Nem todo filme “coming of age” é bonitinho e simpático, alguns deles estão muito mais no caminho do Crime e Castigo. Irmandade é um desses exemplos, um filme de “transformação em adulto”, mas carregado de culpa e arrependimento.
A jornada de crescimento é da dupla de melhores amigas Maya e Jana (Antonija Belazelkoska e Mia Giraud). A primeira vinda de um lar quebrado pela separação, mas que encontra na amiga a possibilidade de fugir desse mundo e ser ela mesma. Na verdade, uma “ela mesma” que se encontra mais no que os outros querem, do que alguém que ela realmente quer ser.
O foco do filme é em Maya e no quanto ela vai se deixando levar pela personalidade expansiva da amiga. Pela sensação de estar sendo aceita pelo grupo maior. Seja em um “salto de confiança” do alto de uma pedra, seja ára se aproximar do garoto que ela gosta. Jana empurra Maya por esse caminho, até que tudo vai longe demais e elas precisam lidar com ações delas que podem ferir outros.
É nessa encruzilhada que Maya e Jana se separam, não logo de cara, mas em um dinâmica que é o que mais interessa para o roteiro da diretora Dina Duma em parceria com Martin Ivanov. A trama acompanha de perto Maya e vai tentando entender o turbilhão de emoções e dúvidas que ela vai precisando lidar e enfrentar.
A culpa não vem sem antes a diretora fazê-las passar por baixo de algumas cruzes que cortam o horizonte da cidade. Mas talvez isso não seja o que afunda Maya, seu desespero é em lidar com a possibilidade de ver tudo que ela achava ser ela, agora começar a não ser mais. É uma crise de identidade, suas ações não condizem com a Maya que ela achava que que fosse, mas sim com a Maya que elas estava se transformando. Talvez isso não seja culpa, mas sim arrependimento mesmo. Irmandade é sobre arrependimento.
Não “arrependimento” por ter feito algo, mas sim por ter se permitido fugir de si mesma e buscar alguém que não é. A câmera de Dina Duma não larga isso de mão, cola em Maya de modo quase visceral e enxerga ela com transparência.
Essa transformação de Maya é o foco de Irmandade. Entender o quanto essa amizade pode leva-la a um lugar onde isso não irá destruí-la. O crime e o castigo não estão movendo Maya, mas sim o que a move é a capacidade de entender esses dois pontos e, por fim, crescer sob a lente mexida e apreensiva de Duma. E essa chegada na vida adulta é o resultado emocional e poderoso de Irmandade.
“Sestri” (Mac/Kos/Mont, 2021), escrito por Dina Duma e Martin Ivanov; dirigido por Dina Duma; com Antonija Belazelkoska, Mia Giraud, Marija Jancevska e Hanis Bagashov