O único jeito de aproveitar Jumper é se ele for sua primeira experiencia cinematográfica, pois qualquer um que já tenha visto meia dúzia de filme de ação vai se irritar com o novo filme de Doug Liman, não por ser óbvio, que isso com certeza ele não é, já que para algo só se tornar óbvio ele precisa ser explicado e fazer sentido
Entretanto, seria até imprudente apontar para um culpado, já que os sempre prováveis não se encaixariam nisso. Liman se mete em Jumper depois do sensacional Identidade Bourne e do divertido Sr. E Sra Smith, o trio de roteiristas formado por David S. Goyer, Jum Uhis e Simon Kinberg, escreveram filmes como Batman Begins, Clube da Luta e Sr. E Sra Smith, respectivamente, exemplos que, antes de qualquer coisa, se mostram inteligentes e divertidos (cada um no que se propõe a fazer). Talvez seja a junção de tudo isso que desande.
Jumper não tem pé nem cabeça, sem se preocupar em mostrar uma história e, muito menos, dando à pouca que tem alguma função dentro da trama. Quase nada se liga a nada e tudo desfila pela tela sem uma razão aparente. Terminar de ver Jumper é um experiência tão marcante quanto sair de uma sessão de um um filme de David Lynch, só que sabendo que não foi você que não entendeu, foi o filme que não fez questão (ou esqueceu) de explicar.
E se você sair do cinema contente por não saber ainda no que consiste o poder do personagem principal, ou de onde vem, que fim levou o seu pai e seu amigo Griffin, além de seu perseguidor implacável, Roland, (que sai de cena com um risinho ridículo de “é isso aí garotão”), ou até que raios de máquina os tais paladinos usam, baseadas no que, e melhor ainda, quem são esses cara que se vestem todos iguais e, finalmente, porque usam aqueles bastões com eletricidade, sinta-se com sorte, pois sair do cinema com “só” essas questões (encarando-o como um filme puramente Blockbuster feito para entreter o grande público) é quase um ultraje.
Se essa grande incógnita que o filme se apóia (não sei se para uma sequencia, ou para uma série de TV, ou somente para provocar a discussão), não fosse seu único problema seria fácil relevar tais rombos narrativos, mas Jumper ainda carrega consigo um problema maior ainda: Hayden Christensen.
No filme, o ator é David Rice, adolescente que um belo dia descobre que tem a habilidade de se teletransportar (como o Noturno dos X-men, só que sem o azul). Descoberto seu poder especial, resolve então deixar para trás seu pai abusivo e frustrado, pois foi deixado pela esposa, e toda cidadezinha que o humilha na escola, vai para Nova York e vira ladrão de bancos (por que, ao melhor estilo deputado em mensalão “você no meu lugar faria a mesma coisa”). Mas ao mesmo tempo em que efetua seu primeiro “saque”, e já parece dominar totalmente seu poder, começa então a ser perseguido por um grupo de “sei-lá-o-quês” chamados Paladinos e tem que sobreviver a seus ataques para voltar a seu status quo (de criminoso).
Christensen, que apareceu para o mundo como o protagonista da nova trilogia de Star Wars, agora tem que viver um anti-herói, e para isso ele repete o papel que fez em Factory Girl ano passado, com os olhos sempre meio cerrado, constantemente olhando para fora da imagem quando quer mostrar que está nervoso, ou pensando, ou chateado, ou com fome ou talvez com sede. O problema é que, no filme passado ele era uma alusão a Bob Dylan, com isso matando dois coelhos com uma cajadada só: o pior anti-herói com cara de Bob Dylan, assim como o pior Bob Dylan com cara de qualquer coisa menos de Bob Dylan.
Do lado da direção, quando não está tão perto da ação que a vezes enche a tela do cinema com a parte de trás da cabeça de algum personagem, em um ou outro momento Liman até faz um bom trabalho, principalmente nas boas trucagens de câmera para economizar um trocadinho. É só prestar atenção como as vezes os teletransportes são nada mais que boas movimentações de câmera com uma composição bem feita e uma edição acertada.
Jumper dá a impressão de que em algum momento do filme você foi teletransportado para outro lugar e acabou perdendo alguma coisa, do mesmo jeito que Samuel L. Jackson, e seu cabelo branco, vem perdendo o juízo a cada besteira que vem se metendo, assim como o filme só não afunda de vez sua carreira, por que suas fragilidades narrativas não te deixam enxergar mais nada na tela a não ser os personagens desaparecendo e (infelizmente) aparecendo em lugares diferentes.
idem (Eua,2008) escrito por David S Goyer, jum Uhis e Simon Kinberg, dirigido por Doug Liman, com Hayden Christensen, Samuel L Jackson, Diane Lane, Jamie Bell, Rachel Bilson