcasmo, ironia e metáforas. Esse último, em especial, arranca muitas risadas.
O ponto negativo expressivo do filme são os clichês. O herói órfão metido a gostosão, a mulher durona, o alívio cômico: a composição do grupo tem um representante de cada tipo de personalidade mais comum nos filmes de heróis. O vilão que quer destruir um planeta, a um vilão mais poderoso por trás do suposto vilão, está tudo lá. Entretanto, nada disso é muito comprometedor, tendo em vista as diversas outras qualidades do filme. Os Vingadores, por exemplo, também tem uma composição de grupo semelhante e seu roteiro não é tão redondinho para compensar.
Guardiões da Galáxia é consistente, divertido e bem feito, narrativamente e tecnicamente – apesar dos clichês. Serve para mostrar, mais uma vez, a capacidade da Marvel de adaptar seus quadrinhos para a grande tela. O humor verdadeiramente divertido e longe do pastelão é um alívio para quem gosta de uma boa comédia ¿ e uma surpresa, já que o diretor é o mesmo de Para maiores e Scooby Doo. O resultado é um excelente divertimento para qualquer público: vale a pena o ingresso (em 3D).
“Guardians of the Galaxy” (EUA, 2014), escrito por James Gunn e Nicole Perlman,, dirigido por James Gunn, com Chris Pratt, Zoe Saldana, Bradley Cooper, Vin Diesel, Dave Bautista e Lee Pace.
1 Comentário. Deixe novo
Boa crítica. Realmente é um excelente filme. Valeu meu ingresso 3D. Rendeu-me umas boas risadas.