São 11 filmes, o décimo primeiro é esse novo Hellraiser: Renascido do Inferno, produzido pela Hulu e com uma vontade clara de inaugurar uma nova série. O primeiro filme, escrito e dirigido pelo próprio Clive Barker, escritor que criou os personagens nos seus livros, é lá de 1987. Portando quase quarenta anos atrás. Não são poucas ideias que sobrevivem tão bem a todo esse tempo.
“Bem” talvez não seja uma palavra tão simples de colocar aqui nesse lugar, mas, ainda assim, poucas franquias chegam tão longe e com uma mitologia agregada tão poderosa e celebrada. Os Cenobitas de Barker saíram dos livros, ganharam os cinemas e expandiram em termos de cânone nos quadrinhos, tudo isso para agora ganhar, mais uma vez, a oportunidade de voltar aos holofotes depois meia dúzia de filmes (talvez sete… ou nove até) que ficam muito abaixo da média de qualquer um.
Mas sobre todos escorregões os Cenobitas ainda reinam. Fãs do gênero os reconhecem de longe, assim como a caixinha que os liberta. Fora do terror, todo mundo conhece o líder deles, Pinhead, ou “O Padre” (ou “Sacerdote”), com a cabeça toda cheia de pregos e uma vontade de levar suas vítimas para experiências de prazer e agonia que ultrapassam os limites da humanidade.
O novo filme dirigido por David Bruckner (que vem de trabalhos interessantes em A Casa Sombria e O Ritual) foca justamente nisso: nessa mitologia. É lógico que não se permite nunca ser uma pregação somente para os já iniciados, ele é novo, e apresenta tudo isso novamente, mas com um mesmo ar de antologia que marca a série inteira. Suas ligações com todo outro material, diretamente falando, não existe, a não ser pela caixa, os Cenobitas e um grupo de personagens que acabam entrando nesse mundo meio sem querer (ou em alguns casos, procurando isso).
A história é criada pela mesma dupla de A Casa Sombria (Ben Collins e Luke Piotrowski) em parceria com o (ultra) experiente David S. Goyer, com uma carreira que vai dos Batmans de Chistopher Nolan até coisas com Batman vs. Superman e O Homem de Aço, portanto, do céu a um inferno que assustaria até os Cenobitas. Mas aqui ele acerta. A história do filme flui sincera e com consciência de seu tamanho e intenções. O que deve conquistar a atenção dos fãs e também de quem não conhecia a série.
Primeiro os espectadores são apresentados a um milionário esquisito (Goran Visnjic) que atrai um personagem qualquer e prestes a ser descartado para perto da famosa caixa. O resultado é uma criação de clima e perigo que escorre pelo filme e facilita a aproximação do lado de cá da tela com o resto da história, mais comum ao resto da série que vem depois do primeiro (e também diversas histórias de terror), com um grupo de jovens que se metem nessa trama (meio) por acaso.
Riley (Odessa A´zion) é uma jovem que sai dos vícios em drogas, mas não consegue ganhar a confiança do irmão. Até que ela decide tomar o caminho mais fácil com o novo namorado e invadem um armazém, dentro dele, encontram a tal caixa. O resto não vai muito além do esperado, mas funciona perfeitamente bem.
Riley e seus amigos têm motivações emocionalmente interessantes e o suspense da ideia toda não deixa o filme cair em um horror sem sentido cheio de sustos ou gore. Os Cenobitas são antes de qualquer coisa uma sombra ou até uma ideia de rabo de olho que pode ser apenas o resultado de alguma loucura ou insanidade dos personagens. Acertadamente, antes de se tornar uma realidade, o terror de Hellraiser está no clima, mas quando o filme embarca no gênero, não decepciona.
Talvez depois disso, desse primeiro instante, os Cenobitas fiquem claros demais e meio anticlimáticos, como se fora demais das sombras e de segredos, meio exposto demais e sem o suspense. O que mergulha tudo em um terror diferente, iminente e sem escapatória. Como se os monstros estivessem lá sem existir uma fuga, o que dá uma ideia ainda mais diferente para toda proposta.
Para encaixar tudo isso e ainda se tornar minimamente coerente sem ser um slasher qualquer, há ainda uma trama com certas surpresas e um final que estende ainda mais toda mitologia e aceita o quanto o melhor da série inteira é isso: o canônico.
E enquanto Hellraiser continuar acrescentando boas ideias à sua mitologia, sacrificando gente aos limites da agonia e prazer e conseguindo fazer isso com um visual bacana e caprichado como nesse novo filme (as maquiagens e soluções são incríveis), os fãs ficarão gratos de verem mais e mais filmes, séries, quadrinhos e o que quer que seja que traga, Pinhead e seus (suas) Cenobitas de volta à ação.
“Hellraiser” (EUA, 2023); escrito por Ben Collins & Luke Piotrowski e David S. Goyer; dirigido por David Bruckner; com Odessa A´zion, Jamie Clayton, Adam Faison, Drew Starkey, Brandon Flynn, Aiofe Hinds, Jason Liles, Yinka Olorunnife, Delina Lo, Zachary Hing e Goran Visnjic.
SINOPSE: Uma jovem com problemas com drogas acaba entrando no caminho dos Cenobitas e precisará tomar algumas decisões que colocarão a vida dela e de seus amigos em risco