Uma verdadeira razão para se acreditar que as distribuidoras de filmes do Brasil não tem mais jeito é a possibilidade de se sair da locadora munido de um possível ganhador do Oscar e da melhor ficção científica do ano, ambos inéditos nos cinemas brasileiros. É bem verdade que do momento que o sensacional Guerra ao Terror passou a dar toda pinta de aparecer entre os concorrentes aos prêmios da “Academia” ele mais que rapidamente teve seu lançamento nos cinemas programado para o começo de fevereiro, o que, infelizmente, não acontecerá com Lunar.
Antes de qualquer coisa é bom lembrar que cinema, como o próprio nome já diz, é feito para ser visto nas tais “salas de cinema”, e não na sua TV (por maior e mais potente que ela seja). Cinema é um experiência de imersão em um outro mundo, seu DVD (ou agora Blue-ray) é um paleativo necessário, um pequeno pedaço que satisfaz em parte, mas nunca em seu todo. Isso pode parecer besteira filosófica, mas é exatamente onde “Lunar” tenta chegar.
O filme de estréia de Duncan Jones (filho de um certo David Bowie) opta por não ser só uma história de ficção, mas sim um convite para aquela mesma “experiêcia de imersão”. Na trama, em um futuro próximo, a Lua se torna uma fonte de um combustível limpo que revolucionou o sistema de energia da Terra. Sam Bell (Sam Rockwell) é o astronauta responsável por uma base lunar que cuida da colheita do tal “Heliun-3”, até que, perto de seu contrato de três anos acabar e ele voltar para casa, alguns acontecimentos misteriosos começam a ocorrer, fazendo com que ele comece a colocar em dúvida sua sanidade.
Mas não espere nenhum tipo de filme de terror na lua, muito menos um suspense sobrenatural, Lunar aposta, pura e simplesmente, em uma ficção-científica. O Roteiro escrito por Nathan Parker, a partir de uma idéia do próprio diretor, é tão preciso que depois de um introdução extremamente concisa simplesmente abre as portas para um mistério sufocante e que não deixa o espectador imaginar o que pode vir a seguir.
E é essa habilidade com a trama que faz Lunar tão indispensável. Sem certezas e jogando com os clichês do gênero à seu favor, é fácil o espectador durante o filme todo ficar sendo surpreendido exatamente por essas razões: por não conseguir conviver com essas “certezas” sendo quebradas. Bell está sozinho em uma base assépticamente branca bem no meio de uma imensidão de pedras cinzas (Lua), acompanhado por um robô onipresente, (e todos outros “onis”) até que encontra ele mesmo. Uma premissa repleta de possibilidades, mas que vai surpreender a todos com certeza.
O filme de Duncan Jones não cria um vilão, mas sim uma situação e o mais importante, deixa ela ser descoberta aos poucos, tanto pelos personagens quanto pelo espectador, e melhor ainda, não se preocupa em fechá-la de um jeito bombástico, deixando-a tomar o caminho previsível que ela se permite. Não só por saber de sua força (da trama em sí), mas, mais ainda, por ter a sensibilidade de saber que as vezes o melhor é simplesmente acabar o filme do jeito que ele pede.
Mas com certeza, Lunar não sobreviveria sem a maravilhosa atuação de Sam Rockwell, que além de segurar o filme inteiro com uma segurança impressionante (ele provavelmente aparece em noventa e poucos porcento dos planos do filme), ainda consegue criar uma dinâmica inacreditável, tanto com ele mesmo, quanto com o robô Gerty (que conta com a voz de Kevin Spacey). É realmente incrível o quanto o trabalho de Rockwell pula aos olhos, principalmente ao conseguir compor duas personalidades tão distintas de um mesmo personagem, sem cair em armadilhas, mas apenas com um trabalho de composição extremamente bem estruturado.
Do outro lado, Gerty (que mostra ao seu parente próximo, Hal, como uma inteligência artifical deve se portar de verdade) é não só um retrato da precisão com que toda estrutura narrativa é montada, já que ele tem um papel extremamente importante dentro dela, ao mesmo tempo que serve de isca dentro da trama, ainda mostra um trabalho precioso da equipe de arte de “Lunar”, já que compartilhou com todo resto da produção de apenas cinco milhões para fazer o filme. Tanto com seus efeitos especiais (na sua maioria maquetes e truques de câmera, o que barateia bem sem quase o tal do CGI) quanto com a imprecindível caracterização, não só do robô Gerty, que na verdade é a única coisa suja da base inteira dando-lhe assim uma sensação humana interessantíssima, como de todo resto compondo perfeitamente o cenário para esse filme sensacional.
Lunar não tem raios lazer, nem extraterrestres e muito menos naves espaciais, é uma ficção-científica para adultos, que nos faz ter saudades daquela época em que os grandes mestres do cinema se aventuravam no gênero e quase sempre optavam por criar não um filme dentro de um gênero, mas simplesmente cinema da melhor qualidade.
Moon (GB, 2009) direção: Duncan Jones com: Sam Rockwell e Kevin Spacey
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[…] Jones já tinha surpreendido a todos com seu Lunar e agora volta a fazer o mesmo com essa ficção científica cheia de estilo, surpresas, ótimas […]