Lixo Extraordinário | Arte

A definição mais fria de arte contemporânea passa por palavras e expressões como choque, busca do conceito, perca das amarras do belo e inquietação; levando isso em conta, Lixo Extraordinário extrapola um pouco essa barreira de filme e cai de cabeça nesses novos dogmas que se permitem seguir essa “nova” arte.

Não que o cinema por si só já não seja uma arte e exista uma necessidade de enquadrá-lo (o filme) em algum lugar, a diferença aqui é que, desde o início, Lixo Extraordinário olha para o artista plástico Vik Muniz (talvez um dos maiores nomes do Brasil no exterior) e, por mais que pareça interessado naquela história, naquela aventura de passar dois anos de sua vida fazendo arte a partir do aterro sanitário do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro (e maior do mundo), não demora muito para se ver olhando para um grande mosaico humano formado pelos trabalhadores do local, os catadores.

Ainda dentro de seu escritório nos Estados Unidos (onde reside) a câmera olha para o artista deslumbrado pela enormidade do local através de uma foto de satélite, naquele momento é ele mesmo quem acaba se sentindo pequeno diante daquilo e percebe o quanto suas próximas ações podem, simplesmente, mudar as vidas daquelas pessoas, e é justamente ai que se percebe o conceito, o passo atrás para entender o quadro em toda sua beleza. Lucy Walker, que dirige o filme em parceria com Karen Harley e João Jardim (esse último que fez o ótimo Janelas da Alma) percebe exatamente isso e faz com que Vik Muniz, em nenhum momento, seja a estrela do filme (o que não seria difícil de entender se fosse), mas sim apenas um aglomerador, um meio para chegar até o que realmente importa.

O equilíbrio do filme é tão grande que esse conflito é praticamente invisível, é impossível enxergar a separação entre os temas, entre o criador, a obra de arte e os verdadeiros artistas (como Muniz parece sempre fazer questão de enfatizar, mesmo que de modo velado). Lixo Extraordinário trafega exatamente através dessa teia humana e sensível, que por um segundo “pinta” uma classe de pessoas desesperadas, párias perdidos nos restos que a sociedade produz, mas tem a humildade de logo depois enxergar essas pessoas com esperança e força. Durante todo tempo o espectador é convidado e viajar, não em pequenas histórias (o que se deixaria cair no clichê), mas sim em pessoas vivas, que acabam tendo a possibilidade de ver um pequeno fio de esperança aonde se agarrar.

Mais ainda, Lixo Extraordinário tem a força, e a segurança narrativa, de, em certo momento, discutir até o quanto realmente essas pessoas mudaram diante daquilo, diante da possibilidade de olhar, não só para a beleza da arte feita justamente daquilo que, para eles é sustento, mas não parece mais servir para a sociedade. Em um terceiro momento, de modo mais sensível ainda, Lixo Extraordinário acaba até receoso se sua presença é benéfica para aquelas pessoas, não por demagogia, mas por uma humildade que carrega o filme.

O documentário, uma produção em parceria do Brasil com o Reino Unido, tem personalidade o suficiente para não se deixar cair no paradoxo entre o lixo e a arte, entre o leilão em Londres e os barracos rodeados pelo próprio lixo com porcos chafurdando ao ar livre, nem parece preocupado em se tornar preciosista com suas imagens (por mais que em certos momentos se permita observar o trabalho dos catadores como composições muito mais artísticas), o filme parece sim, rumar em busca do “fator humano”.

Acompanhando um dos catadores indo trabalhar a câmera do trio de diretores observa o personagem bradar sobre o caminhão que “A luta é grande, mas a vitória é certa”, palavras sábias, que escorregam através de um sorriso sem dentes, atropelada pela falta de escolaridade (como o próprio faz questão de lembrar), mas que brilham com os olhos marejados de esperança e do orgulho de estar ali fazendo um trabalho honesto. É fácil o espectador dar de cara com a surpresa desses momentos e perceber que a consciência, tanto de vida quanto ecológica (que está tão em voga), às vezes se descobre muito mais forte em lugares que ninguém imagina.

Em outros momentos, sobre uma montanha enorme de lixo o escuro do cinema é presenteado com uma alusão entre Maquiavel (encontrado todo “chorumado” e secado atrás de uma geladeira) e a situação do Rio de Janeiro, quem faz a comparação é Tião, presidente da Associação de Catadores que ele próprio criou para ajudar a classe (e o mesmo que estampa o pôster do filme posando como o famoso quadro “A morte de Marat”, do pintor francês Jacques-Louis David).

