Todo remake é uma oportunidade de trazer um filme mais antigo para os olhos de uma nova geração. Homens Brancos Não Sabem Enterrar não foi um filme obscuro de 1992, afinal, dois nomes de seu trio de protagonistas já tinham até uma certa fama, mas se tornou cult por uma série de fatores. Já o novo Homens Brancos Não Sabem Enterrar, produzido diretamente para o Star+, só existe para colocar em dúvida a razão de sua produção.
No original, os jovens Woody Harrelson (praticamente em seu primeiro grande papel no cinema) e Wesley Snipes (que já tinha sua pequena fama) são dois jogadores de basquete amadores que resolvem se juntar para dar golpes em quadras por Los Angeles, afinal, ninguém acredita que o personagem de Harrelson poderia jogar bem. Nem que conseguisse enterrar.
O novo vai um pouco no mesmo caminho, mas não chega no mesmo lugar. Ele agora é comandado pelo diretor Calmatic, que já tinha assinado outro remake, o de Uma Festa de Arromba, após alguns anos assinando clipes de rappers. Mas o caminho não é completo, fica ali no meio, perdido.
Sai de cena as quadras de periferia e os golpes e entra em cena alguns ginásios, academias e até dois campeonatos devidamente legalizados e cheios de uniformes. Como se tentasse pasteurizar e limpar toda divertida sujeira do original. Com isso, vai embora um certo calor e uma vontade de estar perigosamente no limite da moralidade, o que deixava seus personagens incrivelmente complexos e interessantes. O que sobra agora são dois caras legais e cheios de sonhos, o que é chato.
Calmatic pelo menos não decepciona no visual e faz as partidas de basquete serem divertidas e empolgantes, mas sempre falta uma motivação mais poderosa. Os golpes da dupla de personagens passam rápido, já que tem um objetivo honrado e nobre, um campeonato que quase valeria como uma lavagem de dinheiro para os dois, mas é só celebração, cenas aéreas e sol. Mas falta suor e crises mais realistas.
Além dos dois, enquanto no passado o espectador podia acompanhar o sonho da parceira de harrelson vivida por Rosie Perez (que já tinha feito Faça a Coisa Certa) com seu conhecimento aleatório e a certeza de que iria ganhar muito dinheiro em um programa de perguntas na TV, agora o problema passa por uma entediante oportunidade de se tornar coreógrafa de um cantor qualquer que faz com que ela (Laura Harrier) analise sua relação com o namorado (Jack Harlow).
Para sorte do filme, ele (Harlow) e Sinqua Walls dão conta do recado e conseguem entreter enquanto constroem esses dois personagens completamente diferentes, mas com algo em comum que os une. Os dois tem um certo carisma e, mesmo nem de longe chegando perto de Harrelson e Snipes, ainda assim constroem uma química que ajuda o filme a seguir em frente. Mas é pouco.
Não por não ter chegado aos pés do original, mas por não conseguir entender o imediatismo daquela história. Falta fervor e personagens mais na corda bamba emocional e ética. Falta um pouco mais de humor e uma vontade de não ser todo bonitinho e limpinho para as telas de TV. Sobra ainda uma trilha sonora preguiçosa e desastrosa que tenta ditar todas emoções do filme. Talvez falte coragem de ser mais Homens Brancos Não Sabem Enterrar e menos uma versão dele.
Já sobre o título, enquanto o original tinha isso como uma questão que extrapolava o preconceito e um monte de questões urbanas, sociais e esportivas, os novos tempos parecem não permitir que isso seja repetido, o que deixa a ideia perdida dentro de uma piada malfeita. Até porque, faltam enterradas no novo filme. O que nunca é um bom sinal.
Talvez o novo Homens Brancos Não Sabem Enterrar, ele próprio, não saiba enterrar.