Jurassic World: Domínio | Crítica do Filme | CinemAqui

Jurassic World: Domínio | Ian Malcolm está certo

O sexto filme da “franquia Jurassic” tinha absolutamente tudo para se tornar um dos mais interessantes, corajosos, delicados e originais, entretanto, o objetivo do diretor Colin Trevorrow é fazer de seu Jurassic World: Domínio somente um filme desinteressante, covarde, estabanado e sem absolutamente nada de novo. Se é o fim da franquia, Treverow lhe dá um encerramento que beira a frustração.

Se isso parece um exagero, o estrago que Trevorrow faz com a franquia talvez seja maior. O diretor volta ao comando dos dinossauros depois do “novo primeiro”, onde não foi capaz de fazer nada de muito novo e ficou o tempo todo tentando emular o original. O filme foi obviamente um sucesso, já que o cinema estava há mais de uma década sem ter contato com os “dinos do Spielberg”. Mas as falhas eram visíveis e o filme só se arrastava entre ideias mal copiadas da própria franquia.

Com um resto de ideia em mãos, essa espécie de “volta da extinção”, boa vontade e sensibilidade, J.A. Bayona faz em Reino Ameaçado, e pela franquia, algo que somente Spielberg tinha feito no primeiro filme: um filme sobre dinossauros. Melhor ainda, fez muita gente chorar com dinossauro morrendo e ainda abriu as portas para a revolução e um novo mundo. A aposta poderia ser alta e o resultado surpreendente. Nada disso acontece.

Por alguns míseros minutos do começo de Domínio, o espetador é colocado nesse novo mundo onde os dinossauros aparecem presentes em uma realidade em que o ser humano achava estar no controle. O filme ainda lá no final volta para esse mesmo lugar, tentando entender o quanto a existência dessa raça dominante irá mudar o mundo. Mas o poder desses dois momentos espreme um filme de ação bidimensional e preguiçoso.

Para Trevorrow, basta uma trama onde a garotinha Maisie Lockwood (Isabella Sermon) é sequestrada junto com a filha da Blue (a velociraptor). O problema é que ambas estavam vivendo sob os cuidados do casal Owen e Claire (Chris Pratt e Bryce Dallas Howard), que, logicamente, por serem heróis de ação, partem em busca de ambas.

Por trás dos sequestros está um bilionário excêntrico vivido por Campbell Scott, mergulhado na mesmice do estereótipo e pronto para ser só mais um vilão que poderia estar enfrentando o James Bond ou sendo CEO de alguma empresa do Vale do Silício. Lewis Dodgson (Scott) é então o criador da Biosyn (o trocadilho com a palavra “bio” e “pecado” é de uma preguiça delirante!), uma megacorporação que tenta salvar os dinossauros para encontrar neles as soluções para qualquer problema de saúde do mundo. Mas (sempre tem um “mas”!) ele também tem um plano de criar a fome no mundo para controlar os alimentos através de um gafanhoto mutante (ou algo estapafurdicamente parecido com isso).

É nesse momento que entra em campo o Ellie Sattler (Laura Dern), que começa a desconfiar disso e tenta buscar provas dentro do laboratório da Byosin com a ajuda do arqueólogo Alan Grant (Sam Neill) e do sempre interessante Ian Malcolm (Jeff Goldblum). Portanto, as duas gerações da franquia se juntam, mas nenhum dos lados funciona direito.

Jurassic World: Domínio | Ian Malcolm está certo

A dupla mais jovem está presa em um filme do James Bond, com o Chris Pratt até imitando ele em uma perseguição com motos. Já os mais experientes estão em um filme muito mais eficiente e interessante, mas Traverrow não parece se importar muito com isso e aposta mais na ação, no som alto, na gritaria e nos novos dinossauros, ainda mais assustadores, para vender bonequinhos. Alguns dinossauros são apenas versões alternativas dos já clássicos, o que demonstra o quanto a ideia ali não era nunca encontrar um filme coerente, mas sim apenas dar trabalho para os especialistas em CGI.

Traverrow não faz absolutamente nada de novo. Mesmo bem-feitas e visualmente interessantes, absolutamente qualquer plano que ele coloca na tela nessas cenas de ação parece tirado de algum outro filme de ação. Portanto, não existe novidade e isso é cansativo em se tratando de um filme de quase duas horas e meia.

Mas principalmente falta sensibilidade e vontade de entender o material que tem em mãos. Domínio não é em nenhum momento sobre esse “domínio”. Na verdade, existe apenas um pequeno momento perdido no meio de toda esculhambação, onde Maisie e mais um monte de gente observa um gigantesco e lento dinossauro caminhar pelo meio de um canteiro de obras. Não há medo ali, nem ação, somente admiração e respeito. Pequenos seres humanos entendendo que desceram da cadeia alimentar. Ela, também clonada como o dinossauro, tentando entender a própria existência. Esse é o filme que Jurassic World: Domínio deveria ser.

É esse filme que Spielberg entendeu nas duas oportunidades que esteve por trás da franquia, assim como é o mesmo lugar onde Bayona encontrou suas intenções. Derek Connolly e o próprio Trevorrow assinaram tanto o filme anterior, quanto o novo, o que demonstra o quanto cada umas dessas opções de ignorar as possibilidades do filme são conscientes.

Trevorrow e Derek agora ainda ganham a parceria de Emily Caremichael nos roteiros, responsável por, entre outros trabalhos esquecíveis, o texto de Círculo de Fogo: A Revolta. O resultado disso parece ser uma enxurrada de diálogos ruins entre absolutamente todos personagens presentes no filme. Com certeza se os dinossauros falassem também teria falas ruins. A exceção fica com Jeff Goldblum.

Dono das poucas linhas de diálogo que funcionam dentro do filme, é fácil achar até que todas elas vieram do próprio ator, mas isso é difícil de apontar. Ian Malcolm brilha a cada vez que aparece na tela, como se fosse incapaz de estar ali no meio de todo mundo sem ser o destaque. É dele também o melhor momento do filme, onde ele declara a maior verdade da franquia: “Eu odeio o Jurassic World”. Eu também, Mr. Goldblum… eu também.


“Jurassic World: Dominion” (EUA, 2022); escrito por Emily Carmichael, Colin Treverrow e Derek Connolly; dirigido por Colin Treverrow; com Chris Pratt, Brice Dallas Howard, Laura Dern, Sam Neill, Jeff Goldblum, DeWanda Wise, Mamoudou Athie, Isabella Sermon e Campbell Scott


Trailer do Filme – Jurassic World: Domínio

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