Jogos Mortais V Filme

Jogos Mortais 5 | Enjoei

Todo sábado, por uma década ou mais, meu avô levava meu pai, ainda criança, para comer frango à passarinho. Sempre no mesmo restaurante. Hoje, muito tempo depois, ainda vejo meu pai torcer o nariz para o prato, quase sempre fazendo de tudo para passar sem os pedaços fritos de galinha. Por que lembrei dessa história? Simples, por que é exatamente isso que Jogos Mortais 5 e todo o resto da franquia está se tornando: algo enjoativo.

A grande verdade é que, desde o primeiro e todo seu impacto, que os filmes decorrentes da série vem se perdendo dentro de suas próprias armadilhas (me desculpem pelo trocadilho). Se no segundo, uma trama ainda surpreendia no fim, o mesmo não se podia dizer do terceiro, muito menos do quarto e não deixando absolutamente nada para esse quinto, que se transforma em uma experiência autofágica sem a mínima graça.

Tentando criar uma mitologia ao redor do assassino Jigsaw, o que resta agora é ficar chafurdando nos outros filmes, tentando ao máximo possível mostrar alguma coisa que tenha passado despercebida neles. Quase um exercício contínuo de imbecilização dos epectadores, como se, a todo tempo forçasse a barra de algum jeito, seja na quantidade de personagens que parecem ter ajudado o assassino desde o começo, ou no que parece ter levado Jigsaw, e seu exército, a fazer aquilo.

E esse é um ponto que não vou me repetir, já que falei dele na crítica do filme anterior mas vale apenas deixar claro a impressão que se começa a ter, como se a cada novo filme mais e mais a trama se resumisse a uma armadilha bacana, um final surpreedente e um novo personagem que vem ajudando o assassino desde antes do primeiro.

Quanto às outras duas obrigatoriedades da trama, ambas acabam ficando bem abaixo do esperado. Primeiro, as tais armadilhas/torturas, que não chegam nem perto de nenhuma anterior em qualquer quesito que seja, além de reciclar (leia-se copiar ou repetir) idéias já previamente usadas, tirando assim totalmente o fator novidade.

Isso tudo ainda é temperado com o que, mais uma vez, parecer ser a obrigatoriedade de criar duas ou mais narrativas paralelas dentro da trama, uma, é claro, contando a vida do assassino em série, já que ele morreu e assim se tornando o único jeito de continuar usando o personagem. Uma outra linha mostra seis pessoas acordadando em uma sala onde têem que sair por uma porta (Deja Vu?) para chegar em outra sala, com outra armadilha. Tudo isso enquanto o policial que terminou vivo no último filme tenta desvendar os mistérios de Jigsaw.

O grande problema de tudo isso, é que as duas linhas fora da armadilha são tão mais exploradas, que o que seria o principal do filme acaba se tornando perdido, renegado e extremamente desinteressante. Como se não tivesse tempo suficiente, nem para desenvolver seus personagens, muito menos para pensar em desafios mais complexos a atrantes. Sem esquecer da aparente promoção de explosívos plástico que o assassino encontrou, já que todas salas “irão explodir caso vocês não consigam fazer tal coisa em quinze minutos”.

O resultado imediato disso tudo, é que ao invés de um final chocante e surpresa, coisa que, pelos menos os filmes anteriores se esforçaram ao máximo para fazer, aqui tudo acaba se tornando algo óbvio e sem o mínimo charme, que não engana nem o mais inexperiente dos espectadores. Como se esquecesse que tem que surpreender o cinema lotado a espera disso. E o pior, ainda aposta todas suas fichas em um explicação para toda trama, mas que não empolga, acaba ficando sem força e entediante, dando a aquela impressão de “tá, e daí”.

O que todas sequencias vem se esquecendo, é que o primeiro só deu extremamente certo por uma fórmula que se mostra desaparecida desde lá, um modo minimalista, onde cada personagem tinha presença suficiente, e tempo suficiente, para tentar sair daquela armadilha, mais ainda, escapar de algo que tomava o filme inteiro, onde Jigsaw, e todos outros, eram coadjuvantes de uma situação. E não o contrário.

Voltando ao meu pai, lá no primeiro parágrafo, pelo menos ele era obrigado a comer um dos melhores frangos a passarinho de Santos, já nós, espectadores, estamos sendo obrigados a ver algo que passa bem longe disso.


Saw V (EUA, 2008) escrito por Patrick Melton e Marcus Dunstan, dirigido por David Hackl, com Tobin Bell, Costas Mandylor e Scott Peterson


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