A Marvel não pode errar. Não pensando em seus fãs, mas sim naquele monte de executivos (da Sony) que estão por trás de todo dinheiro. Esqueça o romantismo desse esforço, esses engravatados ao redor de uma grande mesa de reuniões (tudo bem, não acontece assim, mas a imagem clássica é essa!) só permitem que o dinheiro continue fluindo diante do dinheiro entrando. Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa vai fazer muito dinheiro entrar, já que muito dinheiro já entrou com essas mesmas ideias.
Em 2014 nas HQs, o Amigão da Vizinhança teve sua vida invadida por dezenas de versões suas de outras dimensões. A série foi um sucesso. Em 2019, a animação da Sony, Homem-Aranha no Aranhaverso não só apresentou o Miles Morales para o pessoal do cinema, como ainda encheu a tela de outros (e excêntricos), Homens (e mulheres)-Aranhas . Isso não quer dizer que o novo filme de Jon Watts tenha mais de um Homem-Aranha (li na ficha do elenco e eles não estão lá!), mas não é surpresa nenhuma que o filme arrumou um jeito criativo de fazer o Homem-Aranha (do Tom Holland) enfrentar “sua” própria versão do Sexteto Sinistro (ou “Quinteto”).
Para quem não está familiarizado com os quadrinhos, o Sexteto Sinistro é uma equipe de vilões do Aranha que desconfiam que o trabalho em equipe poderá dar fim ao herói. Spoiler, eles nunca conseguem. De qualquer jeito, no cinema, essa “equipe de vilões” surge na dimensão do MCU quando Peter Parkers procura o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para que ele faça um feitiço que acaba com a memória de todo mundo e eles deixem de lembrar que o Peter é o Homem-Aranha (como aconteceu no filme anterior).
O feitiço da errado e o Homem-Aranha precisa então enfrentar esses vilões dos outros filmes. E só isso mesmo, sem spoilers.
Consequentemente, também vai ser complicado falar muito mais do filme sem estragar as surpresas de muita gente. E esse esforço vale a pena. O roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers (que vêm escrevendo a franquia desde o primeiro) é preciso, sabe onde quer chegar, não desvia disso e entrega um filme intenso, emocionante, bem ajustado e que vai entregar absolutamente tudo aquilo que os fãs esperam… e talvez até um pouco mais.
A trama é consistente e constrói rapidamente esse cenário. A grande novidade do filme já estava nos trailers e o roteiro não perde muito tempo construído essa dinâmica. Em pouco tempo todos aqueles vilões já estão em cena e o espectador poderá desfrutar dessa relação. As surpresas aqui é que o caminho disso tudo não segue aquilo que o espectador espera, vai além ao mesmo tempo que abraça a mitologia do personagem. Um presente real para os fãs, tanto das HQs, quanto dos filmes.
O texto dos dois ainda entende perfeitamente bem a personalidade de (absolutamente) cada personagem do filme, independentemente do universo que “moram”. Sem Volta Para Casa ainda vêm com o bônus de alguns dos diálogos mais sinceros, divertidos e emocionantes do MCU, mas isso é spoiler.
O que não é spoiler é que Sem Volta Para Casa é um daqueles filmes onde o riso e a empolgação podem ser interrompidos com lágrimas. Assim como os momentos de redenção podem vir de onde você menos imagina. Resumindo, McKenna e Sommers parecem saber exatamente onde estão pisando.
Quem também parece mais à vontade do que nunca é o diretor Jon Watts. Ainda mais econômico, objetivo e seguro. Suas cenas de ação são interessantes, claras e empolgantes. Seus diálogos são diretos e bem montados, sem nenhum movimento de câmera desnecessário e com o foco total nos personagens. Sem Volta Para Casa é o filme dessa trilogia que demonstra melhor o quanto seu diretor sabe onde colocar sua câmera.
Mas não esqueça do incrível trabalho da dupla Leight Folssom Boyd e Jeffrey Ford na montagem. O primeiro vem de um monte de trabalhos na franquia Velozes e Furiosos e coloca essa experiência “veloz e furiosa” no ritmo desse novo Homem-Aranha. Já Ford vem trabalhando em alguns dos melhores filmes do MCU (incluindo os dois últimos dos Vingadores) e o resultados disso é uma consciência enorme do material que tem em mãos e do quanto esses fãs precisam, respirar, gritar, bater palmas e chorar. A montagem de Sem Volta Para Casa parece deixar esses momentos separados só para essas reações e o resultado é incrível. Um cinema que irá reagir e se emocionar.
E mesmo com algumas “surpresas não tão surpreendentes”, o filme guarda, não só boas surpresas, como um esquema que valoriza essas “não surpresas”. O resultado vai ser o filme preferido de muita gente. Principalmente os fãs dos Homens-Aranhas. De todos eles.
“Spider-Man: No Way Home” (EUA, 2021); escrito por Chris McKenna e Erik Sommers; dirigido por Jon Watts; com Tom Holland, Zendaya, Benedict Cumberbatch, Jacon Batalon, Jon Favreau, Jamie Foxx, Willem Dafor, Alfred Molina, Marisa Tomei, J.k. Simmons, Rhys Ifans, Thomas Haden Church etc.