O mais interessante de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania não é nada do filme, mas sim algo que se alojou ao seu redor no exato momento que a primeira exibição do filme terminou: As pessoas que entraram para ver um terceiro filme do Homem-Formiga e esperavam mais do que um filme qualquer e esquecível.
Talvez seja a culpa do trailer e da presença de Kang (Jonathan Majors), grande vilão da nova fase do MCU, mas ainda assim, é só mais um filme do Homem-Formiga, um personagem tão irrelevante e coadjuvante que isso se torna uma piada recorrente dentro de seus filmes. Criar expectativa diante de tudo isso chega a ser injusto com o próprio filme, que até cumpre menos do que promete, mas é só mais um filme do Homem-Formiga e ninguém se importa.
Isso faz dele um filme ruim? Longe disso, talvez mais fraco ou menos interessante, mas ainda assim é uma aventura que funciona na maior parte do tempo, com um visual divertido e um vilão que não tem motivação, mas que é interpretado por um dos atores mais interessantes e diversificados de sua geração, o que é um acrescimento maravilhoso para a Marvel nos cinemas. Fora isso, o filme continua dirigido pelo burocrático Payton Reed, que agora está no MCU, mas antes disso esteve em pérolas como Sim Senhor (aquele com Jim Carrey) e As Apimentadas (aquele com a líderes de torcida).
Reed não empolga ninguém desde o primeiro filme, acerta muito menos do que dá sono e agora, nesse terceiro filme tem a oportunidade de sair de São Francisco e rumar para um universo inteiro, o famoso (ou famigerado) Reino Quântico que, para quem não conhece, tudo bem, ele é quântico, isso quer dizer que pode ser qualquer coisa desde que esteja em algum lugar que você não sabe explicar, “um lugar fora do espaço e do tempo”, o que quer isso signifique.
A “Famíia Formiga” acaba sendo puxada para dentro desse lugar depois Hank Pyn (Michael Douglas), sua filha Hope (Evangeline lilly) e a filha do Homem-Formiga oficial, Cassie Lang (Kathryn Newton) resolvem fuçar o tal Reino. Já lá dentro, o próprio herói precisa redescobrir sua vontade de ser um herói enquanto sua sogra, Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) precisa lidar com seu passado, já que ficou trinta anos presa lá no lugar.
O roteiro de Jeff Loveness é fraquinho, mas coloca tudo no lugar certo para os heróis saírem na porrada com um monte de capangas de Kang e com o próprio vilão no terceiro ato, isso enquanto, direta e indiretamente, a “Família Formiga” ajuda na revolução “quantuniana” para destronar do déspota atemporal e sua máquina de matar MODOK (na verdade M.O.D.O.K.). E é só isso.
Mesmo vindo de um monte de trabalhos e salas de redação de programa humorísticos e episódios de comédias, Loveness não consegue acertar o clima do filme. Talvez falte até um humor mais bem construído ao invés de uma ou outra gag. Enquanto o trabalho com MODOK é preciso e hilário, o resto parece sem vontade de ser montado o suficiente para ter nuances. Toda jornada de Lang, por exemplo, é rasa como um pires e só chega ao final sem qualquer tipo de surpresa, força ou vontade de ser algo diferente daquilo desde os primeiros minutos de filme.
E se o caminho dele é assim, o da sua parceira de título é ainda mais desperdiçado, colocando até em dúvida a real necessidade da Vespa batizar o filme se quase nem participou do filme. É mais fácil acreditar que o filme é da Vespa original, Janet, com muito mais importância para a trama do que qualquer outro. Já as melhores falas da família ficam com Hank Pyn, assim como as mais interessantes soluções e até a responsabilidade de salvar o dia. De modo quase quântico, Michael Douglas tem pouco espaço no filme, mas é de longe a segunda melhor coisa dele. A primeira é Majors.
O Kang de Majors só não é maior, porque nem o roteiro, nem o diretor, permitem. A cada cena que ele aparece, tem sempre a oportunidade de criar um momento elegantemente poderoso, cheio de raiva, charme, imponência e pretensão. Durante o enorme flashback que corta o segundo ato do filme e arranca todo ritmo da história, Majors brilha. Cada vez que precisa ser um vilão, Majors é repugnante. Quando é necessário a delicadeza das palavras, Majors é sutil. Durante os créditos finais ele ainda ganha a oportunidade de enlouquecer e se transformar em ainda mais “Majors” diferentes.
Se para quem acha que isso foi um spoiler e não sabe que Kang é o grande vilão dessa fase do MCU, ficam as desculpas. Mas também seria melhor ainda que Payton Reed se desculpasse por desperdiçar o próprio filme só para apresentar Kang para o MCU e um mundo que, muito provavelmente, nunca mais será visto no MCU. As soluções visuais do Reino Quântico são ótimas, realmente diferentes de tudo, mas Reed faz seu pior trabalho em termos de ação, o que faz Quatumania ser um algo lindo, mas sem a empolgação necessária de um filme de aventura como ele deveria ser.
Mas como é só um filme do Homem-Formiga, não dava para esperar muito mais do que isso. Quem entrar no cinema só esperando mais um filme qualquer com a quantidade mínima de cenas de ação e personagens divertidos para só empurrar o espectador em direção a um próximo filme do MCU com um pequeno sorriso de satisfação no rosto, Quantumania talvez te satisfaça. Mas esperar muito mais do que isso é, com certeza um erro de expectativa.
