I Comete é uma brisa de ar fresco pós-pandemia que muitos ainda esperam. Poder fazer parte de sua comunidade sem medo. Interagir sem qualquer restrição de espaço. Falar sobre o cotidiano. O quão pouco perdemos nos últimos dois anos acaba sendo o pouco que mais importa.
Estamos na ilha de Córsega, no Mediterrâneo. Quarta maior ilha da região, ela acabou sendo anexada pela França apesar da maioria da população falar outro idioma (corsa) e ter costumes bem diversos do continente. No entanto, o filme trata mais do que há de comum entre todos seres humanos e as diferenças formam uma camada fina, apenas mais uma situação motivo de conversa.
Há muito bate-papo no filme, quase todo, sobre amenidades, opiniões ou decisões do dia-a-dia. Vários níveis de comunicação humana são vistos, e todas elas bem naturais e que devem ocorrer milhões de vezes todos os dias pelo mundo. O filme é uma gravação documental, sem muito roteiro. Os diálogos são inventados pelos personagens do cotidiano e apenas a linha geral das histórias segue a batuta do seu diretor. E roteirista. E ator. E editor.
Esse filme de câmera sempre parada é o primeiro na direção de Pascal Tagnati, que já atuou em alguns trabalhos, sempre em participação menor, como A Odisseia de Alice e A Lei da Selva. Aqui ele faz Théo, um rapaz deprimido. Théo não une o resto dos personagens. Há pouca conexão na trama entre eles. O ponto em comum é que todos vivem esse verão no mesmo espaço da ilha. É o reencontro anual dos que moram no continente e os nativos.
Apesar de duas horas, Um Verão na Córsega passa rápido. Com seu ritmo leve e muitos personagens e diferentes tramas que não levam a lugar algum, se trata de uma experimentação simpática e insossa. Uma fuga do espectador da vida comum direto para a vida comum dos outros. É o cinema como meio de transporte entre bolhas.
“I Comete” (Fra, 2021), escrito e dirigido por Pascal Tagnati, com Jean-Christophe Folly, Cédric Appietto e Jérémy Alberti.