Depois de mais de uma década ajudando a Pixar a se tornar um dos maiores nomes do cinema mundial, assim como Brad Bird fez no mais recente Missão Impossível, agora foi hora do “pai” do robozinho Wall-E e do peixe Nemo encarar a vida real, ainda que nem precise ir muito longe da Pixar (como Bird) para fazer isso, já que John Carter – Entre Dois Mundos é uma das grandes tentativas da Disney (também dona da Pixar) no ano.
E se você não ligou o nome a pessoa, John Carter (o horroroso subtítulo da versão brasileira pode ficar de lado) é o nome do herói da série de livros escritos por Edgar Rice Burroughs (aquele mesmo de Tarzã) sobre Barsoon, nome dado a Marte pelos habitantes do mesmo. Carter (no filme, vivido por Taylor Kitsch, o Gambit de X-Men Origens – Wolverine) é então um soldado da guerra civil americana que acaba acordando nesse planeta e tendo que sobreviver a esse monte de aventuras que resultaram em 11 livros.
Entretanto, todas essas histórias vêm sendo ensaiadas para o cinema há mais de duas décadas, e não de graça, já que o resultado não teria outra possibilidade a não ser custar uma fortuna e ter a obrigação de emplacar nos cinemas um tipo de fantasia que, às vezes, parece ser ignorada pelo espectador. John Carter então encara esse desafio, e talvez não consiga chegar ao melhor dos resultados.
De um lado, Jonh Carter é essa aventura divertida, que se vale de uma direção de arte sensacional, de um roteiro amarradinho escrito pelo próprio Stanton em parceria com Michael Chabom (que já até ganhou um Oscar por Garotos Incríveis) e Mark Andrews; por outro, pela impressão que o mesmo Stanton tem uma enorme dificuldade em manter todo pique entre as sequências de ação, deixando que todo resultado perca um pouco o interesse depois que as peças foram apresentadas e John Carter acaba refém de uma pequena intriga política para chegar a seu final.
A impressão é realmente essa, de um filme que vai caindo de ritmo até chegar perto demais do tédio para conseguir voltar à ativa. Conhecer esse personagem principal, sua personalidade, sua vontade de enfrentar todos (a montagem de suas fugas, ainda no velho oeste americano, é deliciosa), que parece ter o único objetivo de achar essa caverna cheia de ouro, é divertido vê-lo chegar a esse novo planeta, conhecer esses enormes marcianos de quatro braços e dividir com, o espectador, toda surpresa de agora ter esse tipo de super-poderes (que logo é devidamente explicado), é mais divertido ainda. O problema começa quando toda essa novidade começa a acabar.
E entre essas novidades, talvez o mais bacana de tudo seja realmente esses tais marcianos de quatro braços, principalmente pelo cuidado visual com que todos ganham vida, já que, em linhas gerais são idênticos. Sejam pequenos detalhes anatômicos, na vestimenta ou até em suas atitudes fazem então com que essa enorme tribo sobre em personalidade, ainda mais quando Stanton em nenhum momento parece se esconder entre esses pixels (todos são criados por computador) para funcionar. Diferente do Avatar de James Cameron, aqui, os habitantes locais de Barsoon não só interagem com os personagens humanos de modo claro e limpo como também parecem muito mais a vontade em suas estruturas (e sim, eu estou falando mal dos personagens azuis de Pandora) e muito menos “esquisitos” em seus movimentos.
Mas voltando ao visual de John Carter, é verdade que Stanton também parece perceber não só o belo trabalho nos personagens, como em todo resto do visual, e, pelo menos, tem a percepção de aproveitar cada momento, plano e cenário quando tem a oportunidade. Então, quem entrar na sala de cinema não vai poder reclamar da falta de sequências de ação enormes, batalhas maiores ainda, um personagem simpático voando por esse planeta árido e efeitos especiais de tirar o chapéu. Entretanto, quem não embarcar nessa viagem fantástica terá que se contentar com uma trama pouco empolgante sobre um conflito que assola Barsoon (vulgo Marte) e que pode acabar com o casamento da princesa de uma das cidades, Helium, com o vilão e imperador de uma cidade rival que vem deixando um rastro de sangue e dominação por todo planeta.
