Já Não Me Sinto em Casa Neste Mundo | Simpatia dos protagonistas salva o filme de um fracasso maior


[dropcap]C[/dropcap]laramente bebendo da fonte dos irmãos Coen, Já Não Me Sinto em Casa Neste Mundo perde o controle sobre si mesmo assim que a trama começa a desenrolar-se e não consegue acertar nem em sua abordagem da violência, da apatia ou da crueldade, nem em seus momentos de humor bizarro. E, se o arco dramático da protagonista funciona até certo ponto, isso acontece apenas graças a Melanie Lynskey.

Ruth (Melanie Lynskey) vive uma vida rotineira e entendiante. Até que sua casa é assaltada — os criminosos levam seu laptop, seus antidepressivos e os talheres de prata que ela herdou da avó — e, ao perceber que a polícia não vai fazer nada para capturar os culpados ou reaver seus pertences, Ruth decide agir por conta própria. Para a missão, ela convoca seu excêntrico vizinho Tony (Elijah Wood), um sujeito pacífico com um surpreendente jeito com armas marciais e um instinto apurado.

A partir daí, são apenas Lynskey e Elijah Wood que impedem Já Não Me Sinto em Casa Neste Mundo de tornar-se totalmente insuportável. Embalado por uma trilha sonora que captura perfeitamente a inconsistência do longa, o filme parece apaixonado demais por si mesmo para perceber que seus personagens secundários são todos entendiantes, que seu “mistério” central não é nada envolvente ou que ele, na verdade, não parece ter nada a dizer sobre a condição humana ou sobre a violência que permeia nossas existências, como parece acreditar que tem.

O resultado é uma série de acontecimentos que desenrolam-se sem ritmo ou envolvimento algum. Um diretor e roteirista mais inspirado (ou mais competente mesmo) do que Macon Blair poderia ressignificar isso como resultado da apatia e do desnorteamento da própria protagonista, mas aqui é apenas resultado de presunção e falta de controle sobre a obra. Tecnicamente, o único aspecto que chega a ter algum dinamismo é a montagem de Tomas Vengris, que acompanha bem a mudança de tom de cada cena mais do que qualquer outro elemento.

E se Elijah Wood consegue encontrar humanidade e complexidade em um personagem com um fiapo de caracterização, Melanie Lynskey carrega o filme nas costas. Demonstrando bem o tédio e a falta de perspectiva da protagonista — que são muito mais resultado de sua condição mental do que apenas de sua rotina —, ela também se sai bem nos momentos em que Ruth começa a demonstrar um pouco mais de certeza acerca do que quer e, aos poucos, vai aprendendo a manifestar isso. Mas, apesar de Blair claramente achar diferente, cada encontro com personagens secundários que podem ou não levar Ruth a seu objetivo faz o filme perder ainda mais o seu ritmo.

Mas, por mais talentosa que a atriz seja e por mais que ela e Wood desenvolvam uma parceria interessante, os dois não chegam perto de fazer este trabalho valer a pena. Afinal, Já Não Me Sinto em Casa Neste Mundo parece ter nascido para perder-se em meio ao catálogo da Netflix e, apesar de seu título interessante, não tem nada a dizer sobre seus temas que não seja insípido.

“I Don’t Feel at Home in This World Anymore” (EUA, 2017), escrito e dirigido por Macon Blair, com Melanie Lynskey, Elijah Wood, Gary Anthony Williams , Lee Eddy e Matt Orduna.


Trailer do Filme – Já Não Me Sinto em Casa Nesse Mundo

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