Desde os primeiros momentos de ¿vida¿ nos cinemas, os zumbis serviram de reflexo distorcido do ser-humano e do mundo ao seu redor, então não é surpresa que, depois de introduzir os ¿mortos-vivos corredores¿ o próximo passo seja a pressa de Guerra Mundial Z. E como diria seu avô: ¿A pressa é inimiga da perfeição¿.
E é claro que a perfeição é algo completamente subjetivo, assim como essa pressa é relativa, ainda mais em um filme do tamanho de Guerra Mundial Z, mais caro do gênero na história e inteiramente formatado para que nenhuma opinião seja maior do que a satisfação (artificial) de quem entrar no cinema para ver Brad Pitt em busca da cura para um ¿famoso¿ apocalipse zumbi. Um herói mais que clássico indo em busca do maior dos objetivos: salvar o mundo.
Mas tudo isso ao custo de deixar de lado tudo àquilo que mais conquistou fãs ao redor da história e embarcar em um filme vazio e raso, que só se importa em fugir de uma legião acéfala de mortos-vivos, que correm aos bandos e se amontoam como formigas e não conseguem encontrar tempo nem para se transformarem. Um verdadeiro reflexo de uma sociedade sem paciência, que há pouco tempo não se importaria de ver alguém demorar dias, horas ou um filme inteiro, para começar a pedir ¿cérebros¿ por ai, mas que hoje precisa fazer isso em dez segundos. Guerra Mundial Z é então uma ode ao déficit de atenção.
E isso se reflete em uma série de pequenas histórias que não se permite durar mais que uma sequência, com o herói vivido por Pitt, um investigador da ONU viajando primeiro para a Coreia, depois para Israel e por fim para a Alemanha em busca de pistas para entender essa pandemia e encontrar uma cura. Ainda que isso queira realmente dizer algumas poucas experiências e conversas apressadas para que momentos depois se tornem um flashback/epifania onde ele descobre tudo aquilo que estava procurando. Uma solução preguiçosa e que se dependesse dela faria o cinema inteiro sair do cinema xingando Pitt, sua produtora Plan B, o diretor Marc Foster e o punhado de roteiristas que participaram do roteiro.
E talvez ai esteja o maior problema de Guerra Mundial Z, já que a sensação de esquizofrenia da obra é quase incomoda. Primeiro pelo óbvio dedo do roteirista Matthew Michael Carhnahan e um lado investigador da trama (como já tinha feito alguns de seus trabalhos como O Reino e Intrigas de Estado), já que o filme é modelado ao redor dessa busca; segundo, pela presença de J. Michael Straczynki que, muito provavelmente, deve ter empurrado tanto o começo promissor, quanto o final completamente depressivo (pense em prostituição e prisão de guerra) que foi recusado (chegou a ser filmado) e refeito diante de um novo texto da dupla Damon Lindelof e Drew Goddard (que trabalharam na série Lost e aqui, curiosamente, ¿assumem o filme¿ a partir de uma sequência envolvendo uma queda de avião).
O resultado então são três momentos imediatistas que, praticamente, não colam e quase poderiam ser separados em três filmes distintos. Um primeiro urbano, poderoso, interessante e empolgante, ainda que muito mal filmado, com um Marc Foster grudado demais na ação; um segundo que só quer se divertir com Brad Pitt fugindo do maior número de zumbis criados por CGI enquanto passeia pelo mundo; e um derradeiro onde a aposta no suspense e, praticamente, ignora toda ambição dos momentos anteriores. E como tudo isso acontece no prazo de menos de uma semana na vida do personagem, Guerra Mundial Z é uma correria desenfreada que não permite que o espectador respire, nem pense, o suficiente para tentar entender o que está acontecendo.
Um ritmo tão frenético e sem pausa que acaba se permitindo (sem perceber, ou não) que, quando necessita de uma razão mais profunda para se livrar de um personagem ou contaminar uma instalação inteira do governo alemão, apela para duas soluções ¿Shit happens¿ patéticas e cômicas. Ao mesmo tempo em que acaba não aproveitando muito bem a sutileza com que alguns momentos do primeiro ato são criados, como o boneco de pelúcia contando os segundas da transformação e o próprio protagonista garantindo que uma ¿zumbificação¿ se torne uma queda do alto de um prédio. Simplesmente por que nem para isso ele tem tempo (e quando o faz é sob um monte de tiros e mortos-vivos).
Entretanto, não o desespero narrativo e a correria, mas sim esse imediatismo, acaba sendo o maior acerto da trama de Guerra Mundial Z, já que convida o espectador a experimentar essas sensações de caos e desespero, principalmente desses primeiros minutos de filme (dentro do carro, esqueça a sequência inicial regada a panquecas) vivendo com a família de Pitt a sensação de mergulhar nesse apocalipse. Opção que ganha ainda mais força por manter os ¿dois pés¿ fincados na realidade e em situações que poderiam realmente acontecer. A pena disso é não ver esse esforço inicial se manter após a trama entrar em um helicóptero e virar um filme de ação comum.
Uma decisão de não discutir o que está acontecendo com o mundo a fundo, ainda que a todo o momento se esforce para ser global, que decide não discutir o mundo pós-apocalipse. Um filme de zumbi que soa artificial, sem sangue, sem gore, sem personagens se sacrificando e sem coadjuvantes para serem mordidos. Muito provavelmente o maior filme de zumbi da história do cinema, mas ao mesmo tempo também o menos interessante.
World War Z, escrito por Matthew Michael Carnahan, J. Michael Straczynski, Drew Goddard e Damon Lindelof e Max Brooks (livro), dirigido por Marc Foster, com Brad Pitt, Mireille Enos, James Badge Dale, David Morse, Daniella Kertesz, Pater Capaldi, Peifrancesco Favino e Fana Mokoena