É realmente engraçado quando filmes como Lula- Filho do Brasil acabam por se soterrar com suas próprias qualidades, não que sejam tantas assim que tiram o foco do filme, mas sim algumas certeiras em lugares separados demais, que criam ao fim um filme desequilibrado que sobrevive graças a tão poucos pontos que por pouco não se torna um desastre.
Parte desse problema se dá logo de cara, com um trailer extremamente mal montado que parece resumir perfeitamente o filme em pouco mais de um minuto, demonstrando o quanto os outros cento e e trinta e poucos são descartáveis, e por mais que se desloque de um modo interessante entre esses “pontos principais” do filme, Fábio Barreto, parece se perder em um preciosismo inegável, como se não conseguisse se desprender de um melodrama exagerado.
O diretor (que já tem seu nome eternizado com uma indicação ao Oscar por O Quatrilho) não só mostra o quanto sabe o que está fazendo, como com isso resolve manipular completamente o espectador. Se afasta do cãozinho com sua câmera e faz o cinema inteiro chorar, ao mesmo tempo que não perceber o quanto comete erros craxos, como na morte da primeira mulher do protagonista com um médico em off protagonizando um dos momentos mais vexatórios do cinema nacional nesse ano.
Talvez a produção caprichada e a belíssima fotografia de Gustavo Hadba até se componham a favor de Barreto, mascarando bem alguns de seus escorregões, principalmente o abismo visual de seu estilo entre um começo contemplativo, meio monótono é verdade, mas ainda sim repleto de composições fortes e marcantes e do meio do filme para frente, sem inspiração, popularesco e meio desinteressante até.
Por sorte, sobre tudo isso, um elenco afiadíssimo encabeçado por Gloria Pires, como Dona Lindu, mãe de Lula e Rui Ricardo Dias como o próprio, em sua fase adulta, faz bonito e acaba sendo o melhor do filme. Cada ator, na sua maioria desconhecido, consegue carregar uma naturalidade extremamente bem vinda, que cria um simpatia imediata com o público. Dias, que tem a maior bucha nas mãos, é com certeza quem se sai melhor, cuidadoso ao não tornar seu personagem caricato e ao mesmo tempo conseguindo captar bem um jeitão Lula de ser.
No fim das contas, uma certa polêmica ainda segurará o filme, já que é lógico que Lula- Filho do Brasil é propagandista, até por que seria impossível não sê-lo já com ele explorando a impressionante luta de um personagem apaixonante, mas talvez uma certa “esquerdização” demasiada de Barreto vá prejudicar ainda mais o filme, já que cenas como na qual Lula recorre a um militar rodeado por um escuro caricato e sem sentido acabam depondo contra a credibilidade do filme. É lógico que é impossível ser a favor da ditadura e seus horrores, mas um pouco menos de exagero cairia muito melhor em uma produção que no fim das contas incomoda muito menos do que parece e que só não se tornará um sucesso, graças a péssima escolha do nome (que automaticamente afasta dos cinemas aquela fatia da população que é contra o Presidente), e da data de estréia, já que disputar bilheteria com os blockbusters de início de ano foi covardia e por que não burrice.
idem (Bra, 2010) direção: Fábio Barreto com: Glória Pires, Rui Ricardo Dias, Cléo Pires e Juliana Baroni