As obras de Vik Muniz, que percorreram o mundo e fizeram um sucesso descomunal, estão lá, em um lugar que permite ao espectador olhar toda mecânica da criação, concepção e conceito, mas tudo isso talvez apenas para permitir que o espectador veja não aquelas obras prontas, mas sim aquelas pessoas dando de cara com a beleza tirada daquele lixo, da possibilidade de se verem transformados em arte, em uma beleza que parece lhes convidar a olhar para o futuro com um pouca mais de esperança. São essas lagrimas verdadeiras que talvez movam o filme, o choro de Tião em Londres vendo sua imagem ser leiloada e percebendo que ali estava o resultado de seu sonho. Aquele lugar que, provavelmente, nem em seus maiores desejos se enxergou chegando, o mesmo que é posto à prova quando vê sua Associação ser roubada, o mesmo lugar que ele, hoje, pode falar que chegou.

E do mesmo jeito que Lixo Extraordinário fecha esse ciclo ao mostrar no começo o artista Vik Muniz como convidado em um talk show e, no fim, o próprio Tião ocupando o mesmo lugar no sofá, faz com que o espectador olhe para a arte contemporânea não só como, simplesmente, arte, mas sim artistas, histórias, pessoas e contexto, transformações e conceitos, que nesse caso é o de fazer com que aqueles catadores ganhem o mundo como os seres humanos que são, ou até como obras de arte que se tornaram.


Waste Land (Bra/RU, 2010), dirigido por Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim, com Vik Muniz


31 Comentários. Deixe novo

  • Olha eu achei esse filme muito interessante . Vi pela primeira vez na escola.. E hoje tenho que fazer um relatório sobre ele.. E estou cheia de idéias .

  • muito legal,muita dedicaçao na obra,parabens.

  • Flaviane Limaa
    07/05/2012 20:33

    Ameeei O Traaailler Vejoo que o filmee Tiraaa ondaaa (y)

    Muuitooo leeegaaal ‘

    Tou fazendo um trabalho que contem Lixoo tiipoo : eesse Assuntooo (y

  • marcilene
    01/03/2012 11:12

    Vejo esse trabalho do Vik em 4 dimensão pois revela aos olhos do espectador o valor da vida os principios como oportunidades aos simples artistas que se tornaram as personagens ,essa oportunidade na vida deles foi única mesmo que fossem várias a sensassão que temos e de que também podemos ser tão importantes ou artistas também em nossas vidas comuns.parabéns vik.

  • eh legal oq voces comentaro pois agora voces sabes sobre o lixo ou um pouco deles , o trabalho daquelas pessoas para separa todo aquele lixo e sucata alguns ate pegam doenças mas eh bom demais q voces comente oq acharam ….adorei tambem o filme e agradeço q voces tambem tenham vistos e aprenderam um pouquinhos sobre o lixo e a sucata .!!!!!!!bjjs

  • marcia prado
    27/11/2011 14:51

    Extraordinário! Parabéns ao ilustre Vik por abraçar essa causa social e principalmente por ter vencido na vida e permanecer sensivel à humanidade .Você é de DEUS !

  • Gostei demais espetacular.

  • Acabei de assistir esse documentário,axo ke deveria se passar nos canais de tv,e ver ke mesmo o vik sendo um atista plástico,ele se preocupou com cada pessoa,ai, vai uma dica,deveriamos mais se importar cm as pessoas,do ke com fofokas da vida alheia

  • Vi este filme na sala de aula da faculdade, e achei muito legal pelo fato de poucos terem a audacia de ir em busca de informações, dados reais e que também gastou durante 02 anos seu tempo para que essas história, essa realidade fosse mostrada. Apesar de aumentar os créditos do artista na mídia, isso porventura tenho para mim que não foi só a fama que o levou a montar este documentário, mas sim a importância que o tema lixo é uma constante preocupação da sociedade, pois as pessoas ainda não colocaram em suas “paisagens mentais” (cérebro- consciência), como diz o meu professor. Que a destinação final do lixo e a separação dos materiais reciclaveis corretos podem amenizar o prejuízo/agressão que este faz para o meio ambiente e para as pessoas inseridas nele. E também mostrar a realidade (cadê os políticos) e que de fato a recíproca é verdadeira, “Poucos com muito e muitos com pouco, ou quase nada”.

  • Regina Souza
    24/10/2011 16:56

    Esse filme acaba com o estereótipo de que o povo brasileiro é um povinho!
    “Povinho” não trabalha nem vive naquelas condições e nem dá lições de moral e ética tão profundas!
    Parabéns ao Vik, por sair do conforto de sua casa e viver no lixo por 2 anos!

