Kick Ass Quebrando Tudo Filme

Kick-Ass – Quebrando Tudo

 

Dentro dessa onda de adaptações dos quadrinhos para os cinemas, entre mortos e feridos, sobrevivem um bom punhado de produções que acabam sempre sendo bem recebidas, tanto pela crítica quanto pelo público (fã ou não). O problema são os mortos e feridos, e Kick Ass- Quebrando Tudo é um deles.

Escrita por Mark Millar e John Romita Jr. (e desenhada pelo segundo), dois nomes mais que estabelecidos da indústria de quadrinhos, a série foi lançada por um selo autoral (“Icon”) da Marvel Comics (aqui pela Panini) e, antes mesmo de chegar à rua, teve  seus direitos vendidos. Bem verdade, quem leu a série entende por que isso logo de cara, já que uma de suas principais qualidade é uma estrutura narrativa fortíssima aliada a um senso de humor ácido e uma violência extremamente visual. Três fatores que obviamente se esfarelariam na transposição para as telas, já que seria impossível manter o nível da HQ e ainda assim ganhar, nos cinemas, qualquer coisa que não fosse uma classificação etária extremamente alta (o que prejudicaria suas bilheterias e afastaria o público jovem).

Na história, um nerd padrão, Dave Lizewski (vivido pelo desconhecido Aaron Johnson) tem a epifania de se tornar um super-herói, com uniforme e tudo mais. E, ainda que logo de cara em sua “primeira missão” ele apanhe como um condenado, logo sua ideia dá certo ele se torna um fenômeno midiático com a ajuda de um vídeo no “Youtube”.

Mesmo seguindo quase a risca a história original, Kick Ass falha exatamente onde o gibi mais acerta: em sua falta de compromisso. Enquanto a HQ escracha uma idéia, o diretor Matthew Vaugh (que dirigiu outra adaptação dos quadrinho recentemente, o mediano Stardust) parece receoso exatamente em não extrapolar os limites do espectador. Mesmo que isso seja a mola mestra da história, já que até mesmo seus personagens, por muitas vezes, não acreditam no que está acontecendo. Como se tudo aquilo fosse um “falha” em suas realidades.

O vilão vivido por Mark Strong, não poucas vezes, parece não acreditar no que está vendo, como se aquele bando de caras vestindo uniformes não pudessem fazer parte do resto do contexto, e é exatamente essa estranheza que Vaugh deixa passar (relegando ela apenas ao vilão mesmo) principalmente ao acabar encarando tudo com uma visão um pouco cética de menos, como se fosse fácil aquilo existir. Por mais ridículo que seja.

De outro lado, ainda opta erroneamente por uma estrutura totalmente linear, que não lhe permite uma espécie de “devaneio narrativo” do personagem principal, que narra tanto a HQ, quanto o filme, só que no primeiro partindo de um flashback de como ele foi parar naquela primeira sequencia (no gibi) onde ele é torturado por alguns capangas do vilão. Isso não só acaba com boa parte da diversão do material original, como priva o espectador de qualquer reviravolta na trama, já que em algumas partes o roteiro (e a montagem) parecem obrigados a mostrar um “enquanto isso…”, interrompendo demais o ritmo e perdendo um pouco a ligação do personagem principal, já que tais momentos fogem de sua “visão”.

É desse jeito que Vaugh por pouco não perde a dupla de “combatentes do crime” Big Daddy e Hit-Girl, mas acaba não conseguindo segurar o interessante Red Mist. Ambos por participarem, no original, de momentos chave carregados de surpresa, mas que aqui são tratados em tramas simultâneas e sem o mesmo peso.

A primeira, graças as duas atuações inspiradíssimas de Nicolas Cage e de Chloe Moretz. Ele um vigilante a lá Batman, que carrega consigo o visual soturno, mas parece engessado em uma imitação barata daquele mesmo que fez sucesso no seriado de TV no anos 60, com diálogo entrecortados por pausas, assim como algumas “saídas” por porta e janelas, totalmente dramáticas, mas com uma cobertura de violência. Cage ainda dá um show ao tratar seu Big Daddy do exato jeito que Christian Bale trata seu Cavalheiro da Trevas, com olhos cerrados e uma voz gutural saída não se sabe de onde, fazendo com que sua verdadeira identidade secreta apareça sim sem a máscara. Nesse caso, um pai presente e dedicado a pequena filhinha, que ainda ajuda-o no combate ao crime sobre a alcunha de Hit-girl, uma pequena e divertida sociopata de doze anos que rouba o filme.

Por outro lado o Red Mist vivido por Christopher Mintz-Plasse (o McLovin de Superbad) acaba sendo jogado fora graças exatamente essa linearidade, que não lhe dá surpresa nenhuma e faz com que seu personagem apenas vague pelo roteiro, sem nenhum momento interessante.

Mas pelo menos, é exatamente toda essa loucura em torno da história inteira que não permite Vaugh derrapar, já que ela é boa demais para ser estragada (assim como seus personagens são divertidos demais para que os atores não se sintam a vontade neles, gerando atuações senão boas pelo menos medianas, para cima, em geral), permitindo ao espectador entrar no cinema preparado demais para esse clima bizarro, depois de ver o trailer ou ler algum tipo de resumo, para não se divertir com o que tem pela frente.

O grande ponto negativo, somente para quem leu a HQ (bem verdade), é saber onde o filme podia chegar, mas parece não ir tão longe. Talvez medo da censura ou apenas um preciosismo com todo material (buscando o sucesso mais até que a diversão), mas que, mesmo assim, fará com que muita gente venha a, pelo menos, desfrutae de maneiras diferentes o gibi e o filme, se divertindo em ambas.


Kick-Ass (EUA, 2010) escrito por Matthew Vaugh e Jane Goldman, a partir da série de quadrinhos de Mark Millar e John Romita Jr., dirigido por Matthew Vaugh, com Aaron Johnson, Christopher Mintz-Plasse, Nicolas Cage, Mark Strong e Chloe Moretz


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