O tom melancólico e preocupado dos créditos iniciais de Guardiões da Galáxia Vol. 3 é uma prévia do que vem adiante. No melhor dos sentidos, já que o terceiro filme de James Gunn à frente dos heróis cósmicos do MCU vai deixar um aperto no coração dos fãs, mas com um ritmo que se recusa a parar por um segundo sequer.
Do começo ao fim (ou fins), Gunn carrega o espectador em uma experiência repleta de ação, humor, emoções, aventura e personagens repletos de personalidade. Tudo está tão no lugar onde deveria estar que as duas horas e meia de filme passam deliciosamente rápido. E deixarão saudades.
Em meio a um clima de despedida óbvio, já que contratos do elenco estão em vias de acabar e James Gunn já é o novo chefão da “Distinta Concorrência” no cinema, Vol. 3 não tira o pé do acelerador e fecha a trilogia, mas sem em nenhum momento ceder à óbvia vontade de ser o último. É lógico que é um capítulo final, mas a vontade maior é de continuar entregando aos fãs o máximo possível de diversão, sem subterfúgios preguiçosos como apelar para emoções melodramáticas ou bobagens mal estruturadas.
Depois das duas aventuras, uma briga com Thanos e um especial de Natal, os Guardiões da Galáxia agora estão em uma base bem conhecida pelos fãs, Luganenhum, aquela cabeça de Celestial que já tinha aparecido anteriormente. Mas essa aparente calmaria é interrompida por Adam Worlock (Will Poulter), das cenas pós créditos do filme anterior, diretamente para essa missão de capturar Rocket (voz do Bradley Cooper). O ataque não dá tão certo, mas obriga os Guardiões da Galáxia a partirem em uma busca pelo Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji).
O ritmo do filme é então essa mistura de urgência, já que a vida de um dos personagens está em risco, com uma aventura que continua buscando ainda mais planetas, criaturas e ideias diferentes. O mundo cósmico de James Gunn parece não ter fim (e vai fazer falta!) e isso enche mais uma vez a franquia de cores, sons, músicas e personalidades que tem vida própria e são verdadeiros personagens.
A cada lugar que os Guardiões chegam o resultado é um show visual que vai explodir o olhar dos fãs. Gunn continua valorizando absolutamente bem tudo isso com uma direção que sabe ser ampla, precisa e particular em cada momento diferente. Não há perda, só ganhos. Tudo está na tela e se permite ser grandioso e empolgante. E mais do que tudo, emocional e emocionante.
Assim como nos outros filmes, Vol. 3 tem um foco emocional, um lugar onde é possível encontrar um drama poderoso sobre um dos personagens (sem spoiler) e acompanhar não só uma espécie de gênese dele, como também o quanto isso acaba influenciando a relação dos outros personagens, tanto entre si, quanto diante da questão de sua possível perda. Toda essa dinâmica talvez só aconteça diante de um roteiro esplendoroso, tanto por suas ideias, quanto pela capacidade de ser bem-humorado, dinâmico e preciso a cada cena.
É lógico que o elenco afiado e à vontade com os personagens ajuda demais nessa questão e um não funcionaria sem o outro. Volume 3 então talvez seja sobre isso, sobre essa conexão entre ideias, ações e intenções.
Do outro lado, Chukwudi Iwuji cria um vilão que já entra para a mais alta prateleira de personagens do MCU. Um personagem que é colocado em um lugar complexo de maldade e intenções ruins, mas que nunca são superficiais. Não existe lado bom no Alto Evolucionário, mas sim um desejo divino de arrumar o mundo à sua visão. Talvez uma motivação paradoxalmente parecida com a de Thanos, mas de modo muito mais cruel, pessoal e dolorido. Gunn sabe disso, então cria uma intimidade com suas vítimas antes de arrancá-las do espectador. Uma construção de vilão que deixará muita gente com o coração na mão e as lágrimas nos olhos.
E entre cenas de ação de cair o queixo (a luta no corredor sem corte é um espetáculo!) e momentos de tensão epicamente poderosos e que enfiarão os espectadores no fundo da poltrona (com uma montagem incrivelmente precisa!), Gunn quer mesmo é explorar a intimidade de seus personagens.
Os sentimentos de pertencimento desses personagens dentro desse grupo e mais profundamente ainda colocado nas vidas de cada um e de como a presença deles influencia suas presenças entrelaçadas desde aquele primeiro momento em que suas vidas se cruzaram. Suas emoções são desnudas diante de toda ação desenfreada. Há espaço de sobra para todo sentimento entre os tiros, golpes e frases bacanas.
Mas o maior espaço é para os espectadores e espectadoras, fãs. Esses e essas que aprenderam a amar os personagens de Gunn e terminarão o filme com os olhos recheados de emoções, mas também com a sensação de, pela primeira vez, estarem mais próximos do que nunca desses heróis cósmicos do MCU, próximos o suficiente para entenderem realmente as palavras vindas do coração do Groot. Próximos o suficiente para olharem para trás e sentirem a tristeza alegre de ter que se despedir desses personagens, mas com a sensação de uma jornada cheia de emoções, perigos e humor que, muito provavelmente, não será esquecida pelos fãs.
O MCU não será mais o mesmo sem seus Guardiões da Galáxia, mas foi uma baita de uma viagem satisfatória estar com eles durante esse tempo.
“Guardians of Galaxy Volume 3” (EUA, 2023); escrito e dirigido por James Gunn; com Chukwudi IWuji, Bradley Cooper (voz), Pom Klementieff, Dave Bautista, Karen Gilan, Vin Diesel (voz), Maria Bakalova (voz), Sean Gunn, Chris Pratt, Will Poulter, Elizabeth Debicki e Zoe Saldana
SINOPSE – No terceiro filme dos heróis cósmicos do MCU, o grupo precisa enfrentar o perigoso Alto Evolucionário para salvar a vida de um dos integrantes da equipe.