O calcanhar de Aquiles de John Carter é então essa incompetência em criar essa linha narrativa de modo mais eficiente, talvez até aceitando-a de modo mais clássico. De modo pragmático, esses dois reinos lutam sob essas duas cores, uma acreditando no conhecimento, outro na dominação e assim por diante, mas em nenhum momento sequer esse “lado mal” convence como o grande perigo do filme, principalmente pela falta de força com que é formada essa dupla de vilões formada por Dominic West de modo quase caricato e bobo, atirando para todos os lados enquanto usa uma espécie de “raio mortal” e é manipulado (o que tira mais ainda sua força narrativa) pelo personagem de Mark Strong, uma espécie de monge marciano com poderes extraordinários que age nos bastidores para que Barsoon siga seus planos. Pior ainda, fazendo ser difícil entender qual a razão de atuar de modo tão burocrático para chegar a seus objetivos, onde, talvez toda selvageria tivesse o mesmo resultado.
A impressão que fica então é que toda essa estratégia está lá apenas para dar a oportunidade de John Carter impedir na última hora que haja o casamento e assim salvar todo planeta. Assim como é difícil encontrar razões suficientes para uma enorme sequência onde Carter, uma das marcianas verdes e a tal princesa (Lynn Collins, que foi namorada do mutante canadense em X-Men Origens – Wolverine) seguem em uma odisséia para encontrar respostas sobre a vinda do protagonista, mesmo que isso acabe pouco importando. É claro que essa viagem não só propicia que Stanton se divirta com mais um pouco do visual realmente espetacular de Barsoon, assim com que tudo resulte em uma batalha sangrenta (azul, mas ainda sangue), porém tudo com a impressão que todo aquele tempo poderia ser melhor aproveitado, já que até toda beleza do mundo (desse ou de qualquer um que seja) precisa de um pouco de conteúdo.
E talvez seja esse o problema de John Carter – Entre Dois Mundos, esse aparente contentamento em ser uma aventura rasa, emocionante, mas nunca empolgante, que te carrega para um novo mundo, mas não permite que ele seja assim tão deslumbrante quando você se acostuma com seu visual.
John Carter (EUA, 2012) escrito por Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon , dirigido por Andrew Stanton , com Taylor Kitsch, Lynn Collins, Samantha Morton, Willem Dafoe, Thomas Haden Church, Mark Strong, Ciarán Hinds e Dominic West.
4 Comentários. Deixe novo
Pois eu gostei muito do filme. Estou cansada de assitir sempre as mesmas cenas de violência sem sentido dos filmes de ação. Esse pelo menos tem uma bela estória de amor interpretada por um belo casal. Não sei o que significa esses comentários sobre mesmice, chatice, etc. Vai ver é de gente que só gosta de violência e pornografia.
dois babaca fazendo Comentários idiotas vá casar o que fazer
puff, esse site dá 2,5 pra jogos vorazes e 3 pra john carter? filme chato, previsível. não gastem dinheiro vendo isso no cinema
Um pouco de AVATAR, um pouco de STAR WARS e batalha épica. As velhas fórmulas que já conhecemos estão nesse filme da DISNEY com o título de “JOHN CARTER:ENTRE DOIS MUNDOS”. Acho que todos nós já estamos cansados desses enredos, né? Achei muito “parado” e previsível demais. Se você está esperando ficar impressionado com esse filme desista de vê-lo pois não acontecerá nada que você já não tenha visto. Criaturas, naves espaciais, vilões com super poderes, um reino dividido e uma civilização nativa em busca de reconhecimento. Como disse, totalmente previsível. abraços.