  • Samara da Silva Fernandes
    20/10/2011 12:38

    99 não é 100,incrivél esse documentário…Adoreei…

  • thalia agnes
    03/10/2011 9:46

    eu cosdei muito porque é interesonte

  • tayna dos santos
    03/10/2011 9:39

    eu adorei porque e um trabalho muito bonito

  • Muito interessante, esse documentário serve para reflexão de duas partes, para as autoridades como meio de alerta pela diferença que os catadores fazem para com os descartes da sociedade, que é imenso, e para os catadores como forma de incentivo de continuar lutando pelos seus sonhos, pois mesmo vivendo nas condições do momento não devem perder o que todo ser humano deve manter, seu direito de sonhar e a esperança de alcançar algo melhor, não se esquecendo que se os outros humanos não o ver nosso senhor Jesus verá.

  • Renata Nikiele
    04/09/2011 19:45

    Filme expetacular!!!

  • eu vi esse filme,é mto mto mto bom msm…

  • EU vi e adorei o filme, chorei em muitas cenas e rir em outras, a emoção de ver algo tão ilustre tomando forma foi uma das melhores, realmente bom, minha professora de redação ta pedindo uma resenha sobre o filme e vai ser um prazer realizar esse exercício. VIk boa iniciativa manolo /

  • Odiei , muito chato esse filme .
    Perdi meu tempo assistindo , e a vaca da minha prof de história ainda quer uma resenha dessa porcaria . ¬¬

  • Heloísa *-*
    20/08/2011 17:11

    \o/ adoooooooooorei esse resumo.
    vivianee adorei teu comentário amg *-*
    linda a históriaa !
    bjbjbjbjbjbj ;*

    99 ñ é 100 !!!
    😀

  • Viviane Laine
    20/08/2011 17:07

    adoreeeeeeei esse resumo, muitooo linda história, Tião, fez muitooos sucessos, foi até para o programa do Jô, eu, moro em Traipú-AL, estudo no Colégio Normal São Francisco de Assis, e foi lá no meu Colégio que assisti esse filme,
    LEMBREM-SE: um velhinho disse: 99 ñ é 100 viu ?
    beijo ;*
    poooooooooooooooooooooooooooooor : Viviane Laine -*-*-*-*-*-

  • Esse documentario é simplesmente uma dos mais bem feitos que ja assistir mostra a realidade das pessoas como são. Parabéns a toda equipe que participaram do mesmo. Lindo mesmo fiquei emocionada ao vê uma realidade tão dura……

  • aaaaddddoooorrreeeeeiiii tudo de bom se +++++ pesssoas asssistise isto viveriamos bem melhor

  • 99 não é 100. Que lendário esse documentário.

  • syndell dos santos
    18/06/2011 15:30

    vi o documentario na escola me apaixonei e estou fazendo uma pesquisa de como as pessoas que foram tiradas do lixao estao agora .

  • thalia maria
    06/06/2011 17:51

    Amei!!!

    O filme mostra muita criatividades.Apesar de eu ser uma criança inteligente eu adoro assisti esses filmes que e muito criativo.agora eu vou fazer um trabalho que meu professor passou sobre esse filme!

  • Parabéns muito criativo

  • Rogerio Pardini
    28/05/2011 9:02

    Parabéns ao artista Vik Muniz pela iniciativa, ainda não assisti o filme, mas vi a matéria com o Serginho Groissmam no Ação, e vou correndo ainda hoje à locadora, só de ver o brilho no olhar daquelas pessoas, sendo tratadas pelo nome e como gente, já dá pra perceber a transformação que vc fez na vida delas Vik.
    Que venham outras idéias boas assim e que nos sirva de exemplo para tirarmos a bunda do sofá e fazer algo ainda que bem menor pelos outros.

  • Adorei!!!
    E através de pequenos gestos que se conquistam grandes vitorias!!!
    Através da luta, e de crermos na realização de nossos sonhos mesmo que pareçam impossíveis!!!

  • Muiito lokoooo!!!!!!!!!
    😀
    Adorei o documentarioooooooooo
    \o/

  • Manoel C.R.Lemes
    15/05/2011 19:02

    É uma obra muito bonita e de um valor inimaginável, não concordo de que o Sr Vick Muniz seja somente um aproveitador dos igenuos catadores do Gramacho. É que depois de feito um trabalho é mais fácil de criticar, porque está concretizado, antes de alguém criar podem até mencionar, mas a coragem de fazer não existe. Também para todo o poder público em geral falar em lixo é poblema e todos não fazem nada para melhorar. Ora é ridiculo valorizar lixeiros até parece que ninguém deles são cidadãos, mas na época de eleições os catadores possuem um instrumento mágico que se chama “Título Eleitoral” que faz todo o portador se tornar importante APENAS UM DIA , no de eleições.

  • tututtuttutututututtututututututututututututututututututuututuutututututututuutututuutuututututututututututututuutu

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